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Menos portugueses. Vamos ser oito milhões em 2070

06 jun, 2018 - 08:09

Menos gente ativa vai conduzir um o potencial menor de crescimento económico, prevê a Comissão Europeia. Mas o sistema de pensões deverá resistir.

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Portugal deverá ter apenas oito milhões de habitantes em 2070 (menos 23% do que hoje), classificando-se assim como um dos países europeus onde a população mais vai decrescer.

A previsão é da Comissão Europeia e consta do Relatório trienal sobre Envelhecimento, publicado a cada três anos. Segundo o documento, citado pelo “Diário de Notícias” e pelo “Dinheiro Vivo”, o recuo populacional em Portugal é apenas superado por alguns Estados do Leste e pela Grécia.

Com menos cerca de dois milhões, daqui a 50 anos Portugal terá também menos gente em idade ativa (ou seja, entre os 15 e os 64 anos): menos 37%. O que terá efeitos no crescimento económico, cujo potencial passará a ser o mais baixo da Europa – até porque as horas trabalhadas deverão diminuir 28%.

Resumindo, o quadro pintado pela Comissão antevê um emprego total a evoluir negativamente, uma maior destruição de empregos, um envelhecimento acelerado da população, o avanço lento da natalidade e um saldo migratório que, apesar de positivo (mais imigração que emigração), será insuficiente para renovar a economia e a sociedade portuguesas.

Uma “quantidade de problemas muito graves”

Na opinião do sociólogo Manuel Carvalho da Silva, o cenário traçado por Bruxelas traz “uma quantidade de problemas graves”, entre eles o aumento da desigualdade e a pressão para se manter salários baixos.

“O fascínio com o impulso do turismo”, exemplifica, “pode trazer investimento, mas perpetua um modelo onde proliferam os baixos salários”. E “há demasiados cenários apocalípticos quando se pensa nos avanços tecnológicos que estão a acontecer ou para vir”, avisa em declarações ao DN/Dinheiro Vivo.

Carvalho da Silva destaca, a este propósito, o facto de haver “cada vez mais empresários que, de forma séria, dizem que têm falta de trabalhadores com mais qualificações”.

No seu entender, “isto não é senão um reflexo da total falta de estratégia económica que já vem de trás e continua”.

“Num cenário destes, a relação entre gerações torna-se disfuncional”, alerta ainda o sociólogo.

Com menos gente, era bom que aqueles que durante a crise foram trabalhar e estudar para fora voltassem. Carvalho da Silva alerta assim para a “leviandade com que foi tratada a questão da emigração, sobretudo pelo Governo do PSD-CDS”, durante o qual (e na sequência das medidas da troika) terão emigrado meio milhão de pessoas.

“Até as universidades venderam a ideia de que era bom sair da zona de conforto”, lembra o antigo secretário-geral da CGTP.

“Hoje, gostaríamos que essas pessoas regressassem, mas isso não vai acontecer. Não há uma estratégia integrada para dar mais valor à economia, uma política de habitação. Ninguém irá voltar assim, deixando uma vida para trás, para ganhar aqui mais uns trocos”, considera.

Pensões resistem?

O relatório da Comissão Europeia aponta para a sustentabilidade do sistema de pensões, mesmo com a população a envelhecer. Isto, porque a idade da reforma vai aumentando gradualmente.

Hoje, em média, as pessoas reformam-se pouco depois dos 64 anos. Daqui a 50 anos, já será aos 66, segundo a previsão do executivo comunitário.

Trabalham mais, mas recebem menos. Se hoje uma pensão média equivale a 68% do salário que resulta da carreira contributiva, em 2070, representará 56%. Daí o menor peso no sistema de pensões.

Mais despesa com saúde

Pelo contrário, o peso sobre o setor da saúde e dos cuidados continuados irá aumentar: de 6% para 8,3% do PIB no caso da saúde em geral e de 0,5% para 1,4% no campo dos cuidados continuados.

Previsto é também o aumento da esperança média de vida. As mulheres deverão passar a viver, em média, até aos 90 anos (hoje é até aos 84) e os homens até aos 86 (hoje é 78).

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  • MASQUEGRACINHA
    06 jun, 2018 TERRADOMEIO 16:00
    Para lá da visão descontextualizada e redutora destas contas (parece que Portugal existe sozinho, ou a Europa, e que a questão demográfica global não tem influência nenhuma...), durante quanto tempo mais se continuará a negar a realidade e a demorar a reconhecer que o paradigma demográfico mudou, porque o paradigma económico mudou? Mais gente para quê? Para termos batalhões de jovens desempregados, a lutarem pelos empregos que sobrem das "Lolas" e outras maravilhas tecno-proletas que aí estarão, em todo o lado, a curto prazo? Cheios de ódio pela "peste grisalha" que teima em ficar viva, roubando-lhes as parcas oportunidades e sugando-lhes contribuições para as reformas? Depois, como compatibilizar isso com o facto, também evidente, de hoje um ser humano continuar economicamente útil, como produtor e consumidor, até muito mais tarde, e em tendência crescente? E que, aplicando-se os devidos impostos sobre as actividades automatizadas, reformas, estado social e justa remuneração do trabalho serão perfeitamente exequíveis? Desde que se controle o crescimento demográfico, evidentemente, uma vez que não se pode ter tudo: teremos uma vida mais longa e produtiva, mas seremos menos, porque existirá muito menos emprego. Ou isso, ou hordas de miseráveis, ou "eutanásia social". Suponho que, para nos proteger das invasões dos bárbaros africanos e outros que tais (pouco automatizados, mas altamente prolíficos), bastarão armas "inteligentes"...

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