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“A distância quebra-se com um cabo de fibra ótica”

20 fev, 2018 - 23:45 • Eunice Lourenço , enviada especial da Renascença a São Tomé

Serviço de telemedicina entre Portugal e São Tomé evita milhares de viagens a Lisboa. Língua e credibilidade ajudam na cooperação na área da saúde.

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“A distancia quebra-se com um cabo de fibra ótica”, é assim que Paulo Freitas, especialista em medicina interna e presidente do Instituto Marques de Vale Flor (IMVF) resume o programa de telemedicina que liga São Tomé e Príncipe e Lisboa. Um programa que evita muitas deslocações de santomenses a Portugal e que tem ajudado a dar competências aos profissionais de saúde do país.

A génese deste programa está no Saúde para Todos, um programa nascido em 1988. “Os primeiros 20 anos foram dedicados a estabelecer um programa de saúde pública transversal baseado em centros de saúde, que são centros de proximidade, com internamento, uma farmácia comunitária, programa de vacinação e apoio à saúde escolar e à saúde materno-infantil”, conta Paulo Freitas.

“Por cada ano de saúde pública adicionámos um ano de esperança de vida à população”, orgulha-se o médico. Mas o sucesso também levou a outros problemas: “As pessoas envelheceram e, quando envelhecem, começaram a ter as doenças das pessoas mais velhas. Não havia quase especialistas em São Tomé. Havia três: um cirurgião geral, uma pediatra e um ortopedista.”

Com três especialistas e poucos meios de diagnóstico, a solução geralmente era levar os doentes para Lisboa. E então houve uma mudança de estratégia. “A estratégia da cooperação portuguesa foi – como havia grande pressão para levar para Lisboa pessoas que nem sequer tinham diagnóstico – tentar resolver cá os problemas de pequena e média complexidade através de missões médicas regulares. É assim que nasce o Saúde para Todos – especialidades”, explica Paulo Freitas.

Para cada especialidade foram escolhidos “campeões” – médicos que organizam tudo o que é necessário à volta da sua especialidade. Foram feitos convites a nível de todo o país e este programa envolve 23 instituições de saúde privadas e públicas.

Depois de os especialistas começarem a vir, surgiu a ideia da telemedicina. “A telemedicina nasce de um desafio que fiz à dra. Celeste Alves [especialista em imagiologia] de fazermos um serviço de imagiologia moderno e digital e, a partir daí, num voo de regresso pensamos ‘E se a gente tentasse a telemedicina?’”, resume o médico, acrescentando que “todas as especialidades crescem e desenvolvem os seus programas à medida que vão encontrando os problemas. O trabalho do Instituto é ajudar a resolver esses problemas.”

Hoje muitos santomenses são diagnosticados à distância e, depois, consoante a gravidade da sua situação, são levados para Portugal ou esperam a próxima missão médica para serem operados ou tratados de qualquer outra forma no seu país e sem terem de ir – muitas vezes sozinhos e doentes – para uma cidade que não conhecem.

A TAC de Taiwan

A “cereja em cima do bolo” foi conseguir ligar a máquina de TAC a todo este sistema que já tinha ligado outros equipamentos de diagnóstico, como as máquinas de ecografia, ecografia fetal, exames de oftalmologia, e outros.

A máquina de TAC tem, contudo, toda uma outra história. Foi instalada por Taiwan, mas há pouco mais de um ano São Tomé trocou Taiwan pela República Popular da China e, de um dia para outro, os cooperantes mudaram e ninguém sabia operar a máquina nem ler as instruções. Teve de ser reprogramada por técnicos portugueses.

Vantagens da cooperação portuguesa, como reconhece o administrador do hospital.

“Os problemas que temos com qualquer cooperação que não seja lusófona é a barreira linguística. É a primeira barreira, até porque os nosso profissionais não são bilingues”, diz Celsio Junqueira.

Mas a língua não é a única vantagem, também os equipamento. “Na cooperação portuguesa os equipamentos têm garantia de manutenção com facilidade, podemos contactar Lisboa e facilmente vem o técnico de Lisboa ou deixam instruções para a reparação ser feita à distância, por telefone ou informaticamente”, diz o administrador do Hospital Ayres de Menezes, onde a cooperação de Taiwan também deixou por concluir duas novas salas de operações que a cooperação portuguesa agora ajudou a acabar e equipar.

Um hospital que não estava incluído na agenda da visita de Estado do Presidente da República Portuguesa, mas que Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de visitar na noite de terça-feira, depois do jantar oficial com o Presidente santomense.

Comentários
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  • Victor
    21 fev, 2018 Lx 09:08
    'Fibra ótica??!?' transporta som essa fibra??! - A Renascença nas ultimas semanas enveredou pelo caminho da mediocridade transversal a tudo o que publica, mais de metade dos textos estão entre aspas (" ") e com vários erros ortográficos provenientes do aborto a.o. ! É uma pena….

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