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​O estado da nação ou a "tentativa de tomar balanço para a campanha eleitoral" das legislativas

10 jul, 2019 - 00:45 • Susana Madureira Martins

É o último debate sobre o estado da Nação da legislatura e acontece esta quarta-feira. Realiza-se a escassos meses das legislativas e promete ser, ao mesmo tempo, o balanço de quatro anos de governação e um comício de quatro horas de pré-campanha eleitoral.

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Já chegou em tempos a durar mais do que um dia, mas atualmente o debate sobre o estado da Nação, com a presença do primeiro-ministro, é despachado numa tarde de discussão parlamentar. Os diversos deputados com quem a Renascença falou são unânimes em concluir que esta quarta-feira será feito o balanço da governação com cheiro a campanha eleitoral à mistura.

É o caso o deputado do PSD Duarte Pacheco que assume que neste debate são acumulados pontos para o tempo que aí vem, ou seja, "já vai estar a perspetivar-se quem é que pode estar na ‘pole position’ para o confronto do futuro".

Com as legislativas marcadas para 6 de outubro, "as pessoas têm menus de escolhas diferentes, opções políticas para fazer e isso no último debate da legislatura vai ser puxado muito por isso", conclui o social-democrata.

Mas há mais. Duarte Pacheco diz que nesta altura do campeonato "quer os comentadores quer os media fazem muito balanços na lógica da avaliação, quem é que ganhou, quem é que marcou mais golos, se alguém caiu, se ficou KO e, nessa perspetiva, todos os partidos percebem que isso vai acontecer".

Conclusão disto tudo? Ninguém pode "jogar para o empate, porque se se joga para o empate em regra perde-se, todos vão querer marcar alguns golos neste que vai ser o último jogo do campeonato".

Para o secretário da mesa da Assembleia, torna-se claro que, "daqui a dois meses, estamos em campanha eleitoral e, por isso, é natural que o que se ouviu nos últimos meses nos comícios, jantares e conferências seja transposto pelos líderes partidários para o plenário da Assembleia".

O estado da Nação, essa "espécie de debate quinzenal aditivado"

Se agora o estado da Nação não pesa tanto em horas de debate como antes, nem por isso perdeu peso político. Para Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), o formato dos últimos anos transformou esta discussão "numa espécie de debate quinzenal aditivado", mas este, por ser o último, é "o" debate sobre o estado da Nação desta legislatura.

Para o dirigente bloquista, as legislativas não vão andar longe da discussão. "Neste balanço dos quatro anos há, claramente, uma tentativa de tomar balanço para a campanha eleitoral. É mais visível nuns partidos do que noutros, mas, claramente, ninguém pode dizer que a campanha eleitoral já não começa a tomar parte do pensamento de uma parte dos atores políticos".

Em jeito de farpa ao PS, Pedro Filipe diz que isso "vê-se, por exemplo, nas opiniões dos dirigentes socialistas sobre a tal maioria absoluta que o PS anda atrás, vê-se nas apresentações dos candidatos e, por isso, há aqui uma parte do pensamento que já está a ser tomado como o balanço para as eleições".

Para os bloquistas, este é o debate do balanço dos últimos quatro anos em que participaram na solução da maioria parlamentar. É certo que não é o balanço completo, "porque há matérias que ainda estão a ser fechadas, a legislação laboral ainda está a ser votada na especialidade, a lei de bases da saúde ainda não terminou o seu processo, há por isso matérias importantes que podem alterar a qualificação" que o BE faz da legislatura.

O tabu da maioria absoluta do PS e o Governo com "tiques de maioria absoluta"

Por estes dias, é escusado usar a formulação "maioria absoluta" em qualquer pergunta que se faça a um dirigente socialista. Tirando o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, numa entrevista Renascença/Público, as duas palavras juntas queimam na boca de qualquer outro.

Vejamos o que diz João Paulo Correia, vice-presidente da bancada parlamentar do PS, quando questionado se há receio de encarar neste estado da Nação essa "maioria absoluta", ou seja, se o tema surgir durante o debate. O deputado responde que "o Governo e o PS têm de apresentar e debater tudo aquilo que foi o trabalho do Governo", ou seja, fazer o balanço da legislatura e "apresentar um programa eleitoral que renove a confiança dos eleitores no PS como a grande alternativa de governação do país".

O fantasma poderá não andar longe no debate desta quarta-feira, tendo em conta o que diz à Renascença Nuno Magalhães, o líder parlamentar do CDS, que acusa: "este Governo começa a ter, e começou a ter sobretudo no último ano, um tique de maioria absoluta que não tem, culpando os cidadãos pelos atrasos dos serviços públicos, isso é um tique de arrogância democrática que no último ano se acentuou neste Governo".

Para cada um destes dirigentes partidários o estado da Nação serve para fazer o balanço dos últimos quatro anos de governação. “Bom” para o socialista, “péssimo” para o centrista.

Se João Paulo Correia quer "pôr a nu a má oposição" e lembrar "o estado da Nação em 2015 quando este Governo assumiu funções", Nuno Magalhães quer acusar o executivo de "vender uma ilusão, o fim da austeridade", salientando, contudo, que "é verdade que recuperou e repôs rendimentos tal como estava previsto também no programa que ganhou as eleições a PAF [coligação PSD/CDS - Portugal à Frente]".

"Avançar Portugal", versão PCP

O slogan "Avançar Portugal" foi usado em 2009 por José Sócrates na campanha eleitoral das legislativas que o PS venceu com maioria relativa. O PCP chega a este debate sobre o estado da Nação com o verbo "avançar" como mote para as legislativas.

O deputado comunista António Filipe assume que nesta discussão de quarta feira será feito o balanço da legislatura com os olhos postos na próxima e essa "será decisiva para saber" se o país vai "continuar a avançar ou voltar para trás, é com isso que os portugueses estão confrontados".

É que, diz António Filipe, "faz parte desse balanço aquilo que não se traduziu em avanços e que poderia ter traduzido", dando exemplos como "a legislação laboral, maior investimento na área social, saúde e educação", acusando que "há uma série de matérias em que não se avançou porque o PS ficou preso aos seus compromissos em matéria europeia e a compromissos também com PSD e CDS".

Para os comunistas, "valeu a pena" a solução de maioria parlamentar de esquerda, houve vários avanços, mas o partido não deixa de usar a "presença no Parlamento para passar a mensagem". Fazer campanha, no fundo, em vésperas de legislativas, tal como todos os outros partidos.

Comentários
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  • João Lopes
    10 jul, 2019 10:07
    É verdade: «a economia perde ritmo para concorrentes diretos, que a dívida pública é uma bomba-relógio que pode detonar a qualquer momento, que as listas de espera nas cirurgias se mantém persistentemente altas, que a justiça continua a passo de caracol e os transportes públicos se degradaram para lá do aceitável, que o emprego que se cria é precário, mal pago e em setores pouco competitivos»: Expresso Curto de 10-07-2019.
  • ze
    10 jul, 2019 aldeia 09:25
    O estado da nação está mal,muira corrupção,muito pouco de justiça,ordenados muito baixos,pensões e reformas de miséria,saúde doente,etc etc etc.....

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