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Joana Marques quer mostrar que não há "uma idade mínima" para ouvir Renascença

11 jan, 2019 - 10:00 • Inês Rocha , Ricardo Fortunato (imagem)

A humorista confessa que não esperava que a sua carreira passasse pela emissora católica, mas garante que "em breve as pessoas vão perceber que a Renascença também está a mudar".

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"Em breve, as pessoas vão perceber que a Renascença está a mudar e não vão achar assim tão absurdo este juntar de Joana Marques e Renascença", diz a humorista

Joana Marques não se lembra quando é que soube que queria ser humorista. Não houve um momento de revelação - mas sempre gostou de escrever e, naturalmente, foi-se apercebendo que os textos saíam mais cómicos do que sérios. Começou a trabalhar como guionista e, logo no início da carreira, já escrevia textos para Maria Rueff e Ana Bola.

Pelo caminho, descobriu a rádio, que se transformou numa paixão - até porque na rádio dá para ir trabalhar de pijama. Depois de sete anos na Antena 3, onde mostrou ao país o seu lado “Extremamente Desagradável”, começa agora um novo projeto na Renascença, que será divulgado no início de Fevereiro.

Nesta entrevista, a humorista conta como o convite a surpreendeu e confessa-se entusiasmada para enfrentar o novo desafio. A parte chata, segundo Joana Marques, é "vir ter com a Ana Galvão outra vez", mas acredita que serão "mais amigas na Renascença".

No teu Facebook, prometes que 2019 vai ser um ano bem fixe… estás na Renascença, portanto claro que vai ser. Quais são as tuas expectativas para este novo projeto?

São as melhores. Eu por acaso ligo mais ao ano novo do que ao fim de ano, porque eu detesto mesmo aquela festa da passagem de ano e até gosto do ano novo, aquela ideia de fazer resoluções. Em janeiro acreditamos sempre que esse ano é que é. Mas eu acho que este talvez seja mesmo.

Parece aquela conversa nos clubes. Não querendo ofender os sportinguistas, parece sempre que “para o ano é que é”. Mas é bom ter essa resiliência.

Mas eu acredito mesmo que este ano - não no caso do Sporting, mas no meu caso - possa ser um bom ano. Estou entusiasmada. O arranque deste novo projeto coincidiu com o arranque do ano. É bom porque é a altura em que a pessoa tem mais energia para coisas novas. Tenho encontrado aqui pessoas também muito entusiasmadas. Eu sou o elemento que vem de fora, mas as pessoas cá dentro também estão entusiasmadas com o programa novo e com a ideia de fazer coisas diferentes.

Alguma vez imaginaste que vinhas parar à Renascença?

(Risos) Não. Sinceramente não. Até fiquei espantada com o convite, mas depois quando percebi qual era o plano – a ideia de fazer uma rádio um bocadinho diferente a partir daqui e todos os anos ir mudando, acompanhando os tempos - achei que era um projeto interessante. Quando disseram a primeira vez também me ri - se calhar foi a reação das pessoas quando ouviram - mas acho que em breve as pessoas vão perceber que a Renascença também está a mudar e não vão achar assim tão absurdo este juntar de Joana Marques e Renascença. Já não vai parecer uma frase assim tão estranha. As pessoas vão perceber que isto até faz sentido, mais do que parece.

Sentes esse desafio, de rejuvenescer um pouco a imagem que muita gente tem da Renascença?

Sim. Acho que a vinda da Ana Galvão também já tinha sido nesse sentido. E acho que tem tido bons resultados e faz sentido apostar nisso. Espero estar à altura. Isto não é um trocadilho com o meu tamanho. Mas espero que sim. É um desafio interessante, mostrar às pessoas que a Renascença não tem uma idade mínima nem máxima. Toda a gente pode ouvir. E acredito que as pessoas vão ter vontade de ouvir.

Primeiro foi a Ana Galvão, agora tu... de 0 a 10, quanto é que somos odiados na Antena 3?

(Risos) Talvez um bocadinho. Não, acho que eles compreendem, embora tenham ficado tristes com as duas saídas, mas também têm ainda lá gente boa para trabalhar e podemos ir lá roubar mais um ou outro, quem sabe. Continuamos de olho.


"Espero estar à altura do desafio - e isto não é um trocadilho com o meu tamanho"


O que é que te cativou mais neste projeto? Foram as saudades da Ana Galvão?

Não, isso foi um contra. Estava assim a pesar os prós e os contras, e há a chatice de vir ter com a Ana Galvão outra vez, mas há os outros prós.

