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Venezuela. "Um país mergulhado na pior crise económica, política e social da sua história"

10 jan, 2019 - 15:32 • Pedro Mesquita

A Renascença entrevistou o pai de um deputado da oposição, preso há cinco meses, na sequência da alegada tentativa de atentado com um drone. “Coisas que eles inventam para meter na prisão quem pensa de forma diferente.”

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Juan Requesens é pai de um deputado venezuelano com o mesmo nome, detido pela Polícia Política sem acusação formal, suspeito de envolvimento num atentado falhado contra o Presidente Maduro, em agosto do ano passado.

À Renascença, diz que não pode afirmar que tenham batido no filho, mas conta episódios de tortura psicológica e física. E resume o que é a Venezuela hoje, um dia de janeiro de 2019 em que Nicolas Maduro reassume a Presidência, depois de umas eleições muito contestadas e sem o reconhecimento internacional por parte de 40 países.


O seu filho continua preso?

O meu filho continua detido na sede da Polícia Política. Já cumpriu cinco meses. É uma detenção injusta e ilegal. Ele deveria estar livre porque é inocente. Não há nada que prove que Juan está envolvido no que quer que seja.

Mas já começou a ser julgado enquanto deputado?

A audiência preliminar que estava marcada para dezembro foi suspensa; foi adiada para 24 de janeiro. É assim na Venezuela: eles não têm nenhuma prova para apresentar, não têm nada e, portanto, vão ganhando tempo. Vamos ver o que acontece a 24 de janeiro.

O seu filho tem sofrido algum tipo de tortura?

Bom, é uma tortura o que tem passado. A tortura psicológica começou pela detenção ilegal e violando a sua imunidade parlamentar. Está num calabouço em condições desumanas.

Fisicamente, foi torturado porque teve uma infeção num dente, que se converteu num abcesso. Esteve quatro dias cheio de dores. Roubaram-lhe o antibiótico que lhe mandei e não foi visto por médicos durante cinco dias. Isso para mim constitui uma tortura física por intenção e por negligência. Mas não posso dizer que lhe tenham batido ou isso.

Quer recordar-nos de que é suspeito o seu filho?

Eles querem acusá-lo de envolvimento em terrorismo num suposto atentado falhado com drones contra Maduro, em agosto do ano passado. Enfim, coisas que eles inventam sempre para meter na prisão quem pensa de forma diferente.

Nicolas Maduro tomou posse esta quinta-feira, de novo. O que espera deste segundo mandato?

Não há nenhum mandato. Ele está a usurpar o poder e isso constitui, por consequência, um vazio de poder. A comunidade internacional, a União Europeia, o mundo inteiro reprova mais esta violação e que é sistemática da Constituição.

Ele é certamente hoje um presidente ilegítimo e fora de todo o conceito constitucional. Foi eleito numas eleições que não se enquadram nos padrões internacionais.

Que retrato faz hoje da Venezuela?

O que é hoje a Venezuela? Um país mergulhado na pior crise económica, política e social da sua história. E, quando digo social, refiro-me a crianças a morrer por desnutrição, pessoas que morrem por falta de assistência médica e com a pior inflação.

É, em resumo, como dizia, um país mergulhado na pior crise económica, política e social da sua história.


Tomada de posse ilegítima num país em crise

Sem o reconhecimento de cerca de 40 países – entre os quais Portugal, Estados Unidos e Brasil – o Presidente da Venezuela toma posse esta quinta-feira, dia 10 de janeiro de 2019, numa cerimónia que deverá somar muitas cadeiras vazias.

A Venezuela elegeu Maduro em 2013 não é a mesmo que hoje o recebe. O país está mais pobre, menos seguro e com novas formas de censura.

Na véspera da contestada tomada de posse, a Igreja Católica da Venezuela emitiu um comunicado no qual afirma que o novo mandato do Presidente Nicolás Maduro é ilegal por não ter sustentação democrática ou jurídica.

A Conferência Episcopal Venezuelana alerta ainda para o erro que é pretender manter o poder a qualquer custo.

No mesmo dia, os bispos venezuelanos apontaram ainda várias críticas ao regime de Nicolas Maduro, condenando nomeadamente a “deterioração humana e social da população e da riqueza da nação”.

Considerando que a Venezuela vive uma “crise sem precedentes”, com uma “alta taxa de pobreza” e um nível de “violência incontrolável”, o presidente da Conferência Episcopal da Venezuela afirmou, na abertura da 61ª Assembleia Plenária, que “mudar completamente as políticas é o desafio para o ano que começa”.

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