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Greve dos motoristas

Advogado dos motoristas culpa Governo pelas filas nas bombas de gasolina

08 ago, 2019 - 21:23 • Redação com Lusa

Pardal Henriques garantiu também que a Antram, representante dos patrões, tem até sábado para “apresentar uma contraproposta” que evite a greve dos motoristas.

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O advogado do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), Pedro Pardal Henriques, disse esta quinta-feira à noite que os plenários de trabalhadores no sábado são a "última oportunidade" para a Antram apresentar uma proposta que cancele a greve dos motoristas. "Será até a essa hora [15h00], nesse plenário, a última oportunidade que a Antram tem para dizer 'meus senhores, vamos apresentar uma contraproposta para evitar esta greve'", afirmou Pedro Pardal Henriques em conferência de imprensa no seu escritório, em Lisboa.

No sábado realiza-se um plenário do SNMMP, em Aveiras de Cima, Lisboa, no qual “vão ser discutidos assuntos importantes do mundo laboral”, segundo Pardal Henriques.

O Governo decretou na quarta-feira serviços mínimos entre 50% e 100% para a greve dos motoristas de mercadorias que se inicia na próxima segunda-feira, dia 12, por tempo indeterminado.

Na conferência de imprensa, Pedro Pardal Henriques acusou o Governo e a Antram (Associação Nacional dos Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias) de serem os responsáveis pelas filas de automóveis nos postos de abastecimento. "Eu queria que os portugueses percebessem que os portugueses só estão nas filas por culpa da Antram e do Governo", afirmou o porta-voz do SNMMP, que se encontrava acompanhado pelo presidente do sindicato, Francisco São Bento. "Se os senhores ministros, em vez de proferirem declarações a dizer 'vão abastecer as viaturas', tivessem ocupado esse tempo a encontrar soluções para resolver os problemas destes trabalhadores que deram origem a esta greve, não estaria ninguém nas filas neste momento", declarou Pedro Pardal Henriques.

O advogado mostrou-se também seguro de que os portugueses compreendem a greve dos motoristas. "Eu tenho a certeza de que todos os trabalhadores e os portugueses percebem esta greve, em primeiro lugar porque a greve não é por culpa dos sindicatos, mas sim por culpa da teimosia das empresas em não cumprir o que está na lei”, declarou Pardal Henriques aos jornalistas, considerando que “os portugueses podem rever-se” nos motoristas.

O porta-voz do SNMMP garantiu que os sindicatos não vão "violar a lei" e que "os motoristas cumprem a lei, ao contrário das outras partes". "O Governo não está a cumprir a lei ao violar os serviços mínimos decretando-os como serviços máximos, a Antram não está a cumprir a lei", considerou Pardal Henriques.

O advogado disse não compreender como é que a Antram, que "teima em não cumprir a lei" e em não "aceitar nenhuma proposta ou contraproposta", pode "dizer que têm de ser estes motoristas que trabalham de forma escrava que têm de ter humildade".

Antes da ronda de perguntas, o advogado leu ainda um comunicado conjunto de "Solidariedade com os motoristas de matérias perigosas e de mercadorias", que diz que a Antram "quer continuar a explorar os motoristas e restantes trabalhadores ao seu serviço com baixos salários e más condições de trabalho". O comunicado afirma ainda que "o direito à greve está a ser violentamente atacado" pelo "Governo de António Costa" e que o recurso ao Exército, às forças policiais e aos bombeiros está a "destruir um direito fundamental dos trabalhadores, consagrado constitucionalmente", e que esta prática "servirá, no futuro, para aplicar a todas as greves que possam ter algum impacto na economia".

Segundo Pardal Henriques, assinaram o documento a Casa - Associação de Defesa dos Direitos Laborais, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Sindicato dos Estivadores e da Atividade Logística (SEAL), Sindicato dos Trabalhadores do Setor Automóvel (STASA), Sindicato dos Trabalhadores dos Call Center (STCC), Sindicato de Todos os Professores (STOP), MUDAR Bancários, Sindicato dos Trabalhadores do Metropolitano de Lisboa (STMETRO) e SOS 'Handling'.

Postos de abastecimento estão preparados para responder a procura, garante Anarec

A Associação Nacional dos Revendedores da Combustíveis (Anarec) considerou hoje os serviços mínimos para a greve dos motoristas “ajustados e razoáveis”, e garantiu que os postos de abastecimento estão preparados para responder a um aumento da procura. Em comunicado, a Anarec sublinha que não contesta o direito à greve e “nem tão pouco toma qualquer tipo de posição relativamente às reivindicações dos sindicatos, ou às posições assumidas pela Antram”, mas também afirma que não pode deixar de considerar “ajustados e razoáveis os serviços mínimos decretados pelo Governo”.

A posição da Anarec sobre os serviços mínimos decretados para a greve dos motoristas é justificada pelos impactos que todos tiveram oportunidade de vivenciar com a greve de abril, quando foram estabelecidos serviços mínimos na ordem dos 40%, bem como pelo facto de esta greve ter sido convocada por tempo indeterminado”.

Ainda que tenha registado um maior afluxo de abastecimentos, sobretudo nesta última semana, a Anarec garante que os seus associados estão “preparados para a maior afluência dos consumidores finais” às bombas de combustível. Ainda assim, aproveita para apelar para que as pessoas, sobretudo as que têm de fazer viagens de longa distância, e as que necessitam de conduzir em regularidade, façam o abastecimento das viaturas de forma “organizada e sensata”.

A Anarec apela também aos sindicatos e às forças de segurança “que atuem junto dos piquetes de greve, de forma a que não volte a ocorrer o sucedido na greve de abril, e que seja respeitado o direito aos motoristas, que assim o entendam, de não fazer greve, nomeadamente no caso dos motoristas afetos às empresas associadas da Anarec”.

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  • Cidadao
    09 ago, 2019 Lisboa 10:59
    Nem os portugueses se revêem nos motoristas nem compreendem a greve. A não ser assim, teria havido um clamor de protesto quando o governo apareceu com os serviços mínimos que na pratica destroem a greve. Viu alguma movimentação nesse sentido, a não ser da imitação dos "coletes amarelos" sem qualquer expressão por cá, e declarações de circunstancia do PCP e da CGTP que em privado esfregam as mãos, por sindicatos não pertencentes à órbita deles estarem a levar à grande?

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