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Ronaldo na Juventus e liga espanhola nos EUA. Como está a mudar o negócio do futebol

18 ago, 2018 - 14:00

Cada vez mais os clubes são projetados como empresas, que "sobrevivem, vivem e prosperam se perceberem onde está o mercado com dinheiro e poder beneficiar desse mesmo dinheiro".

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A transferência de Cristiano Ronaldo do Real Madrid para a Juventus agitou o mundo futebolístico, este verão. Além dos valores milionários envolvidos na transação (112 milhões de euros), a Juventus surgiu logo, não só como principal favorita a vencer o campeonato italiano (pela oitava vez consecutiva), mas também como uma das principais candidatas à conquista da Liga dos Campeões, título que escapa à “velha senhora” há mais de duas décadas.

Mas há muito mais para além da componente desportiva. A chegada de Ronaldo a Turim fez disparar a venda de lugares anuais no estádio da Juve e esgotou as camisolas oficiais com o número 7.

“A verdade é que praticamente um mês depois desta novela, estou convencido que um terço da transferência do Ronaldo está paga só com merchandising”, diz Camilo Lourenço, em entrevista à Renascença.

O especialista em direito económico considera que a ida de Ronaldo para a Juventus está a "mexer com o negócio do futebol italiano" e é capaz de fazer renascer na cena internacional uma liga "que desapareceu das nossas memórias desde os anos 90".

"A Juventus mostrou que afinal mesmo um jogador com 33 anos é capaz de ser rentável e que é possível recuperar esse investimento. Outros clubes, para não ficarem atrás, começaram a equacionar também as suas contratações e, de um momento para o outro, já começamos a falar de Itália", constata.

Jogos da liga espanhola nos EUA é "decisão acertada"

Já sem o craque português, também a liga espanhola se está a reinventar. Esta semana, o organizador da competição e a Relevent, um grupo multinacional norte-americano de meios de comunicação de desporto, assinaram um acordo que prevê que os EUA recebam já esta temporada um jogo do campeonato espanhol.

"É a decisão mais acertada que eu já vi de uma liga europeia", diz Camilo Lourenço. Para o economista, este acordo, que tem a duração de 15 anos, segue a tendência de internacionalização das ligas europeias iniciada pela Premiere League, quando mudou os horários dos jogos para que pudessem sem transmitidos em horário nobre na Ásia.

Camilo Lourenço elogia a liga inglesa, por ter percebido "que o seu principal mercado estava na Ásia e não na Europa". "Transformou a sua realidade interna para poder beneficiar desses milhões de dólares que viriam das receitas de vender jogos e camisolas para aqueles mercados", constata, lembrando que "também, durante o verão, algumas das equipas de topo europeias começaram a fazer torneios na Ásia".

Campeonato português devia apanhar o comboio da internacionalização

Na opinião de Camilo Lourenço, se a proposta de realizar alguns jogos do campeonato noutro país e noutros fusos horários tivesse surgido em Portugal, "iam aparecer todo o tipo de desculpas" para que não fosse avante.

Desde a diferença horária, a viagens longas, à condição física dos jogadores que pode ser comprometida, vários são os obstáculos que podem ser levantados. "Mas a verdade é que há equipas como o Real Madrid e o Barcelona dispostas a correr este risco", constata.

E explica: "é lá que está o dinheiro, é um mercado de 300 milhões de pessoas. O mercado europeu está praticamente esgotado e a liga espanhola percebe que tem que dar o salto para aquele mercado".

O economista considera que cada vez mais os clubes são projetados como empresas, que "sobrevivem, vivem e prosperam se perceberem onde está o mercado com dinheiro e poder beneficiar desse mesmo dinheiro".

Por isso, "os clubes portugueses, em vez de andar aqui com episódios como Alcochete, ou este devia ser expulso, aquele não, deviam estar preocupados em criar uma marca internacional. O Benfica, o Porto e o Sporting só vão sobreviver no futuro e ter projeção a nível mundial se criarem essa imagem, essa marca que tem o Real Madrid, o Barcelona, o Manchester", sentencia.

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  • Augusto
    20 ago, 2018 Colorado, USA 21:58
    Dinheiro nao e' tudo. Mas, se os clubes qurem ter posses financeiras para deselvolver e comprar os melhores jogadoes, e os clubistas quererem os seus respectivos clubes com bons jogadores para nao so' o campeonate nacional mas tambem os torneios internacionais, tem mesmo que mudar a maneira de pensar. Concordo com o autor do artigo. E, clubes Portugueses de facto teriam problemas em mudar, mas as equipas de posse sabem bem o tem tem a fazer. Nao pudemos ter tudo ... ou clubes mais ou menos marginais (a nivel mundial) our clubes com poder de compra a nivel internacional.
  • Filipe
    20 ago, 2018 évora 14:22
    É uma forma de escravatura rica onde é comercializada a carne humana a peso de ouro a exemplo dos guerreiros das arenas da antiga Grécia no começo dos Jogos Olímpicos . Eram atulhados com anfetaminas para darem o máximo rendimento . Estes coitados , marcam golos mas não sabem jogar futebol , ganham Bolas de Ouro porque interessa vender camisolas autografadas , era mesmo estranho o melhor guarda redes do Mundo ganhar hoje uma Bola de Ouro ... futebol para atiçar a economia paralela .
  • Cidadão
    19 ago, 2018 Planeta Terra 14:21
    E viva o bezerro de ouro!!! Tudo vale e tudo se faz em prol da velha divindade. Tudo está bem!!! Rezem para que os "mercados emergentes" não registem novo baby boom... Já estou a vêr as equipas da bola a entrarem equipados de fraldas!!! Magister dixit

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