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Um "LabOratório" de música e oração

09 set, 2019 - 14:42 • Ana Catarina André

Textos da Liturgia das Horas, mas também poesias de Sophia de Mello Breyner e Daniel Faria. Conferências sobre a mística de Bach, espiritualidade e música eletrónica e workshops de canto, composição e direção musical. Durante nove dias, 48 jovens participaram numa formação intensiva de música litúrgica organizada pelos jesuítas.

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No convento de São Domingos, em Lisboa, multiplicam-se os ensaios e as experiências criativas. Numa das salas do piso térreo, um grupo de jovens deitou-se no chão, de barriga para cima, para fazer exercícios vocais. Noutra divisão, dão-se sugestões sobre sonoridades e criam-se novas músicas. Mais adiante, treina-se direção musical, canto e instrumento.

Ao todo foram 48 os jovens, entre os 15 e os 35 anos, que entre 31 de agosto e 8 de setembro participaram no "LabOratório", uma iniciativa promovida pela Companhia de Jesus para promover a criação de música litúrgica. A semana de formação intensiva culminou com um concerto aberto ao público, onde foi o apresentado o trabalho da semana.

“Esta é uma proposta que procura juntar arte, espiritualidade e liturgia“, explicou à Renascença o padre Miguel Pedro Melo, um dos responsáveis pela iniciativa.

“Moveu-nos - a mim e aos padres Rui Fernandes e Duarte Rosado, que esboçámos este projeto - a ideia de que a música litúrgica não tem de ser de um estilo único para louvar a Deus. Nós [cristãos] louvamos, inclusivé, um Deus que são três pessoas e portanto a diversidade já lá está”, acrescenta. Uma heterogeneidade que procuraram espelhar no horário que, ao longo da semana, guiou os participantes.

Quem participou aprendeu a compor, a cantar, tocar e a dirigir um coro, através de diferentes estilos musicais. Além de "workshops" mais técnicos, houve conferências sobre temas tão distintos como a mística de Bach, a teologia do fado, o Natal de Sufjan Stevens ou espiritualidade e música eletrónica. Tudo assente em três momentos principais de oração comunitária.

Ainda que o programa contemplasse momentos em conjunto, cada jovem pôde integrar "workshops" mais específicos, ao longo da semana. “Criámos vários grupos: o 'Labcria' para compositores, o 'Labmaestro' para pessoas que habitualmente dirigem coros, o 'Labtoca’ para instrumentistas, e o ‘Labcanta’ para cantores”.

Independentemente de terem formação musical - o "LabOratório" foi uma iniciativa aberta a todos - cada participante escolheu a área que queria desenvolver. Miguel Leitão e Lourenço Saraiva, ambos de 20 anos, inscreveram-se no "Labcria".

“É uma oportunidade para ligar mais a criação musical à liturgia”, diz Miguel, lembrando que muitas vezes “as músicas na missa repetem-se constantemente. É preciso inovar”.

Jazz ou música clássica?

Para Lourenço, trata-se de recorrer à composição e à criação musical para chegar a Deus. “Para algumas assembleias, Bach pode ser a melhor escolha. Para outras, as inspirações podem variar e podemos usar o jazz a nosso favor”, diz, explicando que, no seu caso, o ‘LabOratório’ é uma resposta a uma “necessidade de formação que tem sentido”. E acrescenta: “uma das perguntas que aqui se faz muito é: ‘como leio a relação entre a oração e a música?’”.

Alguns dos que participaram cantam habitualmente na missa, mas sentiram necessidade de ter formação e aperfeiçoar o que já fazem. É o caso de Mafalda Martins, de 25 anos. “No meu caso específico, fazendo parte de algumas comunidades de jovens, e animando algumas celebrações de Domingo, senti alguma responsabilidade e também uma vontade em querer melhorar”, conta.

Esta foi a segunda edição do "LabOratório. A primeira realizou-se em 2017, no Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso, mas a ideia começou a ganhar forma há quase uma década.

“O padre António Valério, atual diretor do Apostolado da Oração e, na altura, diretor do centro universitário dos jesuítas em Braga, desafiou-nos [aos três padres que criaram o ‘LabOratório’] para cantarmos uma missa de Advento, e fazermos algumas músicas. A partir daí, começámos a conversar mais sobre o tema. Até que ponto a música litúrgica necessita que a reforma iniciada pelo Concílio Vaticano II continue? Até que ponto se deve recuperar este desejo comunitário de refazer e de seguir num caminho de renovação?”, recorda o padre Miguel. E aos poucos foi nascendo o projeto.

Os resultados do primeiro "LabOratório" foram reunidos num livro (o "Livro Cinzento") que serviu de base de trabalho para esta segunda edição. As criações desta semana de trabalho deverão ficar em breve disponíveis na Internet.

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