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Reino Unido

Alan Turing, génio matemático e herói da II Guerra, vai figurar na nova nota de 50 libras

15 jul, 2019 - 14:44 • Tiago Palma

Apesar da contribuição fundamental para a vitória dos Aliados sobre os países do Eixo durante a II Guerra Mundial, Turing foi condenado a castração química por ser gay na década de 1950. Hoje, o Banco de Inglaterra homenageia-o por ser “um gigante em cujos ombros nós nos apoiamos”.

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É uma das personagens mais importantes do século passado, isto apesar de só com a viragem para o presente ter colhido maior notoriedade e reconhecimento públicos – e para isso muito contribuiu o filme “The Imitation Game”, de 2014, sobre o lugar fundamental que Alan Turing teve no desenlace (favorável aos Aliados) da Segunda Guerra Mundial.

Turing, nascido em Londres em 1912, foi um célebre matemático britânico, mas a sua obra estende-se a variadas disciplinas da ciência, da biologia à química, sendo hoje reconhecido como o “pai” da computação moderna e da inteligência artificial.

Agora, o rosto de Alan Turing foi o escolhido, entre quase mil candidatos, para figurar, já em 2021, na nota de 50 libras. Mas não só o rosto em si: na nota, haverá também referência a vários trabalhos científicos do matemático britânico, bem como uma frase retirada de uma entrevista dada em 1949 ao “Times”: “Isto é apenas uma amostra do que está por vir, apenas uma sombra do que será”.

“Alan Turing era um matemático excepcional, cujo trabalho tem um impacto enorme na forma como vivemos hoje”, reconheceu Mark Carney, líder do Banco da Inglaterra. E foi mais longe ainda nos elogios a Turing: “Enquanto pai da ciência da computação e da inteligência artificial, mas também como um herói de guerra, as contribuições de Turing foram amplas e abriram caminhos. Turing é um gigante em cujos ombros nós nos apoiamos”.

No entanto, o lugar de Alan Turing na história do Reino Unido não foi sempre de reconhecimento e homenagem. Pese embora tenha sido Turing a chefiar a Hut 8, seção da inteligência britânica responsável, em Bletchley Park, pela criptoanálise da máquina “Enigma” e, por conseguinte, de toda a frota naval alemã – o que contribuiu de sobremaneira para a vitória dos Aliados sobre os países do Eixo –, a verdade é que, após o final da Guerra, o agora reconhecido “herói” foi perseguido e condenado pela justiça britânica.

No inverno de 1952, as autoridades britânicas foram chamadas à casa de Alan Turing para investigar um assalto. No entanto, acabariam por prendê-lo por atentado ao pudor, acusação que culminou na condenação por homossexualidade, à época ilegal no Reino Unido. A brilhante carreia académica de Turing terminava abruptamente. Mais: da condenação de Turing resultava a castração química e um “tratamento” para a homossexualidade com injeções à base de hormonas femininas, o que lhe tornaria os dias penosos (entre vários efeitos, crescer-lhe-iam seios) e humilhantes.

O matemático foi encontrado morto em casa em 1954, envenenado por cianeto, pese embora a família sempre tenha defendido que não se tratou de um suicídio, mas de um “acidente”. Tinha somente 41 anos, Turing. Só em 2013, na véspera do dia de Natal, Alan Turing recebeu o perdão real de Elizabete II da condenação a que foi sujeito.

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  • Sasuke Costa
    16 jul, 2019 11:40
    Parabéns Ethel Sara.

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