02 out, 2019
É séria a ameaça do populismo à democracia liberal, representativa. Mas não se justifica o pessimismo dramático com que muita gente encara o futuro deste regime político.
O passado mostrou-nos a capacidade da democracia liberal para recuperar, depois de ter sido considerada um regime obsoleto. Os totalitarismos “modernos” - nazismo, fascismo, comunismo – foram derrotados no século XX e a democracia liberal regressou em força.
Claro que é preocupante que o mais poderoso país do mundo, os EUA, seja hoje presidido por Trump, que não é apreciador da democracia representativa. Mas, mesmo aí, o processo de destituição do presidente, se provavelmente será bloqueado no Senado pelos republicanos, tem vindo a ser apoiado por cada vez mais americanos, dizem as sondagens.
Inquietante, também, é a proximidade de vários movimentos de extrema-direita ao autoritário Putin – como é o caso de Salvini, Marine Le Pen, V. Orban, etc. Como é grave que a tendência autoritária, não democrática, se faça sentir um pouco por todo o mundo: no Brasil, nas Filipinas,
na China…
Mas na Europa há sinais de algum recuo do populismo. Pelo menos, ele já não está a avançar, como notava há dias o britânico Guardian. Na Áustria a extrema-direita teve no domingo passado 16% dos votos, menos dez pontos de percentagem do que nas eleições anteriores. E é possível que este partido não vá para o governo, sendo substituído pelos verdes.
Há outros casos. Na Itália, Salvini está afastado do poder, pelo menos para já. Na Alemanha a extrema-direita ganhou apoiantes, mas foi derrotada nas duas últimas eleições estaduais. Em França, o presidente Macron parece ter superado uma fase muito difícil (os coletes amarelos) e voltou a estar à frente de M. Le Pen nas sondagens. E em Espanha o Vox, depois de um início fulgurante, está em queda nas sondagens. O mesmo se passa com o partido populista de extrema-direita na Holanda.
É verdade que o autoritarismo de direita persiste na Hungria e na Polónia. Mas não na Eslováquia, onde foi eleita uma presidente liberal. E na República Checa o eurocético presidente Milos Zeman enfrenta os maiores protestos desde a queda do comunismo.
A guerra política não está ganha, decerto, mas a derrota da democracia liberal não é inevitável.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus