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Um dia de "não indiferença" e jejum pela paz no Congo e no Sudão

23 fev, 2018 - 07:06 • Ângela Roque

Francisco pediu aos não católicos que se associem à iniciativa. É a segunda vez que o Papa convoca este tipo de iniciativa. A outra foi em 2013 e a jornada mundial de oração foi pela paz na Síria.

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Nos últimos meses foram vários os apelos do Papa Francisco para o fim da violência, tanto no Sudão do Sul como na República Democrática do Congo (RDC), país que planeou visitar em 2017, mas cuja viagem acabou por ser anulada por falta de condições de segurança. Por diversas vezes alertou para os “confrontos brutais” que estão a dizimar a população, denunciou o massacre de mulheres e crianças, o uso dos mais novos como crianças-soldado, e pediu à comunidade internacional que tome medidas.

No início deste mês, Francisco anunciou uma “jornada especial de oração e jejum pela paz”. Marcou-a para este dia 23 de fevereiro, a “sexta-feira da primeira semana da Quaresma”. Justificou-a com o “trágico arrastamento de situações de conflito em diversas partes do mundo”, mas esclareceu que seria especialmente dedicada “às populações da República Democrática do Congo e do Sudão do Sul”.

Francisco estendeu o convite a todos, crentes e não crentes. “Como noutras ocasiões similares, convido os irmãos e irmãs não católicos e não cristãos a associarem-se a esta iniciativa, das formas que julgarem mais oportunas, mas todos juntos”, afirmou o Papa, que antes desta só tinha convocado uma iniciativa semelhante em 2013. Dessa vez a jornada mundial de oração foi pela paz na Síria.

A 24 de novembro de 2017 na Basílica de S. Pedro, no Vaticano, Francisco já tinha presidido a uma oração pela paz no Sudão do Sul e na República Democrática do Congo, tendo anunciado nessa altura o envio de ajuda de emergência às populações das três dioceses congolesas mais atingidas pelo conflito. Em janeiro deste ano voltou a alertar para a situação no país. “Notícias preocupantes chegam da República Democrática do Congo: peço a todos os responsáveis que se empenhem ao máximo para deter toda a forma de violência e encontrar uma solução baseada no diálogo”, afirmou durante a visita que fez ao Perú. Já no regresso a Roma renovou o apelo à paz, depois de saber da violência com que foram reprimidas várias manifestações contra o presidente Kabila e que atingiu de forma particular os cristãos. Houve pelo menos 5 mortos, centenas de detidos, incluindo vários sacerdotes, e 134 paróquias foram cercadas, lembrou esta quinta-feira o Vaticano.

Há mais de 20 anos que a RDC é palco de confrontos armados, alimentados por conflitos étnicos e territoriais, mas a situação agravou-se depois das eleições presidenciais terem sido adiadas (deviam ter tido lugar em dezembro de 2016). Desde aí que Joseph Kabila se recusa a abandonar o poder, mas pela Constituição do país está proibido de se candidatar a um novo mandato.

Cáritas associa-se à iniciativa do Papa

A Cáritas Portuguesa anunciou, em comunicado, que se associa à jornada mundial de oração e jejum pela paz, como “um dia particular de atenção e de reflexão sobre a realidade dos países que vivem em guerra, em particular as vítimas dos dois países africanos, Sudão do Sul e República Democrática do Congo”, para que “se quebre o silêncio sobre a forma de vida destes dois países e das suas populações, que são vítimas diretas de decisões políticas que levam ao confronto e condicionam a vida das populações”.

A instituição católica lembra que “mais de três milhões de pessoas vivem com fome” na RDC, onde 400 mil crianças sofrem de má nutrição, e que também no Sudão do Sul “permanece um clima de medo e insegurança como resultado de conflitos étnicos e da ação de milícias”. Segundo os dados do Vaticano, sete dos 12 milhões de habitantes sudaneses precisam de ajuda humanitária urgente.

A nota termina pedido aos meios de comunicação social para darem “relevância a este drama”, para que a sociedade portuguesa possa ter consciência dele. E que “a indiferença não só torna mais.

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  • António Costa
    25 fev, 2018 Cacém 19:25
    O silêncio, sempre o silêncio, sobre países que parecem ficar no "fim do mundo". E sobre pobres populações que nem a este mundo parecem pertencer, tal é o silêncio que paira sobre o que se passa com elas.

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