04 jul, 2019 - 22:28 • Joana Gonçalves com Reuters
As Nações Unidas garantiram, esta quarta-feira, que guardas líbios dispararam contra refugiados e migrantes que tentavam fugir de um ataque aéreo ao centro de migrantes em Tajoura, onde morreram pelo menos 53 pessoas, incluindo seis crianças.
O relatório publicado pelo Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) cita fontes locais e adianta que ocorreram dois ataques aéreos na noite de terça-feira contra o mesmo centro de detenção, um deles atingiu uma garagem vazia e outro um hangar onde estavam 120 pessoas.
“Mais de 600 refugiados e migrantes, incluindo mulheres e crianças, estavam detidos contra a sua vontade em Tajoura, no momento do ataque. Há relatos de que, após o primeiro impacto, alguns refugiados e migrantes foram atacados por guardas quando tentavam fugir”, pode ler-se no relatório.
O mesmo documento refere, ainda, que prosseguem as operações de resgate das vítimas que permanecem debaixo dos escombros. No centro de detenção de Tajoura, a leste de Trípoli, capital líbia, ainda se mantêm cerca de 500 pessoas.
Em comunicado, o Governo apoiado pela ONU responsabilizou o Exército Nacional Líbio (ENL, do marechal Khalifa Haftar) pelo ataque. Tajoura é o centro de vários campos militares das forças aliadas da Líbia, reconhecidas internacionalmente, que têm vindo a combater as forças que tentam tomar Tripoli.
Na segunda-feira, o Exército Nacional da Líbia (LNA) alertou para potenciais ataques aéreos em Tripoli, depois de terem esgotado os “meios tradicionais”. Nos últimos três meses, o LNA falhou a tomar Tripoli e na passada semana perdeu a sua maior base de fronteira, em Gharyan.
“O número de baixas civis causadas pelo conflito quase dobrou como consequência deste único ataque. Atores humanitários alertaram, repetidamente, que o regresso de refugiados e migrantes para as costas líbias e a sua detenção arbitrária em áreas inseguras, colocavam estes homens, mulheres e crianças vulneráveis em grande risco de sofrer exatamente o tipo de tragédia que ocorreu na noite passada [terça-feira, dia 2 de julho]”, adianta o mesmo relatório.
Em abril, as forças lideradas pelo marechal Khalifa Haftar, o homem forte da fação que controla o leste da Líbia e que disputa o poder político líbio, lançaram uma ofensiva contra Tripoli, onde está o Governo de Acordo Nacional, estabelecido em 2015 e reconhecido pela comunidade internacional (incluindo pelas Nações Unidas).
A Líbia é o local de partida para migrantes africanos e dos países do médio oriente que tentam chegar a Itália de barco. Milhares são retidos em centros de detenção do Governo, contrariando os apelos da ONU, que esta quinta-feira considerou o ataque um crime de guerra.