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Pedro Abrunhosa alerta para o perigo dos populismos na Europa

12 mai, 2018 - 09:50 • Maria João Costa

Sessão de abertura do Festival Literatura em Viagem, em Matosinhos com direito a mini concerto. Pedro Abrunhosa, que terá novo álbum em outubro, foi o convidado. Falou de livros, viagens, a Europa atual e cantou.

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O piano estava na sala, mas a palavra fez a primeira parte da sessão de abertura do Festival Literatura em Viagem. O convidado da noite foi Pedro Abrunhosa. O músico abriu a 12ª edição deste festival literário organizado pela autarquia de Matosinhos em torno dos livros de viagem. Abrunhosa não só falou sobre os livros que o marcaram como das viagens que fez.

Ao público presente contou que começou a “viajar muito cedo, tinha 13 anos”. Recordou a viagem de comboio que em 1974 fez entre o Porto e Lausanne onde foi ter com “um tio que era engenheiro químico que estava na Suíça”.

Para o músico, que descreveu o ato da viagem como “uma transumância constante”, aquela foi “uma experiência enriquecedora porque Portugal era ainda um país de negro, saído de 48 anos de ditadura” e ali, sem ainda haver “low cost”, a viagem fazia-se “comendo centímetro a centímetro de chão”, descreveu Pedro Abrunhosa.

“Viajar é um permanente descobrir” definiu o músico em Matosinhos, e considerou que “foi essa descoberta de mundos” que o fez ganhar “alguma autoestima” porque lhe permitiu “perceber que o mundo é diferente e desigual”.

A ideia serviu a Pedro Abrunhosa para introduzir a questão do medo e do racismo. “Geralmente pessoas que têm uma postura muito pouco democrática na vida, alguns políticos, mas também alguns artistas, pessoas que não sabem ouvir e que têm medo do desconhecido, do outro, dos emigrantes; isso tem reflexos para a vida social e são tremendos”, afirmou o compositor que em outubro irá lançar um novo disco.

Pedro Abrunhosa partilhou com o público outra das suas viagens, aquela que fez ao campo de concentração de Auschwitz, antes da queda do Muro de Berlim. Foi um momento marcante, contou o músico que descreveu a “neblina cinematográfica” que estava às 7 da manhã no dia em que passou algumas horas no campo de concentração, sozinho, sem que houvesse outros visitantes.

A experiência de Auschwitz, descrita como “avassaladora”, levou Pedro Abrunhosa a questionar “como é que a alta cultura permitiu o holocausto?”. A interrogação é pertinente nos dias de hoje diz o músico porque “estamos a assistir à tomada do poder por entidades sinistras e populistas”.

Para Abrunhosa, “hoje em dia a culpabilização não é dos judeus, é dos emigrantes, por isso a Europa está num momento importantíssimo”. O autor alerta para o risco da eleição de “populistas, membros da extrema-direita que poderão levar a um cenário extremamente preocupante perante o qual a alta cultura não está a fazer nada, uma vez mais!”

Numa altura em que estão a acontecer “novas perseguições raciais e discursos de ódio”, diz Pedro Abrunhosa, é preciso olhar para a cultura. “Se há atividade humana que deixa sementes e sementes de bondade, é a cultural. Cria dignidade, sentido de respeito e de memória. Cria pessoas maiores”, afirmou o músico, para quem “a literatura continua a ser a única salvação”.

Depois de abrir alguns dos livros que leu e de olhar para o programa do Festival Literatura em Viagem, Pedro Abrunhosa confessou que, ao ver o piano na sala, percebeu que havia a expectativa que cantasse.

O público assim o pediu. Juntou-se à noite o pianista Eurico Amorim, que tocou enquanto Pedro Abrunhosa interpretou duas músicas suas. Foi com a composição “Para os braços da minha mãe” que encerrou a noite, com o músico a cantar em coro com o público o refrão deste tema que Abrunhosa gravou com fadista Camané.

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