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Luís António Santos
Opinião de Luís António Santos
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Três anos depois do Acordo de Paris - a urgência tarda em tocar-nos...

13 dez, 2018 • Opinião de Luís António Santos


Se não fizermos um esforço continuado e decisivo no percurso de vida de cada um de nós e nas decisões coletivas que em nosso nome são tomadas por relação com as alterações climáticas vamos legar à próxima geração um planeta já quase sem remédio.

Cumpre-se na quinta feira, dia 12, o terceiro aniversário da assinatura, em Paris, de um acordo global sobre alterações climáticas e termina um dia depois, na sexta-feira, em Katowice, na Polónia, a 24ª conferência das Nações Unidas sobre o mesmo tema. Salvo raras exceções, o tópico é um não-assunto nas nossas vidas diárias, afogueadas por um conjunto de greves sinalizadoras de tensões sociais e jogadas políticas e pelos abusos (na ação e na linguagem) de quem se julga DDT e pode forçar o país a manter-se no mesmo lugar em termos de proteção civil. É, de certeza, muito relevante perceber porque se exprimem assim os enfermeiros e porque é que historicamente os governos vergam sempre com facilidade à pressão dos médicos e dão muito pouca importância a outras carreiras ligadas à Saúde; é igualmente relevante perceber porque é que um homem que só deixou a vida política ativa quando a isso foi obrigado (ou seja, com uma perceção de ‘nível zero’ sobre a nobreza dos regimes democráticos) consegue agora usar a Liga dos Bombeiros a seu bel-prazer e com um único objetivo – manutenção de um status quo cujas fragilidades todos pudemos testemunhar com violência no ano passado. Mas se não fizermos um esforço continuado e decisivo no percurso de vida de cada um de nós e nas decisões coletivas que em nosso nome são tomadas por relação com as alterações climáticas vamos legar à próxima geração um planeta já quase sem remédio. E não vai haver nem enfermeiros nem proteção civil que nos salvem da enormidade de problemas que se avizinham.

E porque nos comportamos assim? Nós e os nossos representantes políticos?
Nós, porque encaramos a mudança com dificuldade; comer menos carne e menos produtos de origem animal implica alterar comportamentos de décadas, recorrer mais a deslocações a pé ou em bicicleta envolve uma gestão diferente do tempo e o descuido de muitas das nossas autarquias até nos ajuda a recorrer, com propriedade, a frases do tipo: ‘mas nem tenho vias seguras para usar’. Reciclamos menos do que outros cidadãos europeus mas, mais relevante do que isso, ainda consumimos - para usar uma frase conhecida - "muito acima das nossas possibilidades".

Os nossos representantes políticos, porque jogam sempre em vários tabuleiros, tentam conciliar aquilo que, com o passar do tempo, se percebe ser cada vez mais inconciliável. A ideia de que o crescimento económico de um território (assente, em larga medida, na criação de valor de base extrativa) precisa de ser maior a cada ano que passa choca de frente com um planeta que está já em situação de stress; a sugestão de que a alteração de alguns comportamentos é suficiente (a reciclagem, a iluminação mais eficiente, a geração de energia a partir de fontes renováveis) pode ser uma ferramenta interessante em tempos de apelo instantâneo ao voto mas é um logro. Precisamos todos - com urgência - de fazer mais. Já. Todos os dias.

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