Fui sempre mantendo o contacto com ela, embora o trabalho diário em rádio seja sempre diferente de tudo o resto, ou seja, continuo amiga de todas as pessoas com quem trabalhei em rádio, mas aquele dia-a-dia... isto parece a conversa de quem entra em “reality shows”, mas o dia-a-dia é muito intenso porque é todos os dias, várias horas por dia, e falamos mesmo da nossa vida ali, tanto no ar como fora.

Às vezes nem distinguimos bem o que foi dito no ar e fora. E por isso fica uma relação diferente da que temos com outros amigos. Por isso sente-se falta, quando se quebra assim essa rotina diária. Estou com saudades de poder estar com ela outra vez todos os dias, sobretudo para embirrar com ela. E acho que ela também sente falta disso.

Mas agora nesta nova fase talvez eu consiga dar-me melhor com a Ana Galvão. Eu também já estou um bocadinho mais crescida. Longe ainda da idade dela, essa distância mantém-se sempre. Mas pode ser que corra melhor agora. Acredito que seremos mais amigas aqui na Renascença.

O que é que queres trazer? Vais continuar a ser extremamente desagradável aqui?

Sim, a ideia é essa. Acho que é manter. As pessoas até estranhariam se eu, de repente, fosse extremamente agradável. Vou manter o meu registo e fazer algumas coisas novas também. É um misto entre continuar a fazer aquilo a que as pessoas já estavam habituadas e também trazer qualquer coisa de novo, para não ser mais do mesmo. Há sempre esse desafio quando se começa uma coisa nova. É tentar manter o que estava bem e inovar ainda no resto.

Tens saudades de acordar às cinco da manhã?

Não! Essa parte é aquela de que tenho menos saudades, curiosamente. Até estou a gostar de acordar às 9 e meia... na verdade é uma ficção, porque, como tenho uma criança de dois anos em casa, acordo às três da manhã, às quatro, às cinco.

Mas poder estar em casa ou na rua às nove é uma novidade para mim. É todo um mundo novo. Até estranho o tipo de luz que há a esta hora. Mas estou entusiasmada também para voltar ao ar e recomeçar o trabalho. Embora não minta, esteja a saber-me muito bem esta pausa de não acordar tão cedo. Foi muito tempo seguido a acordar muito cedo.

Mas eu gosto muito desse horário. Estou sempre a queixar-me, é aquela coisa tipicamente portuguesa, aquela lamúria, mas eu gosto muito de trabalhar de manhã. Teria muitas dificuldades se a proposta fosse "vais apresentar um programa às oito da noite". Isso tinha mais dificuldades.

És uma pessoa matinal.

Sim, muito mais. Às sete da tarde já estou cheia de sono, já não digo coisa com coisa. O que pode ser bom, podia ter um efeito cómico. Mas seria comédia involuntária. Eu estou mais ativa e mais desperta de manhã do que ao fim do dia. Tenho é que começar a deitar-me mais cedo, é outra resolução de ano novo que tenho de fazer. Senão vou envelhecer muito rápido e qualquer dia confundem-me com a Ana Galvão na rua.

Começaste nas Produções Fictícias, já fizeste rádio, televisão, espetáculos… O denominador comum é o humor.Quando é que soubeste que querias ser humorista?

Não houve assim um momento de revelação. Foi uma coisa natural, não houve um dia em que eu tenha dito "quero ser humorista".

Era uma profissão que quase não existia cá. Olhávamos para o Herman José e víamos um comediante, mas nem fazia ideia, quando via em casa, que havia pessoas que escreviam para ele. Achava que ele chegava ali e por inspiração, naquele momento, dizia aquilo tudo. Só mais tarde é que comecei a perceber que havia esse papel dos guionistas de humor e achei que podia ir por aí.

Na altura estava na faculdade a fazer um curso que não me interessava muito, de jornalismo. Não menosprezando os jornalistas, mas para mim não dava. Era uma arte que eu nunca ia dominar. E lembro-me até de um professor que tinha de redação de notícias, ele dizia-me "esqueça, não dá, tem de dizer o que se passou, não é estar a inventar". Se bem que hoje em dia, com tantas “fake news”, se calhar eu conseguia fazer qualquer coisa.

Mas usas muito a atualidade no teu trabalho...

Exatamente. Gosto da atualidade como matéria. Mas chateava-me muito aquela coisa de ter que me cingir àquilo. A escrever sempre exagerei um bocado, sempre escrevi demais. Não sei ser muito sintética. Esse feedback do professor foi bom para eu perceber que não era por ali.

