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Papa adverte religiosos para o “cansaço paralisador da esperança”

26 jan, 2019 - 15:10 • Filipe d'Avillez , Aura Miguel

Francisco compreende o cansaço físico e mental de quem dedica a vida a Jesus, mas teme um outro cansaço que vem de deixar de acreditar que a Igreja tem algo para dar ao mundo.

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O Papa Francisco advertiu este sábado os sacerdotes, consagrados e membros de movimentos laicais do Panamá para o perigo de se perder a esperança na missão da Igreja para o mundo.

Refletindo sobre a passagem do Evangelho em que Jesus descansa junto a um poço e pede a uma samaritana que lhe dê água, o Papa sublinhou que até Cristo sentia o cansaço físico e que “nesta fadiga, encontra lugar tanto cansaço dos nossos povos e da nossa família, das nossas comunidades e de todos aqueles que estão cansados e oprimidos”.

Há um cansaço que é comum entre os que dedicam a vida a Deus e que é compreensível, diz Francisco. “Desde as longas horas de trabalho que deixam pouco tempo para comer, descansar e estar com a família, até às ‘tóxicas’ condições laborais e afetivas que levam ao esgotamento e desgastam o coração”.

“Seria impossível tentar abraçar todas as situações que quebrantam a vida dos consagrados, mas, em todas elas, sentimos a necessidade urgente de encontrar um poço onde se possa aplacar e saciar a sede e o cansaço do caminho. Todas elas reclamam, como um grito silencioso, um poço donde começar de novo.”

Mas há outro cansaço, diz Francisco, que é bastante mais grave. Trata-se do “cansaço da esperança”, um “cansaço paralisador”.

“Nasce de olhar para frente e não saber como reagir face à intensidade e incerteza das mudanças que estamos atravessando como sociedade. Tais mudanças parecem não só pôr em questão as nossas modalidades de expressão e compromisso, os nossos hábitos e atitudes ao enfrentar a realidade, mas frequentemente colocam também em dúvida a própria viabilidade da vida religiosa no mundo atual”, diz o Papa. “O cansaço da esperança nasce da constatação duma Igreja ferida pelo seu pecado e que, muitas vezes, não soube escutar tantos gritos nos quais se escondia o grito do Mestre: ‘Meu Deus, porque me abandonaste?’”

Os cristãos que se deixam tomar por este cansaço da esperança veem surgir nos seus corações, ou nos das suas comunidades “um pragmatismo cinzento” que desemboca numa “das piores heresias possíveis no nosso tempo: pensar que o Senhor e as nossas comunidades não têm nada para dizer nem dar a este mundo novo”.

A chave para se libertarem deste cansaço, sugere o Papa, é fazer como Jesus. “‘Dá-Me de beber’ é aquilo que pede o Senhor e é o que Ele nos pede para dizer. Ao dizê-lo, abrimos a porta da nossa esperança cansada para voltar, sem medo, ao poço originário do primeiro amor, quando Jesus passou pelo nosso caminho, olhou-nos com misericórdia e pediu que O seguíssemos.”

“Ao dizê-lo, recuperamos a memória daquele momento em que os seus olhos cruzaram os nossos, o momento em que Ele nos fez sentir que nos amava, e não só pessoalmente mas também como comunidade”, concluiu Francisco.

Não deixem roubar a beleza herdada

O Papa encontra-se por estes dias no Panamá, onde participa na Jornada Mundial da Juventude, com jovens de todo o mundo.

Este sábado a missa com os sacerdotes, consagrados e movimentos de leigos serviu também para dedicar o altar da Catedral-Basílica de Santa Maria la Antigua.

No final da sua homilia Francisco disse precisamente umas palavras sobre a catedral que acabou de ser restaurada.

“Não me parece sem significado um acontecimento como este duma Catedral que reabre as portas depois dum longo tempo de restauro. Experimentou o transcorrer dos anos, como testemunha fiel da história deste povo e, com a ajuda e o trabalho de muitos, quis presentear-nos de novo com a sua beleza”, disse Francisco.

“Mais do que uma reconstrução formal, que sempre tenta voltar a um original passado, procurou reencontrar a beleza dos anos abrindo-se para hospedar toda a novidade que o presente lhe podia oferecer. Uma Catedral espanhola, índia e afro-americana torna-se, assim, Catedral panamense, dos panamenses de ontem, mas também dos de hoje que a tornaram possível. Já não pertence só ao passado, mas é beleza do presente.”

O Papa concluiu com um apelo. “Irmãos, não deixemos que nos roubem a beleza herdada dos nossos pais! Seja ela a raiz viva e fecunda que nos ajuda a continuar fazendo bela e profética a história da salvação nestas terras.”

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