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Armando Oliveira

Apostolado do Mar. "Somos a família do mar a nível nacional”

14 ago, 2019 - 07:39 • Ângela Roque

Primeiro leigo à frente do "Apostolado do Mar", Armando Oliveira fala da importância desta obra da Igreja que, em Portugal, apoia os pescadores e as suas famílias desde 1935. Em entrevista à Renascença, fala ainda das festas em honra de Nossa Senhora do Rosário de Tróia, que decorrem entre 17 a 19 de agosto.

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Armando Oliveira é diretor do "Apostolado do Mar" desde 2017. É o primeiro leigo no cargo, que até essa altura tinha sido sempre assumido por um sacerdote. “Foi o D. António Vitalino [bispo emérito de Beja] que me fez o convite. Depois, a Conferência Episcopal Portuguesa nomeou-me como diretor e eu aceitei, porque é uma missão, é um serviço que eu gosto de fazer”, começa por contar à Renascença.

Antes de ser diretor, já era membro do "Apostolado do Mar", na paróquia de São Sebastião, em Setúbal, a que pertence. E, apesar de não ser pescador, sempre teve ligações a esta atividade. “A minha família, os meus tios e o meu pai, era tudo gente pescadora, e estou ligado ao mar no dia-a-dia”.

Armando Oliveira conhece bem as necessidades e fragilidades de quem faz da pesca a sua vida e tem na fé um suporte fundamental: “Sempre que fazemos um retiro, que pode juntar 300 pessoas, ou uma reunião ou encontro nacional, onde chegam a estar 400, vejo como os pescadores ali estão. Vão à busca de qualquer coisa, como a gente costuma dizer, vão ‘carregar baterias’ para o resto do ano”.

Assim, considera "muito importante" que a Igreja tenha um serviço dedicado aos homens do mar, um setor que atravessa “muitas dificuldades”, e está “muito envelhecido”.

“Se este movimento se perder, a Igreja perde muito, e as pessoas também”, porque a fé “é muito importante” para os pescadores e para as suas famílias.

“Até podem não ser muito assíduos na Igreja, mas têm a sua fé e, quando há as festas populares em cada região, em cada zona piscatória, a gente vê como vivem aqueles momentos. Mesmo os que não vão muito à Igreja estão ali, a agradecer a Nossa Senhora tudo o que lhes deu, e pedem a sua proteção, porque esta vida é um bocadinho arriscada”, diz.

Ao longo do ano, o "Apostolado do Mar" promove várias atividades. “Em cada setor onde está localizado, todos os meses há uma reunião, uma noite oração e uma eucaristia. Eu vou às localidades, às praias, reunir com eles, saber quais são as dificuldades, e de vez em quando fazemos umas catequeses para eles trabalharem durante o ano. É assim que vamos acompanhando”, explica.

Tróia celebra Nossa Senhora do Rosário, "a festa de todos os pescadores de Setúbal”

Ligado à paróquia de São Sebastião, em Setúbal, Armando Oliveira fala com orgulho da festa religiosa que se aproxima, em honra de Nossa Senhora do Rosário de Tróia, de 17 a 19 de agosto. “É a maior festa da cidade de Setúbal, com quase 500 anos, que reúne todos os pescadores daqui. A paróquia de São Sebastião está à frente desta festa há 150 anos.”

“Há sempre centenas de pessoas à espera de Nossa Senhora e a agradecer, e os pescadores participam todos. Reúne à volta de 150, 160 embarcações, tanto de pesca como de recreio. As pessoas enfeitam os seus barcos e participam naqueles três dias. Eu costumo dizer que são as férias dos pescadores de Setúbal”, relata à Renascença.

Os peregrinos “vão agradecer a Nossa Senhora e fazer as suas promessas”, e quando o círio regressa a Setúbal há muita emoção. “Veem-se muitos de lágrimas nos olhos, e as pessoas em terra, as famílias de pescadores, e não só, a acenarem e a agradecerem a Maria”.

O programa das festas arranca com o Tríduo em honra de Nossa Senhora do Rosário de Tróia, de 14 a 16 de agosto, às 21h30, na igreja de São Sebastião, em Setúbal. Dia 17 será celebrada uma missa “em honra dos marítimos falecidos”, seguida de procissão em direção à capela na peninsula de Tróia. “Fazemos o cortejo até ao mar, e depois as imagens entram dentro das embarcações e são transportadas de Setúbal para Tróia”, explica Armando Oliveira.

Nessa mesma noite haverá procissão das velas pela praia, numa tradição relativamente recente. “Foi há 5 ou 6 anos que começou, antes não existia. Foi num dia 12 de Agosto, estava a ouvir a celebração em Fátima e sugeri que começássemos também a fazer uma procissão das velas. Foi assim que começou, e há-de continuar por muitos anos”, acrescenta.

Ainda de acordo com o programa das festas, no domingo, 18 de agosto, haverá missa seguida de nova procissão pela praia, e à tarde realiza-se um concurso de "Barcos Engalanados". Para dia 19 está prevista uma eucaristia “por alma dos pescadores falecidos, e seus familiares”, e às 17h15 decorrerá o ‘Círio Fluvial para Setúbal’, momentos todos eles muito participados. “Há pessoas que vão de propósito de Setúbal para assistir à missa de domingo, e depois depois regressam novamente a Setúbal. E na segunda-feira também acompanham o Círio pelo mar”, explica Armando Oliveira.

Um serviço pastoral a caminho do centenário

O atual mandato de Armando Oliveira à frente do "Apostolado do Mar" termina em 2020, mas o responsável continua disponível. "Enquanto puder servir a Igreja, e que o Senhor me peça para a missão que for, estou disponível”.

Um dos seus objetivos é alargar este serviço pastoral. “Estou a tentar que haja outras localidades que entrem. Eu costumo dizer que somos a família do mar a nível nacional”, sublinha.

Ativo em mais de 300 portos, em todo o mundo, o "Apostolado do Mar" existe em Portugal desde 1935 e está presente nas zonas piscatórias de Viana do Castelo, Caxinas, Aveiro, Buarcos, Nazaré, São Martinho do Porto, Peniche, Sesimbra, Setúbal (paróquias da Anunciada e de São Sebastião) e Fuzeta.

O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, do Vaticano, já convocou para 2020 em Glasgow, na Escócia, o 25.º Congresso Mundial do "Stella Maris – Apostolado do Mar". Foi precisamente ali que há 100 anos nasceu esta Obra Internacional Pontifícia da Igreja Católica que acompanha os profissionais ligados à atividade marítima, particularmente no setor da pesca, prestando assistência social, mas também moral e espiritual aos pescadores e às suas famílias.

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