Na mesma altura comecei a fazer um curso de escrita, de argumento para várias áreas da televisão. Conheci na altura a Maria João Cruz, que trabalhava nas Produções Fictícias e que me convidou para fazer um estágio lá. E depois lá acabei por acabar o curso da faculdade, só para a minha mãe não se chatear.

Mas percebi logo que não ia dar uso a isso. Comecei como guionista. Acho que a coisa mais a sério que escrevi foi para a Ana Bola e para a Maria Rueff, na altura na rádio também, curiosamente.

Depois foram-se sucedendo os projetos, acabou por acontecer. Sempre escrevi muito, lembro-me de me divertir imenso quando comecei a perceber que, se juntássemos várias palavras, fazíamos uma frase com sentido. Era uma brincadeira de que eu gostava muito, até fazia livros em casa.

Provavelmente as primeiras composições eram sobre a primavera, as férias, aquelas coisas, mas com o passar dos anos comecei a perceber que os meus textos acabavam por ser mais cómicos do que sérios. Foi uma coisa natural.

Li numa entrevista que preferes a rádio porque podes ir trabalhar de pijama… podemos esperar ver-te de pijama um dia?

Como se vê, de resto, hoje não é bem pijama, disfarcei com um casaco, mas é parecido. Eu gosto muito disso e chateia-me muito na televisão aquela coisa de ter de estar com duas horas de antecedência para me maquilhar. Esqueço-me que estou maquilhada e à noite, quando quero ir para a cama, vejo-me ao espelho e penso "está aqui uma pessoa muito bem-parecida, não sou eu". Tenho de tirar aquilo...

Há ali um processo na televisão que eu não gosto tanto. Temos muita consciência de nós, estamos a ser filmados, enquanto na rádio sentimo-nos muito mais em casa, e acho que acaba por ser isso que resulta. As pessoas estão a ouvir-nos nas casas delas ou nos carros e sentem essa familiaridade, que se calhar não sentem com um apresentador de televisão, que também tem a sua ciência mas é menos pessoal.

Mas olha que nós filmamos muita coisa, é melhor não vires mesmo de pijama...

Não, eu estou preparada para isso, sim (risos). Mas mesmo que venha de pijama, assume-se o pijama na filmagem, não há problema. Acho que essa coisa de assumir a verdade e não fingirmos outra coisa também funciona bem. De repente se eu vestisse um smoking só para filmarmos, era esquisito. Acho que as pessoas iam desconfiar, portanto vou manter a minha indumentária.

Uma das tuas características mais conhecidas do público é o facto de seres uma lisboeta portista, o que é uma raridade. De onde surgiu o teu amor pelo FC Porto?

Já não é tão raro assim. Lembro-me que quando andava na escola era mais raro. Acho que se nota alguma diferença. Mesmo este ano, quando o Porto ganhou o campeonato, notou-se nos festejos aqui em Lisboa. Não sendo como Benfica ou Sporting nem aquela enchente louca como é no Porto, já se vê muita gente, vi muitas famílias, miúdos mais pequenos e pensei "sim senhora, estamos no bom caminho".

No tempo do meu pai, pelo que ele conta, aí sim era muito raro, era ser um extraterrestre em Lisboa. Sobretudo porque nenhum de nós é portuense. Normalmente as pessoas têm essa tendência. Se a pessoa está em Lisboa e é do Porto-clube, é porque é do Porto-cidade. Mas acho que isso já se começa a esbater um bocadinho.

Não sei bem como surgiu, o meu pai é portista, mas nem foi por aí porque o meu irmão saiu benfiquista. Acontece nas melhores famílias. Acho que era um bocado aquela coisa de ser do contra, na escola eram todos do Sporting ou do Benfica e eu gostava de ser do contra. Ainda por cima ajudada pelos resultados, porque o Porto ganhava muito nos anos 90. Eu gostava de chatear os outros e comecei a dizer que era do Porto. E sou mesmo. Até hoje. Acho que agora já não dá para mudar.

Tens um marido benfiquista. Quem é que está a ganhar na competição pela atenção do vosso filho, ao nível de clube, lá em casa?

É difícil, um benfiquista e uma portista... eu já sugeri até que ele fosse do Sporting, porque não incomoda muito.

Isto hoje parece que é uma entrevista só para irritar os sportinguistas. Acho que podíamos fazer aqueles programas tipo o Trio de Ataque, aqueles programas de debate sobre futebol os três, entre pai, mãe e filho.

