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Um Deus de surpresas, contra a tentação de voltar ao passado

05 mai, 2019 - 14:47 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

O amor de Deus é maior que qualquer limite ou pecado humano, disse este domingo o Papa Francisco, na missa que celebrou em Sófia, capital da Bulgária.

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Papa na Bulgária com apelos ao diálogo ecuménico e à atenção aos refugiados
Papa na Bulgária com apelos ao diálogo ecuménico e à atenção aos refugiados

O Papa Francisco falou este domingo de um “Deus de surpresas” para esconjurar a tentação de voltar às coisas do passado e a uma “psicologia do sepulcro”.

Na homilia da missa que celebrou em Sófia, capital da Bulgária, Francisco concentrou-se no Evangelho que narra o aparecimento de Jesus aos apóstolos, já depois da Ressurreição, quando estes vão pescar.

O ato de ir pescar, para aqueles homens, representa uma tentação que afeta todos, diz Francisco. “Na Bíblia, as redes de Pedro são símbolo da tentação da nostalgia do passado, de pretender de volta algo daquilo que se quisera deixar.”

“O peso do sofrimento, da deceção e até da traição tornara-se uma pedra difícil de remover no coração dos discípulos; sentiam-se ainda feridos sob o peso da amargura e da culpa, e a boa nova da Ressurreição não ganhara raízes no seu coração. O Senhor sabe como é forte em nós a tentação de voltar às coisas do passado”, disse Francisco.

“Perante as experiências de fracasso, de amargura e até do facto de as coisas não resultarem como se esperava, aparece sempre uma subtil e perigosa tentação que convida ao desânimo, a desistir. É a psicologia do sepulcro que tinge tudo de resignação, fazendo-nos apegar a uma tristeza adocicada que corrói, como a traça, toda a esperança. Assim se consolida a maior ameaça que se pode enraizar numa comunidade: o pragmatismo cinzento da vida, na qual aparentemente tudo procede dentro da normalidade, mas na realidade a fé vai-se apagando e degenerando na mesquinhez”, alertou.

Precisamente para evitar essas tentações Deus surpreende na vida dos fiéis, aparecendo quando menos se espera. “O Senhor não espera situações ou estados de ânimo ideais, cria-os. Não espera encontrar-Se com pessoas sem problemas, sem deceções, pecados ou limitações. Ele mesmo enfrentou o pecado e a deceção, para ir ao encontro de cada vivente e convidá-lo a caminhar. Irmãos, o Senhor não Se cansa de chamar. É a força do Amor que subverte todas as previsões e sabe recomeçar. Em Jesus, Deus sempre procura dar uma possibilidade.”

“É o Senhor das surpresas que convida não só a surpreender-se, mas também a realizar coisas surpreendentes. O Senhor chama e, encontrando os discípulos com as redes vazias, propõe-lhes algo de insólito: pescar de dia, o que é bastante estranho naquele lago. Devolve-lhes confiança, colocando-os em movimento e impelindo-os de novo a arriscar, a não dar nada e, especialmente, ninguém por perdido”, afirmou Francisco na sua homilia.

A nossa força é o amor de Deus

O que leva Francisco a concluir o seu raciocínio, de que tudo isto acontece porque Deus ama, e que essa é uma certeza que dá força aos cristãos.

“Esta é a nossa força, que somos convidados a renovar todos os dias: o Senhor ama-nos. Ser cristão é um chamamento a ter confiança que o Amor de Deus é maior do que qualquer limite ou pecado.”

O problema, diz o Papa, é que nem sempre os cristãos anunciam Deus desta forma. “Um dos grandes desgostos e obstáculos, que hoje sentimos, situa-se não tanto ao nível da compreensão de que Deus é amor, mas no facto de termos chegado a anunciá-Lo e testemunhá-Lo de uma maneira tal, que, para muitos, este não é o seu nome. Mas Deus é amor, que ama, dá-Se, chama e surpreende.”

A homilia, perante membros da minúscula comunidade católica da Bulgária, terminou com um apelo. “Não tenhais medo de ser os santos de que esta terra precisa; uma santidade, que não vos tirará forças, nem vida nem alegria; muito pelo contrário, porque chegareis a ser, vós e os filhos desta terra, aquilo que o Pai sonhou quando vos criou.”

Com esta missa, o Papa termina o seu programa oficial para este domingo. Segunda-feira está prevista uma visita a um campo de refugiados, seguido de missa numa igreja católica e um encontro com a comunidade católica da Bulgária.

Na terça-feira o Papa parte para a Macedónia, onde permanece durante o dia, antes de regressar a Roma.

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