04 abr, 2018 - 14:44 • Ângela Roque
Intitulada “O fim de vida: sim à urgência da fraternidade”, a declaração dos bispos franceses é conhecida numa altura em que cresce a pressão para legalizar a eutanásia em França e em vários países europeus. O documento reafirma a oposição da Igreja ao “suicídio assistido por médicos” que, à luz do código ético profissional, devem levar a cabo a sua missão “com respeito pela vida humana, pela pessoa e pela sua dignidade”.
“É urgente salvaguardar a vocação médica” e a relação de confiança entre médicos e doentes, sublinham os responsáveis católicos, para quem “matar invocando a compaixão” é “inaceitável”. Na declaração, subscrita por 181 prelados franceses, é considerada falsa a ideia de que o suicídio assistido é uma “opção pessoal”, que não afeta mais ninguém além dos próprios, porque “as feridas do corpo individual são feridas do corpo social". No documento defendem que, "se alguém toma a opção desesperada de se suicidar, a sociedade tem a obrigação de prevenir este ato traumático”.
“Não importa quais são as nossas convicções, o final da vida é um tempo que todos vamos viver. Queremos, sobretudo, mostrar a nossa absoluta compaixão por todos os nossos irmãos e irmãs que estão em final de vida. Que humanidade, que atenção, que tipo de ajuda lhes daremos?”, questionam os bispos, elogiando os profissionais de saúde que proporcionam cuidados paliativos aos doentes, porque, dizem, é essa que deve ser a prioridade e a aposta.
“As pessoas cujas vidas se estão a aproximar do fim estão, quase sempre, vulneráveis e devem ser assistidas com solidariedade e apoio, não com um gesto de morte”, afirmam os prelados, lembrando que mesmo os “doentes terminais”, que tantas vezes experimentam o desespero, não devem ser deixados “com prematuro abandono ao silêncio da morte”, antes “acompanhados mais atentamente”.
No documento, os bispos recorrem ainda à parábola do bom samaritano - que ajudou um estranho que encontrou ferido, não deixando que ele morresse –, para desafiar os franceses em geral, e os deputados em particular, a tomarem consciência do que é preciso fazer para “construir uma sociedade fraterna em França, cuidando uns dos outros, tanto pessoal quanto coletivamente”.