Web Summit. Empresários brasileiros garantem que com Bolsonaro "o astral está bem melhor"

06 nov, 2018 - 06:07 • Tiago Palma

Sentem-se "afixiados" pela economia e culpam a esquerda. Queriam mudanças e, não sendo apoiantes de Bolsonaro na primeira volta, não hesitaram em votar no candidato da extrema-direita à segunda. Portugal é uma "porta" europeia pela qual pretendem entrar já, mesmo augurando "esperança" no Brasil futuro: "Tudo o que de ruim tinha para acontecer, aconteceu nos últimos anos".

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Ediane e Lucas Sanabio, casados, ambos com 37 anos, criaram, há 17, a Simber, uma pequena empresa sedeada em Goiânia, no centro-oeste do Brasil, que desenvolve soluções de comunicação (internas, como workplaces, e extrenas, como marketing digital) para 47 clientes em diversos sectores de atividade. “O nosso trabalho é potenciar o crescimento das empresas através da comunicação”, explica Ediane.

Garante que a empresa não perdeu clientes, mas a Simber deixou de crescer nos últimos anos. As razões? Essencialmente, duas, garante o marido, todas envolvendo o Estado brasileiro, direta ou indiretamente. "O mercado brasileiro não estava otimista. E já tem um, dois anos que vem sendo assim. Então, a gente teve que reduzir muito a equipa. Hoje, somos oito. Depois, houve projetos governamentais em que a gente apostou muito e que, simplesmente, não resultaram”, lamenta Lucas Sanabio, garantindo, entre um riso que é sério, que “negócios com o Governo, para a gente, nunca mais”.

A empresa por lá continua, em Goiânia, mas Ediane e Lucas Sanabio resolveram mudar-se de armas e bagagens para Portugal há um par de meses. Ediane explica que vontade foi aquela de partir: “A ideia é fazer com que a Simber possa crescer. Estávamos com algumas dificuldades. Então, a gente falou ‘não nos podemos conformar!’ Hoje, estamos organizando a empresa aqui, conhecendo um bocadinho o mercado português.”

Encontrámos o casal em plena conferência Web Summit, ao final da tarde, após um longo dia em que se prolongaram em conversas e contactos na Alitce Arena. “Enquanto vamos tratando da burocracia, aproveitámos para fazer algum networking. A burocracia não é complicada, complicado é conhecer o mercado. Mas, aí, você conversa com um, conversa com outro e percebe”, explica Ediane.

A vinda à conferência não foi tão programada como a mudança para Portugal. “A nossa vinda é bastante engraçada. A gente contava só vir no ano que vem, mas uma pessoa, lá em Goiânia, não conseguiu vir e vendeu as entradas para a gente um pouco mais baratas. Foi há uma semana. [Risos] Este tipo de eventos são importantes para se fazer contactos, mas também para ver o que outras startups estão fazendo e, quem sabe, encontrar parceiros de negócios”, garante.

Envolto na multidão da Web Summit, está, pelo segundo ano seguido, o também brasileiro Rubens Fileti, 43 anos, fundador da Senior Advanced, uma empresa em tudo semelhante à Simber, focada em software para gestão empresarial, mas que há muito deixou Goiânia e se estendeu pelo Brasil e América Latina. Agora, Rubens quer chegar à Europa e vê em Portugal “uma porta”.

A primeira vinda à conferência tecnológica foi profícua em contactos. Desta feita, Rubens Fileti, que é também vice-presidente da Associação Comercial do Estado de Goiás, quer deitá-los ao papel. “No ano passado, recebemos convites de alguns presidentes da câmara - do Fundão e de Lisboa, por exemplo -, para que a gente trouxesse as nossas startups ligadas ao agronegócio para cá. Goiás é uma região do Brasil com uma expertise muito grande na agricultura. Então, há prefeitos - desculpe!, presidentes da câmara - que, através do Portugal 2020 e de outros incentivos, querem receber essa expertise. A gente, agora, nesta segunda vinda, espera concretizar tudo”, conta o empresário brasileiro.

Apesar da vontade de expandir o negócio da Senior Advanced, atraído pela florescente economia portuguesa, uma das razões que levou Rubens a procurar novos mercados foi, também, a presente (e asfixiante) situação da economia brasileira. “Nós temos hoje um sistema tributário que é muito pesado, que asfixia as empresas. O empresário, o empreendedor tem que fazer malabarismo o tempo inteiro para sobreviver.”

Com Rubens Fileti está Marco César Chaul, 47 anos, presidente da brasileira Neokoros, empresa tecnológica que, desde 2002, desenvolve projetos de identificação biométrica, mas igualmente vice-presidente da Federação do Comércio e presidente do Sindicato Patornal das Empresas de Informática no Estado de Goiás.

