01 fev, 2019 - 17:43 • José Carlos Silva
Podia ser o princípio de uma anedota: estava uma automotora espanhola na linha entre o Porto e Valença quando, pelas bandas de Afife, perdeu o motor.
Não é uma anedota, e muito menos tem graça. Porque foi mesmo isso que aconteceu na noite desta quinta-feira, dia 31 de janeiro.
Um comboio alugado pela CP à empresa espanhola Renfe deixou cair o motor nos carris pouco depois das 22 horas em Afife, Viana do Castelo.
A automotora estava a circular com passageiros, que foram obrigados a utilizar táxis para chegarem aos seus destinos.
No plano político, o Governo não se pronunciou até ao momento. Mas os partidos da oposição, da esquerda à direita, estão alinhados num raro consenso.
Para a oposição, os contornos deste incidente têm de ser apurados - e não apenas pela Comboios de Portugal (CP). O deputado comunista Bruno Dias classifica esta situação como “grave, que exige antes de mais o apuramento de todas as circunstâncias”.
O deputado acrescenta que a prática do aluguer de material circulante ferroviário antigo a Espanha não é de ontem, mas demonstra “que é uma solução de não resolver os problemas e que exige uma orientação muito clara do ponto de vista político de fortalecer e dar uma resposta forte ao nível do investimento de material circulante.”
Para o social-democrata Emídio Guerreiro, o incidente é um espelho da realidade dos caminhos-de-ferro em Portugal. O deputado sublinha que “felizmente não há feridos, não há danos para os passageiros, mas demonstra que por mais que o Governo e o senhor ministro Pedro Marques grite a dizer que está a investir e que está a fazer, os números mostram o contrário".
Emídio Guerreiro considera ainda que a ferrovia vai de mal a pior, com “comboios permanentemente atrasados, linhas suprimidas, pessoas insatisfeitas” e que “pagam um bilhete de intercidades e andam no regional". Tudo isto, acrescenta, "não causa de facto uma boa impressão nas pessoas e isso tudo não é o serviço público de Transporte Ferroviário que as pessoas merecem”.
O CDS, por seu lado, acrescenta que não fosse o facto de o ministro do Planeamento e das Infraestruturas ir ao Parlamento quarta-feira, já o teria chamado a prestar esclarecimentos.
O deputado centrista Hélder Amaral diz que há “falta de investimento, falta de cuidado, falta de planeamento, falta de ação da parte do Governo, numa área tão sensível como é a da segurança do material circulante, a segurança da ferrovia nacional”.
E acrescenta que o problema no caso da automotora que perdeu o motor é que Portugal está a “alugar material com falta de qualidade ou porventura já para lá do prazo de vida”. Nesse sentido o deputado acusa que há “incompetência, incúria e falta de cuidado do governo”. “É preciso fazer qualquer coisa e urgentemente”, adiantou.