Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Eleições Europeias. Exclusão de Assis aumenta mal-estar no PS

15 fev, 2019 - 13:01 • Susana Madureira Martins , Eunice Lourenço

O afastamento de Francisco Assis e a escolha de Pedro Nuno aumentam o mal-estar num setor do PS que esteve contra a formação da "gerigonça".

A+ / A-

Francisco Assis mostrou-se disponível para integrar de novo as listas do PS às eleições europeias de 26 de Maio, mas o secretário-geral socialista, António Costa, não terá sido sensível a essa disponibilidade do ainda eurodeputado. E é isto que não está a cair bem num certo sector do PS, sobretudo entre os que apoiaram António José Seguro nas eleições primárias que Costa acabou por ganhar, em 2014, precisamente após o resultado das europeias desse ano.

Entre estes, estão vários dirigentes e ex-dirigentes que assumem que o afastamento de Assis faz aumentar o mal-estar no partido. E, a assumi-lo, está um segurista de sempre, Ricardo Gonçalves, antigo deputado eleito por Braga. Para este ex-dirigente socialista, a decisão de não incluir Assis na lista às europeias "demonstra a falta de grandeza, de magnanimidade e de justiça ao mérito político, da direção nacional do PS que elaborou a lista a apresentar às eleições de 26 de Maio".

Tal como Assis, Ricardo Gonçalves pertence à ala mais à direita do PS, é um crítico da solução parlamentar de esquerda e não poupa o secretário-geral do partido, defendendo o eurodeputado como "um grande quadro da Social-Democracia Europeia, da moderação, da defesa da cidadania e do humanismo Europeu, combatendo todos os que são contra a UE sejam eles, da extrema direita, ou da extrema esquerda, mesmo sendo aliados do atual governo".

Ricardo Gonçalves escreveu isto na rede social Facebook e fez questão de enviar o texto pessoalmente aos jornalistas, criticando a direção nacional do PS pelo facto de Francisco Assis, líder da lista que venceu as últimas eleições para o Parlamento Europeu ser "o único cabeça de lista, de todos os partidos, com deputados no Parlamento Europeu, que não é reconduzido nas próximas eleições, nem como cabeça de lista nem em lugar nenhum".

Também não faltam as acusações de amiguismo na constituição da lista. O ex-deputado eleito por Braga acusa António Costa de preparar-se para apresentar “uma lista monolítica, quase de amigos e família em termos de pensamento e prática política", e por isso, entende que a lista não tem "pluralidade de pensamento e de estratégia dentro do espaço, que devia ser alargado, do socialismo democrático, ou seja da social-democracia e do trabalhismo Europeu".

No texto do ex-dirigente socialista consta também uma bicada ao governo liderado por António Costa, "num tempo em que a economia está a arrefecer (1,6 % ou 1,7%) para este ano, em que os erros políticos se sucedem e a contestação é forte e variada, e em que o poder tem dificuldade em lidar com as dificuldades que estão a surgir agora".

E o fantasma do resultado "poucochinho" para o PS nas eleições europeias está de volta para Ricardo Gonçalves, que conclui que "tendo em conta todos estes dados esta lista pode ter um fraco resultado que ficará, só, para a direção nacional do PS, por esta exibição de poder faccioso".

“Os amigos estão de um lado e aqueles que não são amigos estão do outro.”

Ricardo Goncalves, contudo, não é o único a denunciar um mal-estar entre correntes do PS e a falar de retaliações. Já esta semana, em entrevista à Renascença e ao Público, o líder da UGT, Carlos Silva, tinha manifestado esse mal-estar também associado à manifestação de posições diferentes noutros momentos.

“Há um cúmulo de situações que vêm do passado. O tiro de partida para um certo afastamento foi logo após a criação desta solução governativa em que eu transmiti a minha opinião sobre o acordo à esquerda”, disse Carlos Silva, que esteve contra a construção da chamada “gerigonça”

Não tenho falado com o secretário-geral, que conheço desde o tempo da juventude, mas percebo que nestas coisas os amigos estão de um lado e aqueles que não são amigos estão do outro. No PS houve uma situação em que houve dois lados distintos que foi a batalha interna entre António Costa e António José Seguro e eu estava do lado de António José Seguro”, acrescentou o líder da UGT, que foi apoiante de António José Seguro em 2014 e sente que isso hoje ainda pesa no PS.

Também Assis foi apoiante de Seguro – sobretudo por discordar da forma como Costa ‘desalojou’ o então legitimo líder socialista – e esteve contra a formação de um governo apoiado por uma maioria de esquerda. Um dos nomes que mais têm promovido a “gerigonça”, Pedro Nuno Santos, vai agora subir a ministro devido à saída de Pedro Marques para ser cabeça de lista às eleições europeias.

A escolha de Pedro Marques, que será apresentado formalmente como tal na convenção europeia do PS que vai decorrer este sábado em Gaia, obrigada a mais uma remodelação do Governo com a subida finalmente a ministro do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares que sempre foi responsável pelo diálogo com as esquerdas. O simultâneo afastamento de Assis e subida de Pedro Nuno aumentam, assim, o mal-estar num setor do PS mais ao centro e que esteve contra a formação da gerigonça ou ao lado de António José Seguro.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Augusto
    15 fev, 2019 Lisboa 17:25
    A ala direita do PS até acordos com Passos Coelho estava disposta a fazer. Em suma se fosse por eles , quem governava agora era a direita radical, de Passos Coelho e Assunção Cristas.
  • J M
    15 fev, 2019 Seixal 17:10
    Se a indisposição o está a afetar muito, tome uma pastilha laranja. Francisco Assis e companhia desde o inicio desta legislatura não fizeram outra coisa que foi criticar o governo, agora acabou-se o tacho. É triste, mas ainda há indivíduos que não tiraram as palas, não conseguem olhar para os lados.
  • João Lopes
    15 fev, 2019 Viseu 15:44
    António Costa de formação marxista, é um jogador hábil e malabarista e não vai ser fácil derrubá-lo do poder. Mas o País está pior do que quando saiu Passos Coelho...

Destaques V+