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Tancos. Ex-diretor da PJ alinha na tese do amadorismo dos ladrões, faltou planeamento

21 mar, 2019 - 21:11 • Lusa

Almeida Rodrigues fez uma ironia ao dizer que, ao longo da sua carreira, investigou "crimes de roubo ou furto um bocadinho melhor planeados".

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O ex-diretor da Polícia Judiciária (PJ) José Almeida Rodrigues alinhou esta quinta-feira na tese do amadorismo de quem roubou o material militar dos paióis de Tancos, em 2017, e afirmou que lhes faltou planeamento.

"Alguém que deixa transparecer que vai praticar um furto ao ponto de chegar ao conhecimento das autoridades e, depois, a forma como o furto terá sido praticado, o local escolhido para a guarda das armas, tudo isso, faz crer que não terá havido um planeamento muito eficaz", afirmou Almeida Rodrigues, na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos.

Almeida Rodrigues até fez uma ironia ao dizer que, ao longo da sua carreira, investigou "crimes de roubo ou furto um bocadinho melhor planeados".

Na audição de hoje, o ex-diretor nacional da PJ (2008-2018) relativizou a tese de o furto poder estar ligado ao terrorismo internacional e admitiu que "o tempo veio dar razão ao SIS [Serviço de Informações de Segurança]" quando, em junho de 2017, decidiu manter como moderado o nível de ameaça no país.

Foi também nesta parte da reunião, em que sempre esteve de semblante carregado, que fez mais uma ironia, em resposta ao deputado bloquista João Vasconcelos: "Só faltaram os terroristas, o material militar havia... Desculpem..."

Questionado sobre a importância do roubo, Almeida Rodrigues qualificou-o de "extraordinariamente grave" e acrescentou que causou danos à entidade que foi alvo do furto, neste caso ao Exército.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.

O caso ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.

Defende a manutenção da PJ Militar

O ex-diretor da Polícia Judiciária (PJ) José Almeida Rodrigues defendeu hoje a manutenção da PJ Militar, por que a sua extinção "poderia macular ainda mais o prestígio das Forças Armadas", contrariando a antiga procuradora-geral Joana Marques Vidal.

"Essa hipótese não deve sequer ser equacionada", disse Almeida Rodrigues, na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, em junho de 2017, na mesma semana em que a antiga procuradora-geral da República Joana Marques Vidal admitiu, na mesma comissão, que se deveria repensar o papel desta polícia militar.

O antigo responsável pela PJ (2008-2018) escusou-se a fazer críticas à sua congénere militar, afirmando ter "o maior respeito pelas instituições" e até admitiu que, "com algumas dificuldades", "desempenha um papel importante nas Forças Armadas".

Almeida Rodrigues recordou, aliás, respondendo a uma pergunta do deputado socialista Ascenso Simões, que a Judiciária deu formação à PJM e que fez "algumas operações" conjuntas com uma "cooperação fiável" com os militares, em "inúmeras investigações".

"Sempre houve um excelente relacionamento [entre a PJ e a PJM]", afirmou.

Noutra parte da audição, Almeida Rodrigues relativizou o facto de a PJ ter sido barrada à entrada da base de Santa Margarida, para onde foi levado o material militar recuperado quatro meses após o roubo, na Chamusca, em outubro de 2017.

"Não sei o que levou a estes desentendimentos" afirmou, depois de admitir ter sabido que os inspetores da PJ tinham sido barrados em Santa Margarida já depois de "a situação estar resolvida".

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.

O caso ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.

Este processo levou à demissão, ainda em 2018, do ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, e do chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte.

A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, pedida pelo CDS-PP, vai decorrer até junho de 2019, depois de o parlamento prolongar os trabalhos por mais 90 dias.

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