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“Há uma psicose” pela limpeza dos terrenos, diz autarca de Pedrógão Grande

09 abr, 2018 - 07:52 • Susana Madureira Martins

Valdemar Alves diz que é preciso “trazer mais vida” aos concelhos vitimados pelos incêndios e que as segundas habitações são tão importantes quanto as primeiras. À Renascença garante que o concelho vai estar alerta para a próxima época de fogos.

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O presidente da Câmara de Pedrógão Grande considera que a limpeza dos terrenos se tornou “uma psicose, quer da Assembleia da República, quer do Governo, quer do senhor Presidente da República”.

Valdemar Alves diz que é preciso ser “realista”, que “as matas têm de ser limpas”, mas que se anda numa “psicose que parece que não têm mais nada com que se preocupar”.

Na conversa com a Renascença, o autarca de um dos concelhos mais afetados pelos incêndios de junho do ano passado garante que “a limpeza tem de se fazer e foi sempre feita” e lamenta que as pessoas não tenham tido “grande tempo para limpar”, insistindo que “os próprios proprietários andam a limpar”.

E acrescenta: “Nos terrenos que foram vítimas dos incêndios”, as pessoas “têm outras preocupações: trazer mais vida a estes concelhos e freguesias”.

As Câmaras Municipais têm até 31 de maio para se substituir aos proprietários que não limpem os terrenos. Questionado sobre se no concelho de Pedrógão Grande há agora o receio pela aplicação de multas, Valdemar Alves volta a dizer que essa “é outra psicose, a das multas”.

O autarca admite, contudo, que “poderá haver um ou outro” proprietário que poderá não limpar “por teimosia” e, nesse caso, a Câmara Municipal limpará, cobrará e chamaremos a GNR para aplicar as coimas devidas”.

Valdemar Alves acredita que tal “não será necessário”, por existir “um coletivo de consciência que as coisas têm de ser limpas, como foram sempre limpas todos os anos”.

A escassos meses de fazer um ano sobre a tragédia dos incêndios na Beira Interior, Valdemar Alves promete que, em relação ao próximo verão, a autarquia irá estar alerta “sobretudo junto das zonas onde está verde, que não arderam”, desabafando que tem medo “da transformação dos ventos” e esperando que Pedrógão Grande esteja preparado “para enfrentar os tufões ou furacões, porque estes últimos incêndios deveram-se ao tipo de ventos que apareceram no nosso território” e que é preciso “ter essa noção”, acrescenta.

As segundas habitações são tão primeiras como as outras”

Questionado sobre como correm os apoios à população que foi afetada pelos incêndios de junho, Valdemar Alves, eleito presidente da Câmara nas listas do PS, considera que “o Governo não tem faltado com as ajudas, a Segurança Social está em cima do acontecimento, os serviços de saúde estão a acompanhar as situações, as companhias de seguros indemnizaram toda a gente”.

Relativamente às obras das habitações, o autarca garante que “as primeiras habitações estão todas prontas” e as que “não entraram em obra vão entrar” – e só “não entraram por causa das chuvas”.

Mas há um problema para o autarca de Pedrógão Grande que é o das segundas habitações. O “Governo já criou um incentivo de financiamento” para estes casos, mas o presidente da Câmara propõe que o financiamento para a reconstrução destas casas seja de “50% sem juros e 50% a fundo perdido”, considerando que as que são designadas por “segunda habitação são tão primeiras como as outras”.

Valdemar Alves sublinha que os proprietários destas casas “são pessoas que, por força da falta de emprego em Pedrógão, tiveram de ir para Lisboa, Porto, Inglaterra, Alemanha, França” e que, em vez de investirem nesses países ou cidades, investiram em “Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pêra e Pedrógão” e que é preciso “olhar por essas pessoas”.

Nesta conversa com a Renascença, o autarca considera que “foi o azar dos incêndios de outubro” que obrigou o Governo a secundarizar estas casas, “porque senão o Governo também teria reconstruído as segundas habitações”.

“Vamos esperar”, remata, na esperança de “novas ajudas” que aí vêm de “muitas empresas e homens de bom coração que estão à espera do melhor momento para ajudar quem precisa”.

Ainda estou a sofrer muita coisa”, diz o padre de Pedrógão Grande

Em relação aos apoios à população, o padre de Pedrógão Grande considera que “as coisas começaram a andar tarde”. Júlio Santos desabafa com a Renascença que “as pessoas queixam-se” e sentiram-se defraudadas”, algumas “pelos donativos que vieram, como foram entregues, a nível desses fundos que vieram do REVITA”, o Fundo de Apoio às Populações e à Revitalização das áreas afetadas pelos incêndios de junho do ano passado.

Questionado se é um padre mudado desde a tragédia dos incêndios, Júlio Santos confessa que ainda está “a sofrer muita coisa”, principalmente porque vê que “as coisas estão a demorar, as obras estão a demorar” e ouve “as pessoas dizer que estão a receber e outras não estão a receber”, havendo uns “que sabem pedir e outros que não sabem pedir” os apoios.

Ou seja, “as coisas não andam ao ritmo que deviam andar”, conclui o padre Júlio Santos, que considera que “deviam ter começado logo a andar e começaram a andar tarde”, lamentando que se “perdeu um tempo em reuniões ao nível de responsáveis, do Estado, do poder civil, perdeu-se muito tempo com essas reuniões e debateram-se ‘lanas-caprinas'”.

Para o pároco de Pedrógão Grande, “quando tem de se agir nessas situações” tem de ser “sob impulso do coração”.

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