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Bolsonaro culpa ONG por incêndios na Amazónia. Organizações acusam-no de "irresponsabilidade"

22 ago, 2019 - 07:03 • Redação

O Observatório do Clima acusa o Presidente brasileiro de "irresponsabilidade", "autoritarismo e fanatismo ideológico", depois de este ter culpado as ONG pelos fogos que já destruíram mais de 72 mil hectares da floresta amazónica. Especialistas falam em "perda irreparável".

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O Observatório do Clima, que reúne cerca de 50 organizações não-governamentais (ONG) ambientais do Brasil, diz que a "irresponsabilidade" de Jair Bolsonaro perante o "património brasileiro", "a saúde da população amazónica" e "o clima do planeta" se reflete "no recorde de queimadas no país".

A Amazónia tem sido palco da maior devastação florestal das últimas três décadas. Só este ano já arderam mais de 72 mil hectares de floresta.

"A combinação de autoritarismo e fanatismo ideológico do Presidente e do seu ministro do Ambiente transformam em fumo não apenas as árvores da Amazónia e a reputação do Brasil, como o bem-estar de uma população que o Governo federal deveria proteger e o nosso acesso a mercados internacionais e a investimentos", lê-se no comunicado publicado no site do grupo.

"As queimadas são apenas o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do governo de Jair Bolsonaro e de seu ministro do Meio Ambiente, o improbo Ricardo Salles, que turbinou o aumento da taxa de desmatamento no último ano", acrescenta a coligação de ONG.

Bolsonaro diz que ONG são as culpadas

O comunicado surge horas depois de o chefe de Estado brasileiro ter culpado as ONG pelos incêndios na floresta amazónica, acusando-as de o terem feito com o objetivo de embaraçar o seu Governo, que lhes cortou o financiamento.

Bolsonaro não apresentou provas que apoiassem a acusação, acrescentando que "não tinha nada escrito", porque "não é assim que estas coisas são feitas".

"O crime existe, e isso aí nós temos que fazer o possível para que esse crime não aumente. Dos repasses de fora, 40% ia para as ONG. De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro", disse Bolsonaro, à saída do Palácio da Alvorada, em Brasília.

“Então, pode estar havendo, sim, pode, não estou afirmando, ação criminosa desses 'ongueiros' [pessoas que trabalham em ONG] para chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o Governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, acrescentou.

O chefe de Estado brasileiro voltou a afirmar que as ONG que atuam na proteção do ambiente no Brasil estariam ao serviço de "interesses estrangeiros", acreditando que poderiam fazer parte de um alegado plano orquestrado para o prejudicar.

"Perda irreparável"

Os especialistas ambientais estão pouco confiantes na recuperação das áreas ardidas na Amazónia. Para Jerônimo Sansevero, professor do Departamento de Ciências Ambientais do Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a "perda é irreparável".

"Alguns traumas a gente consegue superar, mas outros têm um impacto tão grande que você não consegue voltar ao que era antes", explica o especialista à BBC News Brasil.

Resiliência é a palavra-chave para os ambientalistas, já que a capacidade de recuperação depende da agressividade do impacto das queimadas.

"Estamos falando de uma menor parte que conseguiria se recuperar em 20 anos. As outras áreas já perderam essa capacidade porque já têm desmatamento em larga escala", acrescenta Sansevero.

#PrayForAmazonas no Twitter

A hashtag #PrayForAmazonas está entre os assuntos mais comentados no Twitter, a nível mundial, desde quarta-feira. Chegou mesmo a ocupar o primeiro lugar, com centenas de milhares de publicações sobre o tema.

O estado do Amazonas já decretou emergência no Sul e na capital Manaus e o governo do Acre declarou, na sexta-feira passada, estado de alerta ambiental, também devido aos incêndios.


Queimadas aumentaram 82%

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com base em imagens de satélite, indicam que as queimadas no Brasil aumentaram 82% de janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018.

Na segunda-feira, uma nuvem de fumo produzida por queimadas no Paraguai, Bolívia e também na região amazónica dentro do território do Brasil, transformou o dia em noite na cidade de São Paulo, onde o céu pareceu escurecer pouco depois das 15h00 locais.

Bolsonaro, cético auto-proclamado em relação às questões ambientais, já demonstrou várias vezes vontade em explorar economicamente a Amazónia, tendo dito, esta quarta-feira, que o Governo está a trabalhar para controlar a situação.

Quando questionado acerca da dimensão dos incêndios, Bolsonaro rejeitou críticas, explicando que é a "época das queimadas", quando os agricultores usam o fogo para limpar os terrenos.

Precupadas com a diminuição da mancha florestal no último ano, a Noruega e a Alemanha suspenderam o financiamento de projetos para controlar a desflorestação no Brasil, no início de agosto.

Comentários
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  • joana dias
    22 ago, 2019 guarda 14:32
    Como é que o Brasil votou nesta coisa?
  • Ribeiro
    22 ago, 2019 Queluz 14:12
    Este Bolsonaro é um zero à esquerda
  • Filipe Rui
    22 ago, 2019 Funchal 12:10
    Bolsonero em todo o seu terror.

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