Marco César vai acenando, em concordância, enquanto Rubens se lamenta. E lamenta-se também, de seguida: “É verdade, o Brasil está com grandes dificuldades nos últimos anos. Temos muitas restrições, muitos impostos, as empresas grandes estão com problemas e as pequenas e médias, que muitas vezes dependem dessas empresas grandes, vão fechando. A gente tem parcerias com empresas, nomeadamente uma empresa coreana, que podem vir para o mercado Europeu. Mas Portugal pode servir para a Neokoros chegar à Europa sem precisar de terceiros. Esse é o meu primeiro ano na Web Summit e já há duas ou três empresas interessadas na gente, e estamos conversando.”

Voltemos a Ediane e Lucas Sanabio e à situação “insustentável”, dizem, que estavam a viver no Brasil antes da mudança para Portugal. “Nos últimos 14 anos de Governo de esquerda, realmente, teve corrupção chegando a um nível que até quem já roubava se assustava”, começa por gracejar Lucas, prosseguindo em toada séria: “Tenho diversos amigos empresários que têm empresas consolidadas, financeiramente sustentáveis, e que, ao saberem que me mudei para Portugal, me disseram 'se a esquerda continuar no Governo, a gente sai também'.”

A esquerda não continuou e Bolsonaro venceu as eleições brasileiras. Ediane Sanabio afirma que apoiou a eleição do candidato do Partido Social Liberal, não tanto “para castigar a esquerda”, mas por “acreditar nas ideias económicas” do antigo capitão do exército. “Não existe isso de ele sair matando homossexuais na rua, de ser um machista ou racista. Não existe isso”, garante taxativamente. “É verdade que muita gente votou nele por ser o menos mau. A gente está sem opção. Então, Bolsonaro é uma esperança de algo melhor.”

Lucas prossegue os elogios do casal Sanabio: “Os brasileiros não endoideceram, não estão votando num lunático. A sensação do brasileiro é que estava tudo numa bagunça, tão ruim, tão ruim que qualquer um que entrasse, não querendo atrapalhar, conseguia melhorar. E o próprio mercado financeiro já está enxergando da mesma forma que nós. Os investimentos estão voltando para o Brasil”, reitera.

O vice-presidente da Federação do Comércio de Goiás, Marco César Chaul, alinha pelo mesmo diapasão, embora referindo que só apoiou Bolsonaro na segunda volta eleitoral. “Bolsonaro já está a ser benéfico. Já há o anúncio de muitas multinacionais que pretendem voltar a investir no Brasil, nomeadamente em Goiás, montando fábricas, como é o caso da JAC Motors. Houve muitas fake news sobre Bolsonaro. Falavam que ele era um ditador e tudo mais. E já se está a provar o oposto. Olhe a equipa que ele montou… Um ditador não faria isso nunca”, garante.

Rubens, da Senior Advanced, elogia também as escolhas de Bolsonaro para o Governo. “É verdade que o Bolsonaro está montando um team de sonho. Tem pessoas muito fortes na economia, na justiça, na tecnologia... São pessoas que conhecem o meio empresarial. Na economia, o ministro da Fazenda é uma pessoa, como dizer?, fora da curva. Paulo Guedes é um grande investidor, chegou de uma grande corporação, é um cara que tem uma história de sucesso. A gente está acreditanto muito nesse próximo Governo, não pelo Presidente mas pelo team dele”. E Marco César atira: “O astral já está bem melhor.”

Outro elogio recorrente entre os empresários brasileiros na Web Summit a Bolsonaro é o “emagrecer” do Estado. É pelo menos isso que aguarda Lucas Sanabio. “O facto de querer fazer o que está certo, que é reduzir o Estado, passando de 30 ministérios para 15, vai diminuir a despesa, diminuir a máquina pública, diminuir a burocracia no Governo, para que realmente as coisas funcionem. Agora, tem que usar o dinheiro para investir nas coisas que realmente importam, na educação, na saúde, e apoiar as empresas, principalmente as pequenas empresas. Você tem um banco no Brasil que fomenta a tecnologia e a inovação. Mas o investimento era na Venezuela, em tudo quanto é lugar menos no Brasil. Era uma máquina de corrupção”, acusa o proprietário da Simber.

Bem no fim, Rubens Fileti desabafa que “tudo o que de ruim tinha para acontecer, aconteceu nos últimos anos”. Marco César Chaul vai ainda mais longe: “Bolsonaro pode até não ser o melhor adubo para o país, mas vai ser um excelente pesticida”. Os dois, Rubens e Marco César, vão continuar em Portugal até sábado, à procura de negócios nesta que esperam vir a ser a “porta” europeia, voltando depois ao Brasil. Ediane e Lucas não esperam voltar no imediato, mesmo dizendo-se felizes com Bolsonaro. “Nós sabemos que a situação económica no Brasil, ela agora vai melhorar com o novo Presidente. Mas, mesmo assim, acho que ainda vai demorar para a gente chegar onde gostaria de chegar”.

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  • Atento
    07 nov, 2018 Leça da Palmeira, Matosinhos 09:45
    as esquerdas a engolirem em seco ...

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