07 out, 2019
O PS não conseguiu ontem uma maioria absoluta. Aumentou o número dos seus deputados – foi mesmo o único partido de geringonça 1 que beneficiou eleitoralmente. Mas, agora, António Costa precisa de um novo apoio à esquerda, que garanta estabilidade governativa. O PCP, em declínio, não parece encantado com a ideia, ao contrário do Bloco de Esquerda, que está aberto a tudo, desde que tenha influência na governação.
O PS pode ainda contar com o apoio de quatro deputados do PAN e um do Livre. O mais provável será um acordo com o BE – mas vai ser bem mais difícil de negociar do que o acordo de há quatro anos.
Convertido às “contas certas” e a uma fidelidade total às metas orçamentais da UE, o futuro governo do PS não será capaz de ir longe no combate à degradação dos serviços públicos (sobretudo na área da saúde e dos transportes públicos), nem à correção das desigualdades. O crescimento da economia portuguesa abranda e sobre a economia internacional pesam nuvens negras – guerra comercial, Brexit, problemas em Espanha, nosso principal parceiro económico, etc. Acresce que o explosivo aumento do turismo em Portugal se aproxima da estabilização.
Quer tudo isto dizer que as condições económicas são agora bem mais adversas do que nos anos recentes. Por isso e porque, apoiando-se à esquerda, o novo governo PS fará tão poucas reformas de fundo como o anterior, a estabilidade proclamada por A. Costa poderá ser sobretudo estagnação. E o reforço eleitoral do PS, não tendo atingido a maioria absoluta, arrisca-se a acentuar a tendência dos socialistas para a arrogância e para se considerarem donos do Estado.
À direita a crise é evidente. Oxalá ela não leve a complacências com o populismo de extrema-direita, que chegou ao parlamento.