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Imposto sobre chamadas no WhatsApp mobiliza milhares de manifestantes no Líbano

18 out, 2019 - 12:31 • Marta Grosso

Depois de declarado o estado de "emergência económica", Governo libanês procura a todo o custo maneiras de reduzir o défice, mas já voltou atrás na medida. Dezenas de pessoas ficaram feridas nos protestos.

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A taxa anunciada sobre as ligações telefónicas feitas via VoIP (Voice over Internet Protocol) foi a gota de água para os libaneses. Na quinta-feira saíram à rua, milhares de pessoas mobilizaram-se num dos maiores protestos já vistos no país e o segundo em menos de um mês.

“A culpa é do Estado”, aponta um libanês à agência Reuters. “Sou casado, tenho hipotecas para pagar todos os meses e não tenho emprego.”

O Líbano vive uma grave crise económica e financeira. Dívidas altas, crescimento estagnado, infraestruturas em ruínas, fraca entrada de capital e ainda uma moeda (libra libanesa, atrelada ao dólar há duas décadas) sob pressão.

É um dos Estados mais endividados do mundo e o Governo já declarou o estado de "emergência económica" e tenta por tudo obter receita para colmatar o défice.

Uma das últimas medidas anunciadas fez explodir a tensão social latente: 20 cêntimos por dia pelas ligações feitas via aplicações como WhatsApp, Facebook e FaceTime.

"Não estamos aqui pelo WhatsApp, estamos aqui por tudo: por combustível, comida, pão, por tudo", esclareceu um manifestante em Beirute.

Centenas de pessoas saíram à rua em todo o país para protestar. Certo é que, passado duas horas, o Governo revogou a taxa sobre as chamadas telefónicas pelas aplicações.

Mas esta é uma população sob pressão e economicamente estrangulada. E os protestos não pararam, levando a confrontos com a polícia.

Na capital, já esta sexta-feira, os manifestantes bloquearam estradas com pneus em chamas e as forças de segurança responderam com gás lacrimogéneo. Dezenas de pessoas ficaram feridas, segundo a Cruz Vermelha. As forças de segurança interna acrescentam 60 policiais feridos.

Os protestos eclodiram sobretudo em Beirute, nos subúrbios do sul, na cidade de Sidon, na cidade de Trípoli e no Norte do vale de Bekaa, informa a Agência Nacional de Notícias.

"O povo exige a queda do regime"

As palavras de ordem foram usadas durante a Primavera Árabe de 2011 e voltaram a ouvir-se agora contra uma classe política que está ao leme do país desde 1975, quando eclodiu uma guerra civil no país que duraria 15 anos.

"Elegemo-los e vamos removê-los do poder", promete um manifestante a uma emissora local de televisão.

A revolta entre os libaneses aumentou desde que o Parlamento aprovou um Orçamento de austeridade em julho, com o objetivo de reduzir o défice crescente do país.

A situação piorou em setembro, depois de os bancos e outras instituições financeiras terem começado a racionar as vendas em dólares, alimentando receios de uma desvalorização da moeda.

Para um futuro próximo estão várias medidas em análise, medidas de austeridade para garantir ajuda dos doadores internacionais, entre as quais, aumentos de impostos adicionais nos próximos meses para o Orçamento de 2020.

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