Podíamos criar um programa de televisão mais civilizado até, mesmo tendo uma criança que grita e tal. Íamos ser mais civilizados do que alguns programas em que se discute futebol. Eu queria mesmo é que ele fosse do FC Porto, mas prometemos um ao outro que nenhum ia influenciá-lo, nem inscrevê-lo em nada e eu estou a tentar cumprir, porque combinei. Não podendo ser, acho que o mal menor seria o Sporting. Dois do Benfica não aturo em casa. Expulso o mais velho porque o mais pequeno era chato abandonar.


"Prefiro ser perseguida por crianças entre os 8 e os 12 do que por gente mais perigosa"

No ano passado, quando a Ana Galvão criticou alguns youtubers por publicarem “conteúdo falado em mau português, cheio de palavrões, obscenidades, apelo a insultar os pais”, também entraste um pouco na polémica, na tua rubrica na Antena 3. Temes que, no novo projeto, estejam já a excluir toda uma audiência dos 8 aos 12 anos? Ou achas que eles se vão esquecer?

De vez em quando ainda recebo mensagens enervadas de youtubers. Acho curioso como a polémica se mantém. Mas foi-se esbatendo. Alguns já esqueceram, outros já cresceram e se calhar eles próprios já não gostam daqueles youtubers que viam na altura.

Às vezes as pessoas pensam "estes miúdos de agora…", mas acho que é igual. Só que nós não tínhamos este acesso à internet. Mesmo que eu quisesse insultar, sei lá, alguém que tivesse dito mal do Vítor Baía, na altura em que eu tinha posters, eu não tinha essa possibilidade de ligar ao jornalista ou de mandar uma carta a dizer que ele foi isto e aquilo.

Agora há este contacto muito próximo. Muitas vezes eu recebia mensagens de miúdos enervados e ia ver, e eram miúdos com um ar amoroso nas fotografias do Facebook com os pais.

Os pais nem imaginam que eles usam aquele vocabulário e que se estão a dirigir a pessoas adultas naqueles termos. Mas acho que faz parte, não vale a pena dar muito valor a isso.

Se todos os meus males forem esses, não está mal. Eu prefiro ser perseguida por crianças entre os 8 e os 12 do que por gente mais perigosa.

Sentes que já tens uma espécie de capa que te protege dos insultos e das críticas? Ou ainda mexe contigo?

Sim, já tenho bem mais do que há uns anos. Acho que ninguém é imune a tudo. De vez em quando há uma crítica que cai pior que outra, sem grande razão aparente.

Eu agora tento procurar menos isso. Não evito, mas também não vou ler tudo. Não vou ao Google pesquisar o meu nome... não vale a pena, porque isso é andar à procura de chatices.

Já abandonei essa ideia de agradar a todos, assim uma pessoa vive melhor. Quem gostar gosta, quem não gostar não tem de ouvir nem ver.

Há um certo masoquismo... não sei se é português ou de toda a humanidade. Um "não gosto mas estou cá". Às vezes os que não gostam são os nossos ouvintes, espectadores ou seguidores mais fiéis.

Tenho pessoas que não gostam e comentam todos os dias. Isso é uma certa fidelidade que eu devo agradecer porque acho que no fundo eles até gostam e ainda não perceberam.

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  • Rui Gabriel R Cleto
    14 jan, 2019 Manteigas 20:46
    Sou ouvinte da RR e RFM, desde há muitos anos. Praticamente assisti à construção do centro emissor da RR/RFM na cidade da Guarda. Assim, pergunto se alguma vez conseguirei ouvir bem a RR e RFM na vila de Manteigas e resto do concelho. O melhor sinal, proveniente do emissor da Guarda, precisamente, não é suficientemente potente, face à orografia da serra, para uma audição com qualidade. Será que pode ser ponderado instalar um centro emissor nesta região, com menor potência mas que garanta uma boa qualidade de receção? Grato por este bocadinho de atenção.
  • Sandra Pinto
    11 jan, 2019 Amadora 11:57
    Bom dia! Antes de mais felicito a Renascença pela chegada da Joana Marques. Depois dizer que descobri muitas semelhanças com a Joana nesta entrevista. Eu sou uma lisboeta portista e já não vou mudar. Começou precisamente como a Joana descreve: o Porto ganhava muito nos anos 90, fui estudar para Coimbra e, para ser do contra, tornei-me do FCP com muito gosto e orgulho. E lá em casa somos uma portista e um benfiquista e nem sempre corre bem. A minha sobrinha de 8 anos sempre a influenciei a ser do Porto, e ela é do Porto como a tia! Felicidades para a Joana Marques!

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