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Sínodo da Amazónia. Papa pede que se evitem “colonialismos” do passado

06 out, 2019 - 10:28 • Ecclesia

“Quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto!”, questionou Francisco na inauguração do sínodo dedicado ao tema: “Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

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O Papa Francisco inaugurou este domingo, no Vaticano, a primeira assembleia especial do Sínodo dos Bispos dedicada à região da Amazónia, pedindo que a Igreja Católica nunca repita “colonialismos” do passado.

“Quando, sem amor nem respeito, se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto?! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização?! Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos”, declarou na homilia da missa a que presidiu na Basílica de São Pedro, concelebrada também pelos novos cardeais, entre os quais D. José Tolentino Mendonça.

Francisco sublinhou que as populações da Amazónia carregam “cruzes pesadas” e pediu que a Igreja lhes leve “a consolação libertadora do Evangelho”.

“Por eles, pelos que estão agora a dar a vida, pelos que deram a sua vida, com eles, caminhemos juntos”, apelou.

Francisco recordou ainda o “fogo ateado por interesses que destroem”, como o que devastou recentemente a Amazónia, considerando que este “não é o do Evangelho”.

“O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”, afirmou.

Entre polémica e esperança

“Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral” é o tema escolhido pelo Papa Francisco para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos que decorre até 27 de outubro, no Vaticano.

O tema escolhido motivou críticas, particularmente por parte de responsáveis brasileiros, preocupados com questões ligadas à soberania sobre o território.



O Brasil terá a maior delegação entre os participantes no Sínodo 2019, sendo 58 bispos da região amazónica; a reunião acolhe ainda nomes como Ban Ki-moon, antigo secretário-geral da ONU, representantes de igrejas evangélicas, de ONG e povos indígenas.

Francisco disse a todos os participantes que devem abandonar um “comportamento defensivo ou “deixar as coisas correr sem se fazer nada”.

“Ser fiéis à novidade do Espírito é uma graça que devemos pedir na oração. Ele, que faz novas todas as coisas, nos dê a sua prudência audaciosa; inspire o nosso Sínodo a renovar os caminhos para a Igreja na Amazónia, para que não se apague o fogo da missão”, declarou.

O Papa defendeu que a Igreja está “sempre a caminho, sempre em saída, nunca fechada em si própria”.

“Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo «sempre se fez assim», então o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação de defender o status quo”, disse.

Depois de dizer que viver a fé e anunciar o Evangelho “é amar até ao martírio”, o Papa deu “graças a Deus porque no Colégio Cardinalício há alguns irmãos cardeais mártires”.

Francisco recordou ainda todos os missionários que “deram a vida” pela Igreja Católica, na Amazónia.

A missa, com vários momentos em latim, teve uma leitura proclamada em língua portuguesa.

A assembleia especial conta com 185 padres sinodais, 113 de circunscrições eclesiásticas pan-amazónicas (pertencentes a 7 conferências episcopais); marcam presença 13 responsáveis da Cúria Romana, 15 religiosos eleitos pelo superiores gerais e 33 membros nomeados por indicação pontifícia.

Como habitualmente, há seis delegados que representam outras igrejas e comunidades cristãs presentes no território pan-amazónico; 12 convidados especiais como cientistas, peritos no setor do meio ambiente e outras disciplinas; 25 especialistas indicados pelas suas competências especificas.

A região tem uma extensão de 7,8 milhões de km2, incluindo áreas do Brasil, Bolívia, Perú, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; dos seus cerca de 33 milhões de habitantes, 3 milhões são indígenas pertencentes a 390 grupos ou povos.

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