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Como vai ser o resgate dos jovens tailandeses presos numa gruta? "Traumatizante"

03 jul, 2018 - 15:59

É o que defende o diretor da Escola Portuguesa de Salvamento, apesar de estar otimista. À Renascença, Francisco Rocha explica os dois cenários possíveis para retirar o grupo de crianças e jovens, uma operação que pode levar dias, senão meses, a estar concluída.

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Doze alunos e professor encontrados com vida em gruta na Tailândia
Doze alunos e professor encontrados com vida em gruta na Tailândia

Os doze rapazes e o seu respetivo professor que foram encontrados vivos numa gruta da Tailândia depois de nove dias retidos no seu interior vão ser resgatados nos próximos dias, numa operação que deverá correr bem mas que não deixará de ser "traumatizante" para as crianças.

É o que defende à Renascença Francisco Rocha, o diretor da Escola Portuguesa de Salvamento, a única escola nacional com formação para este tipo de resgates.

A gruta onde os jovens estão presos tem um percurso horizontal e a parte mais funda atinge uma profundidade máxima de cinco metros. Assim explica Francisco Rocha, apontando que, na Tailândia, o mapeamento topográfico é escasso e a gruta não está delimitada metricamente como acontece com formações geológicas semelhantes na Europa.

Apesar disso, o responsável da Escola Portuguesa de Salvamento diz-se otimista na operação que irá decorrer nos próximos dias para resgatar o grupo de alunos e o seu professor, a ser preparada depois de terem sido encontrados com vida no interior da gruta em questão.

Para compreender o que está a manter o grupo preso no interior da gruta, o diretor da escola esboça no quadro o recorte que tem impedido a passagem das vítimas e que promete dificultar a sua retirada.

A juntar a isso, há a referir que a Tailândia está a atravessar a sua época de monções, pelo que o nível da água pode variar muito rapidamente e trocar as voltas às equipas de resgate. Foi, aliás, isso que aconteceu depois de as crianças entrarem na gruta, isto porque a zona freática era mais baixa e o canal principal depressa se encheu de água com as chuvas fortes.

Mas afinal, como se vai proceder ao resgate das crianças? Francisco Rocha explica que há duas estratégias possíveis.

Hipótese 1: Técnica de Drenagem

A equipa britânica que viajou até à Tailândia para apoiar as autoridades locais está a apostar no bloqueio do caudal da água com sacos de areia.

É a chamada "técnica de drenagem", para a qual é necessário "calcular o débito de água que está a entrar e perceber se há capacidade de bombagem, ao mesmo tempo que ocorre o débito da água", esclarece o especialista português. "A bombagem tem de ser superior ao débito da água, para se poder drenar e deixar a passagem desobstruída”, adianta.

Para o diretor da Escola Portuguesa de Salvamento, esta estratégia fica comprometida em caso de elevada precipitação, até porque “há duas entradas na gruta e o caudal freático de água entra no sentido em que eles têm de sair.”

Hipótese 2: Espeleo Socorro

Não podendo aplicar a primeira estratégia, os operacionais que estão no local terão de passar à atuação conhecida por “espeleo socorro”. Para o procedimento, utiliza-se o escafandro, uma maca em que as garrafas são colocadas lateralmente e capacetes que asseguram a respiração. Os mergulhadores seguiriam laterais à maca, ajudando ao transporte através do estreito canal.

Francisco Rocha nota que estas operações são “normalíssimas”, apesar de “demoradas”, porque seria necessário que os elementos da equipa de salvamento mergulhassem, de forma a transportar as vítimas uma a uma, com descansos entre resgates.

O diretor da Escola Portuguesa de Salvamento, que já esteve em operações do género em território internacional, nega uma das informações que têm vindo a público: "É mentira, ninguém os vai ensinar a mergulhar, e nem sequer seria possível."

"Os miúdos virão sempre no topo da água, vão molhar-se o menos possível, até porque são meios muito lamacentos, a ponto de a lama se agarrar às botas. Mas será traumatizante para eles”, adverte Francisco Rocha.

"Dez dias não são muito tempo em casos como estes”

Francisco Rocha admite que as condições da gruta são difíceis de suportar para os rapazes, com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos, e para o treinador da equipa de futebol de 25 anos. "A humidade será sempre acima dos 90%, isso é garantido. A temperatura média rondará os 14ºC, até aos 17ºC", assegura o técnico das operações portuguesas.

Quanto à luminosidade no interior da câmara da gruta, Francisco Rocha realça que é de “grau zero, nada, nenhuma", o que, para o operacional, significará um impacto violento quando as vítimas forem retiradas. “Ao saírem, vão ter de ser protegidos, porque eles estiveram bastantes dias sem ver luz. Eles não podem abrir os olhos sem colocar óculos de sol, senão terão um choque", deslinda Francisco Rocha.

No entanto, o diretor da Escola Portuguesa acredita que dez dias não são um período anormal para operações como esta, relembrando a história “milagrosa” dos mineiros chilenos, em 2010, que estiveram cerca de 70 dias retidos debaixo de terra. "A sobrevivência humana vai até períodos superiores a este e as crianças têm uma capacidade de resistência superior à de qualquer adulto", acrescenta.

Para Francisco Rocha, a situação é particularmente difícil para o único adulto que permanece na gruta, “porque o instinto de sobrevivência faz com que os miúdos fiquem alterados e possam fazer algumas tentativas arriscadas, como mergulhar."

Os próximos dias serão determinantes para o sucesso do resgate e trarão boas notícias, segundo o diretor da Escola Portuguesa de Salvamento, que confia em absoluto na competência das equipas no local.
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  • Joao
    05 jul, 2018 Lisboa 12:29
    Mergulhadores experientes colocam cabo guia espaçado de obstaculos para correr " casulo " impermeável hidrodinamico, que corre atraves de zona inundada.e ao longo da guia puxada por motor no exterior (um a um)

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