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Argélia já obrigou mais de 13 mil migrantes a atravessarem deserto sem comida nem água

25 jun, 2018 - 17:05

Vídeo publicado pela Associated Press mostra centenas de pessoas a atravessarem o Sahara sob 48 graus de temperatura.

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A Argélia está a ser acusada de maus-tratos a migrantes por ter abandonado, nos últimos 14 meses, mais de 13 mil pessoas no deserto do Sahara, incluindo grávidas e crianças, sem comida nem água. Fonte do Governo argelino já veio rejeitar as acusações.

Um vídeo obtido pela Associated Press e divulgado esta segunda-feira mostra centenas de pessoas a caminharem pelo deserto sob temperaturas a rondar os 48 graus centígrados. A maioria caminha rumo ao Níger, onde se têm amontado relatos de gente a coxear e profundamente desidratada a atravessar uma faixa de 16 quilómetros, considerada "terra de ninguém", até chegarem à cidade fronteiriça de Assamaka.

A agência de notícias aponta que os migrantes têm estado a ser expulsos da Argélia sem quaisquer mantimentos e forçados, por vezes na mira de armas de fogo, a caminhar sob o calor intenso até entrarem no Níger. Há relatos de grupos a vaguear durante dias pelo Sahara até serem resgatados por uma equipa da ONU.

Muitos, um número não calculado, morrem. E os mais de 20 sobreviventes que partilharam as suas histórias com a AP falam de grupos de pessoas que simplesmente desaparecem. "Há mulheres mortas no chão, homens... Outras pessoas desaparecem no deserto porque não sabem o caminho", conta Janet Kamara, que estava grávida quando, ela própria, foi forçada a atravessar o deserto. "Cada um está por sua conta."

À agência, a liberiana conta como passou duas noites ao relento até ter sido resgatada juntamente com as outras pessoas do seu grupo. "Perdi o meu filho, a minha criança", partilha. O seu caso não é único: uma outra mulher, jovem, com pouco mais de 20 anos, também perdeu o bebé ao entrar em trabalho de parto no deserto, relata Kamara.

As expulsões em massa de migrantes pela Argélia pioraram em outubro de 2017, quando a União Europeia reforçou a pressão sobre os países do Norte de África para que impedissem requerentes de asilo de partirem rumo à Europa pelo Mediterrâneo ou pelo sul de Espanha.

Contactada pela agência, uma porta-voz da União Europeia disse que Bruxelas está a par do que a Argélia está a fazer, mas escudou-se no facto de "países soberanos" poderem expulsar migrantes desde que respeitem o direito internacional.

Ao contário do Níger, a Argélia não recebeu qualquer apoio financeiro da UE para gerir a atual crise de migrantes, apesar de, entre 2014 e 2017, ter recebido 111,3 milhões de dólares (cerca de 95 milhões de euros) do bloco em ajuda humanitária.

O país continua sem divulgar números das expulsões. Contudo, dados da Organização Internacional para as Migrações mostram que o número de pessoas que atravessam a fronteira com o Níger a pé tem estado a aumentar. O grupo começou a registar essas entradas em maio de 2017, num número que em abril deste ano já se situava nas 2888 chegadas ao Níger.

Ao todo, e também segundo dados da OIM, um total de 11276 homens, mulheres e crianças sobreviveram à travessia do Sahara nos últimos 14 meses. Pelo menos outras 2500 pessoas foram forçadas a fazer uma travessia semelhante mas em direção ao Mali, não se sabendo quantas morreram pelo caminho.

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