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Crise na Venezuela foi grande alavanca do desenvolvimento económico de Estarreja

01 fev, 2019 - 12:07 • André Rodrigues com redação

Até ao final de 2018, chegaram mais de 500 lusodescendentes ao concelho, no distrito de Aveiro. São (também) eles que estão a ajudar a refundar negócios, a reabilitar casas antigas e a construir novas habitações.

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Reportagem André Rodrigues com lusodescendentes chegados da Venezuela a Estarreja (01/02/2019)
Ouça aqui a reportagem de André Rodrigues com lusodescendentes em Estarreja

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No último ano, o retorno dos portugueses emigrados na Venezuela, que já foi um dos países mais ricos do mundo, graças ao petróleo, está a contribuir para colmatar as necessidades de mão de obra em câmaras municipais e empresas de Estarreja, ajudando a refundar negócios, a reabilitar casas antigas e a construir novas habitações, num concelho com pouco mais de 26 mil habitantes, mas que detém uma das maiores áreas industriais do país.

Até ao final de 2018, chegaram mais de 500 lusodescendentes a este concelho do distrito de Aveiro. A SEMA, que reúne 3.000 empresas de Albergaria-a-Velha, de Estarreja, Murtosa, Sever do Vouga e Ovar, calcula que, desde o início deste ano, tenham chegado mais 150 pessoas vindas da Venezuela.

Deixaram para trás um país em crise e tentam recomeçar na terra que os viu partir. Nalguns casos, partiram há mais de 50 anos para a Venezuela e voltam agora por força maior.

É o caso de Vítor Santos, que aos 58 anos decidiu abandonar o país onde viveu praticamente desde que se recorda.

De designer gráfico em Caracas, passou a trabalhador de uma empresa de metalomecânica em Estarreja. Casado e com filhos, é o único que tem passaporte europeu. Veio sozinho, porque não tinha dinheiro para meter a família num avião com destino a Portugal. E nem sabe quando é que isso será possível.

Francisco Batista, que chegou da Venezuela há precisamente um ano, também viajou sozinho.

Não há dia em que não se lembre da dificuldade que sentia para conseguir um saco de arroz ou um quilo de farinha. Passava doze horas ou mais numa fila e nada.

Conseguiu voltar para Portugal com a ajuda dos pais. Se tudo correr bem, em abril a mulher e o filho vão juntar-se a ele.

Tal como Francisco, também Vitor se diz pessimista quanto ao futuro da Venezuela. O regresso da tranquilidade, defendem, depende da saída de Nicolás Maduro.

Neste momento, o que resta é a violência nas ruas e as prateleiras dos supermercados vazios. A Venezuela do salário mínimo de 18 euros que não chegam para viver, numa altura em que se calcula que a inflação atinja, este ano, os 10 milhões por cento do PIB.

Daí a opção: fugir da Venezuela para recomeçar do zero. Longe da família, é certo. Mas em paz. E com vontade de trabalhar.

[notícia corrigida às 18h06 - concelho de Estarreja tem mais de 26 mil habitantes e não "mais de sete mil"]

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