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Pedro Azevedo
Opinião de Pedro Azevedo
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Morreu o criador do sorteio e da “jarra”

22 nov, 2018 • Opinião de Pedro Azevedo


Morreu Fernando Marques, o criador do sorteio e da “jarra”. Tinha 89 anos. A marca que deixou na arbitragem e no futebol português foi um poema de abnegação pelos valores que defendeu.

Morreu Fernando Marques. Tinha 89 anos.

O antigo dirigente foi presidente do Conselho Nacional de Arbitragem no início da década de 90, numa fase muito conturbada do futebol português. A Federação Portuguesa de Futebol atravessava um período demasiado buliçoso sob a liderança de João Rodrigues. A arbitragem estava sob ferro e fogo com polémicas várias e ainda debaixo do efeito da nuvem negra do rocambolesco caso “Penafielgate” que culminou com a irradiação de Francisco Silva.

O cenário horripilante da arbitragem portuguesa exigia um timoneiro que denodadamente lutasse pela credibilidade e pacificação do setor e de tudo o que o envolvia. Fernando Marques era um nome respeitado por todos os clubes e conhecedor dos bastidores do futebol pela ligação de várias décadas à Associação de Futebol do Porto, onde foi sócio de mérito.

Dirigente arrojado e de perfil intrépido, Fernando Marques soube acalmar as águas, inovando com o sorteio dos árbitros e introduzindo a “jarra” no campo lexical do futebol português. Árbitro que errasse com influência no resultado ia para a “jarra”. A metáfora caiu bem no país desportivo. Agentes e adeptos tinham a noção que um erro grosseiro significaria a suspensão do árbitro na jornada seguinte.

Fernando Marques soube também mitigar a contestação à volta das nomeações e acabar com o mau hábito do pedido de árbitros que brotava no futebol português. Naquela altura havia dirigentes a solicitar árbitros para os jogos dos seus clubes. Fernando Marques cortou o mal pela raiz implementando o sorteio. Foi o primeiro dirigente da história do futebol nacional a promover um sorteio público dos árbitros. A atmosfera de querela amainou.

A indelével marca que Fernando Marques deixou na arbitragem e no futebol português foi um poema de abnegação pelos valores que defendeu.

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