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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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NATO: aniversário em crise

04 abr, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A NATO venceu a guerra fria. Mas essa vitória retirou-lhe uma parte da sua razão de ser. E, com Trump, tudo se complicou.

A NATO, a mais duradoura aliança militar e multilateral do mundo, faz hoje 70 anos. Mas não há muito para festejar.

A NATO venceu a guerra fria. Só que essa vitória eliminou uma das razões para a Aliança Atlântica existir: a ameaça da União Soviética. Claro que, depois do colapso do comunismo soviético, os países da NATO continuaram a enfrentar desafios sérios que justificaram a continuidade da Aliança. É o caso do terrorismo, por exemplo. Ou da China, que se está a armar a ritmo acelerado. Ou, ainda, da agressividade da Rússia de Putin – veja-se a Ucrânia e a Geórgia.

Mas o desaparecimento do “inimigo”, a União Soviética, levou os parceiros europeus da NATO a descurarem o seu investimento na área da defesa. O objetivo - ou a promessa - dos 29 países membros da NATO é de gastarem pelo menos 2% do respetivo PIB nesta área. Mas apenas sete países cumprem esse compromisso, apesar dos apelos de sucessivos presidentes dos Estados Unidos. Portugal gasta 1,2% do PIB na defesa.

O apelo de Trump foi brutal, como é típico do personagem. Como, entretanto, alguns países europeus subiram os seus gastos na defesa, Trump hoje proclama que fortaleceu a NATO e elogia o secretário-geral da Aliança, o norueguês Stoltenberg.

Mas ninguém esquece a ameaça de Trump, mais ou menos velada, de os EUA não cumprirem o famoso artigo 5.º do Tratado da Aliança – segundo o qual um eventual a ataque militar a um país membro da NATO é considerado um ataque a todos os membros da Aliança.

Pela primeira vez na história da NATO o empenho de Washington nesta aliança é posto em dúvida. Mas surgiram sinais muito anteriores a Trump desse desinteresse de Washington pela Europa democrática.

Quando dos terríveis atentados terroristas de setembro de 2001, nos EUA, os parceiros da NATO sugeriram a invocação, por Washington, do tal art.º 5º. Os EUA recusaram, em boa parte por influência dos neoconservadores, que, na euforia de os americanos terem vencido a guerra fria, não gostavam de alianças multilaterais estáveis. Preferiam alianças pontuais, caso a caso, com quem quisesse alinhar. Agora essa tendência começa perigosamente a manifestar-se na política externa americana.

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