Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

​Tancos. Azeredo Lopes soube que autores do furto estavam dispostos a entregar as armas

02 out, 2019 - 22:23 • Lusa

Afirmação do ex-ministro da Defesa consta do interrogatório judicial. Azeredo Lopes negou que tivesse transmitido ao primeiro-ministro a revolta e o inconformismo do diretor da PJM.

A+ / A-

O ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes admitiu no interrogatório judicial do caso de Tancos que teve conhecimento da existência de um informador e que os autores do furto das armas estavam dispostos a entregar o material.

De acordo com o processo consultado pela Lusa, e na parte que diz respeito ao achamento das armas, Azeredo Lopes relatou que o seu chefe de gabinete, tenente-general Martins Pereira, lhe disse que havia um informador do Algarve, conhecido por “Fechaduras” [Paulo Lemos], que dava informações à Polícia Judiciária (PJ) e à Polícia Judiciária Militar (PJM), e que tinha indicações que os autores do furto estavam dispostos a entregar as armas, mas que teria de ser feito um telefonema simulado da margem sul do Tejo por elementos da PJM a dar conta da localização do material.

Admitiu ainda que sabia que este informador não podia ser identificado por ter medo.

O ex-ministro disse também que Martins Pereira o informou que o ex-diretor da PJM Luís Vieira tinha consigo documentos com informações, mas que estes tinham de ser destruídos.

Luis Vieira, acusado neste processo dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas, falsificação de documentos, denegação de justiça, prevaricação e favorecimento pessoal, sempre foi um veemente opositor de que o furto das armas fosse investigado pela PJ, tentando por várias vezes e com várias pessoas que o caso ficasse debaixo da alçada da PJM.

Azeredo Lopes negou que tivesse transmitido ao primeiro-ministro a revolta e o inconformismo do diretor da PJM, apenas admitindo que lhe deu a ideia de que havia desagrado por parte da PJM.

O ex-ministro esclareceu mesmo que, em questões de Defesa, o seu interlocutor mais frequente era o Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas.

Em setembro, a Renascença avançou que Azeredo Lopes terá tentado ganho político com recuperação das armas. A tese do Ministério Público é que o então ministro da Defesa soube de toda a encenação montada pela Polícia Judiciária Militar para recuperar o armamento de Tancos.

Um mês após o furto das armas [4 de agosto], Azeredo Lopes recebeu Luis Vieira no seu gabinete e na presença do seu chefe de gabinete, Martins Pereira.

Na ocasião, disse ter recebido do diretor da PJM um documento timbrado e assinado por este, relativo ao mal-estar da PJM face à intervenção da PJ nas investigações, mas que o mesmo não deu entrada oficial no seu gabinete por não reunir os critérios necessários, segundo a avaliação feita por Martins Pereira.

Quanto ao dia do achamento das armas [18 de outubro de 2017], Azeredo Lopes recebeu uma chamada telefónica da então Procuradora Geral da República Joana Marques Vidal a relatar que considerava que a PJM militar não tinha respeitado a delegação de competências na investigação do furto de Tancos e que estava muito desagradada com a situação, estando a ponderar fazer uma participação para efeitos da instauração de processos.

Neste processo foram constituídos 23 arguidos, sendo que nove foram acusados de planear e executar o furto do material militar dos paióis nacionais de Tancos e os restantes 14, entre eles o ex-ministro Azeredo Lopes, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+