Estados Unidos

Museu Smithsonian quer adquirir desenhos de crianças migrantes para "criar sociedade mais humana"

15 jul, 2019 - 17:56 • Redação

Desenhos foram recolhidos em centros de detenção na fronteira com o México. Diretor da reconhecida instituição admite que imagens "têm valor político" face às políticas da administração Trump, mas garante que decisão de criar acervo não é política.

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No final de junho, uma equipa da Academia Americana de Pediatria (AAP) visitou a fronteira sul dos Estados Unidos, nomeadamente os centros de detenção e as instituições que acolhem temporariamente os migrantes que tentam entrar no país via México.

As conclusões foram claras: as condições são precárias e as crianças não deveriam passar sequer um minuto nestes locais. Esta notícia, contudo, não é sobre todo o relatório da AAP, mas sim sobre uma pequena mas emblemática parte dele.

Sara Goza, a presidente da associação, fotografou desenhos feitos por algumas crianças num centro humanitário da Igreja Católica americana, no Vale do Rio Grande, no Texas.

Os desenhos rapidamente se tornaram virais e simbólicos das difíceis condições que os migrantes encontram na chegada aos Estados Unidos: mostram grades, celas, pessoas deitadas no chão com cobertores e caras infelizes.

Daí a chegarem aos olhos de um curador do Museu Smithsonian foi um pequeno passo e agora a instituição está interessada em adquiri-los.

"O museu tem o compromisso de contar a complexa história dos Estados Unidos e de documentá-la à medida que se desenrola, como aconteceu a seguir ao 11 de setembro e à passagem do furacão Katrina e como faz com as campanhas políticas”, disse à NPR, rádio pública norte-americana, uma porta-voz da instituição, laura Duff.

De acordo com Duff, um curador do Smithsonian já contactou a AAP e a CNN, uma das estações televisivas que mostrou os desenhos, para iniciar “contactos exploratórios”. Soube-se entretanto que os desenhos foram feitos por crianças com entre 10 e 11 anos de idade, sendo duas delas oriundas da Guatemala. Uma terceira criança é de nacionalidade desconhecida.

Os centros de registo na fronteira são o primeiro local para onde os migrantes são reencaminhados após as autoridades alfandegárias e de proteção da fronteira os libertarem. Na maior parte das vezes ficam por lá poucas horas, antes de prosseguir viagem para se encontrarem com familiares ou outros contactos no terreno. É aqui que, pela primeira vez em solo americano, podem tratar da sua higiene, comer a sua primeira refeição quente ou trocar de roupa.

De acordo com Brent Glass, diretor emérito do Museu Nacional de História Americana do Smithsonian, a possível aquisição dos desenhos “tem algum valor político”, mas a decisão final não será política. “A nossa missão é inspirar as pessoas a conhecerem mais sobre a história americana e esperamos que possa criar uma sociedade mais humana”, declarou à NPR.

Em maio, 144 mil pessoas foram detidas na fronteira norte-americana. Um relatório feito pelo Departamento de Segurança Interna americano reportou a permanência nestes centros, durante mais de duas semanas, de crianças desacompanhadas com menos de sete anos. De acordo com a lei, deveriam ser entregues às suas famílias ou a instituições de acolhimento num máximo de 72 horas.

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