09 out, 2019 - 14:04 • Redação
Devido ao tempo que dedica à investigação, Helena Braga está grande parte do ano longe do Porto, nomeadamente em Austin, nos Estados Unidos. A publicação de um artigo sobre um eletrólito patenteado em Portugal valeu-lhe a atenção de várias empresas pelo mundo, mas acima disso a curiosidade de John B. Goodenough, que esta quarta-feira e aos 97 anos se tornou no mais velho laureado de sempre, ao ser distinguido, juntamente com dois colegas, com o Nobel da Química.
Em entrevista à Renascença, a professora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) começa por confessar que conhecer o cientista, considerado o pai das baterias de ião-lítio, nunca passou de uma "miragem", até ao dia em que se tornou realidade.
"Tivemos a oportunidade de testar o eletrólito no laboratório, ele gostou do que viu e pediu para ver mais. A partir daí começámos a aplicar o eletrólito em novas baterias" , explica a investigadora.
"O sol é gratuito e não destrói o ambiente." É este o fundamento primordial do trabalho levado a cabo pela equipa de investigação de Goodenough, esta quarta-feira distinguida pelo comité Nobel. As baterias de ião-lítio são recarregáveis, captam muito mais energia e são amigas do ambiente.
Atualmente, as baterias de lítio são populares no mundo inteiro e indispensáveis no dia a dia da civilização ocidental. Estão presentes nos telemóveis, computadores, tablets, câmaras fotográficas e até drones. Apesar de existirem no mercado desde os anos 1980, graças ao trabalho de Goodenough e de outros cientistas, só este ano é que o prémio de reconhecimento chega às mãos de três dos inventores.
"Ativo e jovem" aos 97 anos
Goodenough tem 97 anos, mas Helena Santos afirma que o cientista é a prova viva de que a idade não passa de um rótulo.
"É uma pessoa extremamente ativa e jovem, com uma vontade gigante de completar projeto após projeto. Se parar de trabalhar, deixa de ter as capacidades que tem. Acorda todos os dias muito cedo para ir trabalhar e é assim que se mantém focado no que ainda há para fazer."
Esta manhã, a reação de Goodenough ao prémio Nobel foi captada em primeira mão pela professora portuguesa, que acabou por ser a pessoa que lhe deu a notícia.
"Fui eu que o acordei", revela. "Os meus filhos estavam a assistir à entrega em direto, ligaram-me e eu imediatamente contactei-o. Ele estava incrédulo e confirmou vinte vezes o nome dele no telemóvel."