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70 anos da Aliança Atlântica

"Não temos dúvidas nenhumas: Portugal estaria muito mais inseguro sem a NATO"

04 abr, 2019 - 08:00 • Ana Rodrigues

Entrevista ao ministro da Defesa na semana em que se assinala o 70.º aniversário da aliança.

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No dia em que se assinalam os 70 anos da NATO, o ministro português da Defesa diz, em entrevista à Renascença, que a Aliança Atlântica “é a nossa maior garantia de segurança internacional".

João Gomes Cravinho ressalta que um dos desafios que a organização enfrenta é "continuar a reinventar-se para corresponder à forma como o mundo está a mudar à sua volta".

Sobre a ameaça do terrorismo, lembra que o artigo 5.º da aliança "só foi invocado uma única vez, precisamente na sequência dos ataques de 11 de setembro", pelo que esse continua a ser um dos focos dos aliados.

Portugal foi um dos fundadores da NATO. Sete décadas depois, continua a fazer sentido a presença portuguesa na Aliança?

A NATO é a nossa mais importante garantia de segurança internacional. O mundo sem a NATO seria um mundo em que Portugal estaria muito mais inseguro e, portanto, não temos dúvidas nem hesitações nenhumas em relação à nossa participação e ao nosso contributo para esse esforço coletivo.

Apesar da idade avançada, acha que a Aliança tem sabido manter-se jovem?

A NATO reinventou-se várias vezes ao longo dos anos e essa é uma boa fórmula para se manter jovem. As atividades da Aliança de hoje já têm muito pouco a ver com aquilo que imaginaram os fundadores há 70 anos e, portanto, o desafio é precisamente o de continuar a reinventar-se para corresponder à forma como o mundo está a mudar à sua volta.

Quais são então os desafios que a NATO enfrenta atualmente?

Diria que há aqui quatro ou cinco desafios que vão determinar a forma como é que a Aliança se vai apresentar ao mundo quando tiver 80 anos.

O primeiro é o de estreitar os laços transatlânticos. É importante reforçar a solidez do arco transatlântico. Em segundo lugar, é preciso que encontre o equilíbrio e um relacionamento mais profícuo com a União Europeia, que está neste momento a investir no pilar da Defesa – o que, no fundo, corresponde ao desejo dos EUA.

O terceiro desafio diria que é o de manter a liderança tecnológica e em quarto lugar é importante que a NATO mantenha a sua perspetiva de 360 graus.

" Não há nenhum número mágico que nos dê segurança. O importante é aumentar as nossas capacidades face aos desafios que enfrentamos"

A Rússia continua a ser uma ameaça?

A NATO foi criada essencialmente para conter a União Soviética, mas hoje deve olhar em todas as direções, incluindo também para Sul. Portugal tem sido um defensor dessa necessária visão a 360 graus.

Não podemos esquecer que, para além das preocupações com situações de insegurança e instabilidade fora da área imediata da NATO [como na Rússia], alguns países aliados sentem-se ainda inseguros. É importante que a NATO ofereça essa garantia de segurança e Portugal participa nesse esforço.

Considera que o terrorismo é um dos grandes desafios da Aliança?

É um desafio, claramente. Tanto assim é que o artigo 5.º [do tratado base da organização] diz que um ataque contra um é um ataque contra todos. Esse artigo foi invocado uma única vez na história da NATO e foi precisamente na sequência dos ataques do 11 de setembro.

Penso que, nesta matéria, o objetivo deve ser erradicar os focos de apoio ao terrorismo e daí a presença da NATO no Afeganistão, tal como no Iraque. Isso vai continuar a ser uma missão importante para a NATO ao longo dos próximos anos.

O secretário-geral, Jens Stoltenberg, tem feito apelos constantes a uma maior contribuição financeira dos aliados. Portugal vai voltar a ficar aquém dos 2% do Orçamento que foram acordados. É o esforço possível nesta altura?

Este ano o investimento em curso já representa um aumento de 20 milhões em relação ao ano passado e todos os anos vai aumentar 20 milhões. Portanto, em 2020, haverá um aumento de 40 milhões em comparação com 2018. Isso é investimento nas nossas capacidades de defesa. E refira-se que a generalidade dos países da NATO está a adotar processos semelhantes de aumento da despesa, porque o mundo está mais inseguro.

O importante não é estarmos fixados num valor. Não há nenhum número mágico que nos dê segurança. O importante é aumentar as nossas capacidades face aos desafios que enfrentamos. Estamos a cumprir o nosso dever enquanto país aliado, enquanto contribuintes para a segurança internacional.

Mantém-se o compromisso assumido pelo primeiro-ministro de consagrar 1,66 % do PIB a despesas em Defesa até 2024?

Sim. Esse mantém-se .É o contributo direto do orçamento do estado, mas a nossa expectativa é ir bastante para alem disso, através do Fundo Europeu de Defesa e da nossa participação em projetos de Cooperação Estruturada Permanente que permitam alavancar os nossos investimentos. É um trabalho em curso mas não há garantias neste momento.

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