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José Miguel Sardica
Opinião de José Miguel Sardica
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Mais do mesmo…e do que não se quer

29 mai, 2019 • Opinião de José Miguel Sardica


Os efeitos de rearranjo político europeu na sequência das eleições do último domingo ainda não são claros, mas algumas notas já se podem destacar.

A cada eleição realizada, num qualquer país europeu ou para o parlamento europeu, todos os que se preocupam com a democracia sustêm a respiração. Até onde chegará o populismo xenófobo e mentiroso, a extrema-direita e a extrema-esquerda ou os euro-adversários? Os efeitos de rearranjo político europeu na sequência das eleições do último domingo ainda não são claros, mas algumas notas já se podem destacar.

O europeísmo que resiste, minoritário, à sombra demissionária de abstenções gigantescas foi suficiente – por ora – para travar uma vitória dos partidos radicais, antidemocráticos, iliberais ou euro-dissidentes. Há, claro, sinais preocupantes: a vitória de Nigel Farage no Reino Unido; de Marine Le Pen, em França; de Matteo Salvini, em Itália; do Fidesz, na Hungria; e mesmo os 11% da AfD na Alemanha, os 6,2% do Vox em Espanha e a ascensão da extrema-direita na Bélgica. Sendo tudo isto verdade, também vale a pena notar que o Brexit Party é um efeito da derrocada Tory (e Labour); que a vitória europeia de Le Pen não é uma novidade, Macron não está longe e os “coletes amarelos” não chegaram a 1%; que o 5 Estrelas ficou em terceiro lugar em Itália; ou que a votação do Vox desceu. Por toda a parte – isso sim – o xadrez partidário complicou-se, com os partidos tradicionais do “centrão” a perderem muito ou pouco para pequenos partidos, entre os quais se destacam os pequenos-grandes partidos ambientalistas (como o PAN, em Portugal), cuja abrangência e realismo de agendas estão para ser demonstrados. Esta dispersão de votos vai dificultar muito a clarificação dos grupos e alinhamentos parlamentares em Estrasburgo, onde o predomínio do PPE e dos Socialistas/Democratas encolheu, ao ponto de serem necessárias “euro-geringonças”, com inevitáveis efeitos de equilibrismo frágil na composição da Comissão Europeia e na distribuição dos lugares de topo na Europa. Não devemos querer uma Europa iliberal ou euro-adversária, embora não devamos diabolizar todo o nacionalismo como sinónimo de xenofobia populista. O patriotismo e o cosmopolitismo nunca foram incompatíveis.

Curiosamente (ou talvez não), onde o “status quo” tradicional parece resistir melhor é na Península Ibérica. Os 32,8% do PSOE somados aos 20,1% do PP asseguram que, em Espanha, os velhos donos do rotativismo ainda totalizam 52,9% das preferências do eleitorado. Em Portugal, a paisagem é muito semelhante: PS, com 33,4%, e PSD, com 21,9%, ainda perfazem uma maioria absoluta de 55,3%. Penso serem casos únicos na Europa, onde a pulverização partidária parece ser a regra.

Mas que dizer da vitalidade de algumas democracias que estão dentro do sistema – como a portuguesa, felizmente – quando olhamos para a globalidade dos resultados? Para cá da fronteira, as eleições europeias significaram alguma renovação interessante? Duvido. O PS venceu, sem dúvida, apesar de Pedro Marques, mas a “moção de confiança” a António Costa é poucochinha para sonhar com a maioria absoluta em outubro. O BE subiu, sem dúvida, mas já fez melhor. O PAN, na crista da onda, poderá subir mais ainda se tiver artes para substituir o residual PEV e incomodar o minguante PCP. O resto, à esquerda, são aventuras individuais; como aventuras individuais, por ora sem grande expressão, são também, à direita, siglas novas. Isto mostra como, fora do campo socialista, que hoje monopoliza o Estado, os seus recursos, dinheiros e clientelas, é difícil mobilizar eleitorado com um projeto alternativo. Rui Rio dificilmente passará de outubro e o CDS teve, neste domingo, um banho de realidade, a convidar à modéstia. Tudo visto, nada de muito novo, portanto.


Professor da Universidade Católica Portuguesa

Comentários
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  • João José Silva Moura
    03 jun, 2019 16:27
    Sobre o que queremos para o futebol Português, o que eu penso é que deveria haver uma maior responsabilização por certos atos ,por exemplo não é de aceitar que um Treinador, Diretor seja castigado monetariamente com multas irrisórias muitas vezes inferiores ás aplicadas aos dirigentes e treinadores amadores, outras das coisas era que quem está há frente de cargos despisse a camisola e punisse exemplarmente quem tem comportamentos menos corretos, quanto Há arbitragem deveria ser punidos os que realmente (erram) tanto do var como os que estão no campo não com a ida para a jarra mas irem apitar para os campeonatos de Portugal durante pelo menos um mês conforme a gravidade do erro. Sem Outro assunto :João Moura ( Treinador de Futebol)
  • me too
    29 mai, 2019 16:17
    o prof. desconhece a história da humanidade. volta e meia a malta farta-se do que tem e que mudar. é o vira o disco e toca o mesmo