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Cristianismo sem Espírito é moralismo sem alegria, diz Francisco

09 jun, 2019 - 10:15 • Filipe d'Avillez , Aura Miguel

O Papa celebrou missa no dia em que a Igreja assinala o Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos.

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O Papa Francisco disse este domingo que sem o Espírito Santo a Igreja não passa de um moralismo sem alegria.

Na homilia que pregou durante a missa de Pentecostes, em Roma, Francisco falou da importância do Espírito para a Igreja e para os fiéis, e da forma como este garante a unidade no meio da diversidade.

“Há sempre a tentação de construir ‘ninhos’: reunir-se à volta do próprio grupo, das próprias preferências, o semelhante com o semelhante, alérgicos a toda a contaminação. Do ninho à seita, o passo é curto: quantas vezes se define a própria identidade contra alguém ou contra alguma coisa! Pelo contrário, o Espírito Santo junta os distantes, une os afastados, reconduz os dispersos.”

“Dos ‘ninhos’ às seitas é um pequeno passo, mesmo dentro da Igreja”, disse ainda o Papa, improvisando em relação ao texto preparado.

O Espírito Santo, explicou Francisco é o que dá verdadeira harmonia e paz à Igreja e aos homens, permitindo ultrapassar o mal com o bem. “Retribuindo o mal com mal, passando de vítimas a verdugos, não se vive bem. Pelo contrário, quem vive segundo o Espírito leva paz onde há discórdia, concórdia onde há conflito. Os homens espirituais retribuem o mal com bem, respondem à arrogância com a mansidão, à maldade com a bondade, à barafunda com o silêncio, às maledicências com a oração, ao derrotismo com o sorriso.”

Como exemplo, o Papa falou dos próprios apóstolos, que antes de receberem o Espírito estava recolhidos e com medo das autoridades. “O Espírito não lhes tornou as coisas mais fáceis, não fez milagres espetaculares, não eliminou problemas nem opositores. O Espírito trouxe para a vida dos discípulos uma harmonia que faltava: a Sua, porque Ele é harmonia.”

A história do Pentecostes comprova, segundo o Papa, que “a própria visão do Ressuscitado não basta; é preciso acolhê-Lo no coração”.

Outro fruto do Espírito Santo, explicou Francisco, é a paz. Mas esta não é como a imaginamos em termos humanos, disse. “A paz não consiste em resolver os problemas a partir de fora – Deus não tira aos Seus tribulações e perseguições –, mas em receber o Espírito Santo. Aquela paz dada aos Apóstolos, aquela paz que não livra dos problemas, mas, nos problemas, é oferecida a cada um de nós. É uma paz que torna o coração semelhante ao mar profundo: permanece tranquilo, mesmo quando as ondas estão revoltas à superfície. É uma harmonia tão profunda que pode até transformar as perseguições em bem aventurança.”

“Mas, em vez disso, quantas vezes permanecemos à superfície! Em vez de procurar o Espírito, tentamos flutuar, pensando que tudo ficará bem se certo problema passar, se não virmos mais tal pessoa, se melhorar aquela situação. Mas isto é permanecer à superfície: superado um problema, chegará outro; e a ansiedade voltará”, adverte Francisco.

Sem esta paz, o coração do homem vive em sobressalto. “E procura-se a solução rápida: uma pastilha atrás doutra para continuar, uma emoção atrás doutra para se sentir vivo, quando na verdade aquilo de que precisamos é sobretudo o Espírito. É Ele que coloca ordem neste frenesi. É paz na ansiedade, confiança no desânimo, alegria na tristeza, juventude na velhice, coragem na prova. É Ele que, no meio das correntes tempestuosas da vida, mantém firme a âncora da esperança.”

O Pentecostes assinala o fim do tempo pascal no calendário litúrgico.

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