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1932-2019

Jacques Chirac, o político dos sete ofícios

26 set, 2019 - 13:24 • José Bastos

Foi durante décadas uma das principais figuras da política francesa. Morreu esta quinta-feira, aos 86 anos.

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Chirac, o homem que marcou a política de França – e do mundo
Chirac, o homem que marcou a política de França – e do mundo

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Nascido em Paris em 1932, o conservador Jacques Chirac foi Presidente da República em dois mandatos: desde 1995 até 2002 e depois de reeleito entre 2002 e 2007 numa eleição ainda hoje alvo de estudo dos politólogos. Chirac também foi presidente do município de Paris entre 1977 e 1995 e duas vezes primeiro-ministro.

Em 2002, na segunda eleição presidencial, Chirac enfrentou o líder da extrema-direita Jean-Marie Le Pen. Face ao receio de uma vitória do candidato da Frente Nacional, as forças políticas de esquerda e direita moderada apelaram ao voto em Jacques Chirac garantindo-lhe mais cinco anos no Eliseu.

A trajetória pública de Chirac teve como padrinho político o primeiro-ministro Georges Pompidou em 1962. Depois da morte de Pompidou em 1974, Chirac foi pela primeira vez primeiro-ministro na presidência de Valéry Giscard D’Estaing e criou o partido gaulista RPR (Rassemblement pour la Republique) transformando-o numa temível máquina eleitoral e disputando o espaço conservador com a UDF, mas acabando por coligar-se nos anos do socialista Mitterrand.

Com Mitterrand a presidente Chirac elevou o termo “coabitação” a novo patamar político em guerra aberta com o histórico presidente socialista. Mais tarde como presidente Chirac haveria de protagonizar uma “segunda coabitação” com Édouard Balladur. A “terceira coabitação” seria com Lionel Jospin a primeiro-ministro depois da vitória da esquerda pluralista.

Chirac apoiado nos deputados mais jovens do RPR, defende a criação de um novo partido a resultar da fusão de forças do centro-direita, o UMP que vence com maioria as legislativas seguintes. Chirac de novo com maioria projetava figuras como Jean-Pierre Raffarin, primeiro-ministro ou o seu mediático ministro do interior Nicolas Sarkozy.

No plano internacional os seus mandatos ficam marcados pelo “não” de Chirac à invasão dos Estados Unidos ao Iraque em 2003, o reconhecimento da responsabilidade do Estado francês em crimes de guerra nazis e por ter protagonizado um dos primeiros alertas face à crescente degradação do meio ambiente.

No cenário pós-11 de setembro, Chirac tornou-se o principal opositor de George Bush na Europa e tentou assumir-se como o centro de um “mundo multipolar”, ameaçando com o veto na ONU. As relações com os Estados Unidos de Bush degradaram-se consideravelmente e só começaram a normalizar-se com a comemoração do desembarque aliado na Normandia.

Afastado há muito da vida pública, Chirac foi condenado em 2011 a dois anos de prisão com pena suspensa por “abuso de confiança, desvio de fundos públicos e prevaricação”. O caso envolvia a criação de postos de trabalho fictícios no município para financiar o RPR, antigo partido de Chirac enquanto autarca.

O estado saúde de Chirac agravou-se significativamente desde dezembro de 2011. Em 2016 a imprensa francesa dava conta da surpresa de antigos colaboradores face à reduzida mobilidade do antigo presidente e dos graves problemas de memória que enfrentava. Chirac morreu hoje aos 86 anos “entre os seus familiares”, na declaração do genro Fréderic Salat-Baroux à France Presse.

Numa das primeiras reações de altas figuras do estado francês, Richard Ferrand, presidente da Assembleia Nacional, disse que Chirac “forma parte da história de França”. Longe de ser consensual de Chirac fica o registo da personalidade de assinalável instinto político, um perfil quase camaleónico do homem que conteve Mitterrand, derrotou Le Pen e desafiou Bush. Não é pouco.

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