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20 anos da Expo 98

O fantasma da refinaria

16 mai, 2018 - 08:00 • Dina Soares , Joana Bourgard

Durante meses, os moradores da zona sul do Parque das Nações não puderam abrir as janelas. Um intenso cheiro a petróleo atacava os olhos e as vias respiratórias. As análises revelaram que a origem do cheiro estava nos terrenos contaminados onde decorriam obras. Os moradores protestaram, apresentaram provas, mas as autoridades nada fizeram. A Renascença recorda a Expo com 20 histórias da maior intervenção feita na cidade de Lisboa desde o terramoto de 1755.

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Foi o cheiro que denunciou a situação. Um cheiro intenso a petróleo, como quando se está a abastecer o carro num dia de muito calor e se libertam vapores vindos do depósito. Foi assim que os moradores da zona sul do Parque das Nações se aperceberam de que algo se passava nos terrenos onde decorriam as obras de ampliação do Hospital CUF Descobertas.

“Chegou-se à conclusão de que os solos estavam contaminados. Infelizmente, toda a gente tentava fingir que não era nada. Conseguimos provar, através de análises, que havia ali contaminação, mas a situação passou incólume”, lamenta Carlos Ardisson, morador no Parque das Nações e um dos líderes da luta pela descontaminação dos solos.

Dos 40 mil metros cúbicos de terrenos retirados para a construção do novo edifício, pelo menos 11 mil estavam contaminados com hidrocarbonetos resultantes da refinaria que ali funcionava.

Comissão de inquérito nunca reuniu

Os moradores organizaram-se, protestaram, pediram explicações. O governo acabou por promover a criação de uma comissão para estudar o problema. A Comissão integrava representantes da Câmara de Lisboa, da Agência Portuguesa do Ambiente, da Comissão de Coordenação Regional e ainda a Direção Geral de Saúde. Carlos Ardisson confirma: “Foi realmente criada uma comissão que nunca se reuniu e que já se extinguiu. O terreno foi construído e agora já não cheira.”


Já não há cheiro, mas ninguém sabe se a contaminação continua ou não. Carlos Ardisson apurou, entretanto, a origem do problema. “Os terrenos estariam contaminados até uma profundidade de seis metros. A Câmara de Lisboa, quando recebeu a gestão do espaço, autorizou a CUF Descobertas a construir um estacionamento com cinco pisos subterrâneos e essa situação veio expor os solos contaminados que lá estavam por baixo.”

Carlos Ardisson sabe que os solos, pelo menos em parte, foram retirados, mas não se sabe para onde foram levados. Mesmo assim, de vez em quando, os moradores ainda detetam manchas de óleo no Tejo e quem mora perto do hospital sente, por vezes, irritação nos olhos e nas vias respiratórias.

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