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Reitora da Católica. “Somos uma universidade ativa na busca de soluções para o país”

02 fev, 2018 - 10:00 • Ângela Roque

Reitora da Universidade Católica diz que há 50 anos que a UCP “deixa marca” na sociedade portuguesa, pela qualidade do ensino e por ter sido pioneira na abertura de vários cursos. Para o provar está a ser feito um estudo de impacto, que será divulgado em breve.

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A Universidade Católica está a fazer um estudo sobre o impacto que os seus licenciados, mestres e doutores têm tido na sociedade portuguesa desde que foi criada, em Outubro de 1967. A novidade é avançada pela reitora da UCP, uma instituição com 14 mil alunos distribuídos por 39 licenciaturas, 70 mestrados e 24 doutoramentos nos campus de Lisboa, Porto, Viseu e Braga.

Isabel Capeloa Gil diz que “é evidente” a marca que a Católica deixou no país nos últimos 50 anos, até porque foi sempre uma instituição pioneira na oferta de vários cursos e formações. O próximo espera que seja o de medicina, que vai funcionar em Cascais, mas ainda não tem a luz verde da Agência de Acreditação do Ensino Superior.

Garantindo que a UCP “não é para ricos”, a reitora diz que a preocupação com os alunos mais carenciados tem sido crescente, como prova o “Fundo Papa Francisco” que deverá começar a funcionar no próximo ano letivo. Nesta entrevista comenta, ainda, a nova Constituição Apostólica “A Alegria da Verdade”, publicada esta semana, com diretrizes para as universidades ligadas à Igreja.

Na sua mensagem para o Dia Nacional da Universidade Católica lembra a importância que a instituição tem tido "servindo e ajudando a melhorar o país". Continua a ser uma das missões da UCP?

Com certeza. A Universidade Católica foi criada tendo como missão a capacitação do país na formação de profissionais, para permitir o desenvolvimento de Portugal, mas também para capacitar a formação além fronteiras. Isso está claramente inscrito nos nossos estatutos e na nossa missão. E é um elemento essencial, dada a nossa identidade como universidade católica, fazer esta formação dos futuros líderes e profissionais a partir de uma matriz cristã. Esses são, de facto, os valores essenciais que presidiram à missão da universidade e que continuam a orientar-nos para o futuro.

Quando tomou posse como reitora referiu que a Católica não trabalhava para ser igual aos outros, mas para se diferenciar. Mantém-se essa aposta?

Um colega alemão dizia-me há algum tempo que um dos maiores pecados do desenvolvimento do ensino superior é a imitação. Ora, não é isso que a Católica tem feito.

Só faz sentido avançar com um projeto específico se ele for alternativo, inovador para o país, se trouxer valor acrescentado. É isso que fazemos há 50 anos.

Há um conjunto de cursos no ensino superior, de formações de primeiro ciclo, que já fazem parte do acervo do ensino superior em Portugal e no mundo, e relativamente aos quais a Universidade Católica foi pioneira, abriu caminho. É o caso do curso de gestão, que não existia em Portugal antes da católica ter criado, em 1977, o curso de administração e gestão de empresas. Biotecnologia é outro exemplo, criámos a primeira escola em Portugal, e na área das humanidades, o primeiro curso de línguas estrangeiras aplicadas em Portugal foi criado na universidade católica.

E como é que está a questão da medicina? O curso ainda não foi aprovado.

Esse é outro projeto diferenciador, quase matricial, eu diria. Neste momento o grupo de trabalho que foi constituído continua a preparar o modelo curricular, o projeto educativo e também de investigação, que será apresentado à Agência de Acreditação do Ensino Superior. Portanto, estamos a trabalhar na vertente pedagógica, na vertente de investigação e também na vertente clínica, que são as três dimensões importantes num curso de medicina. Logo que o projeto estiver completo com estas três vertentes será apresentado à Agência.

Mantém-se a intenção de começar a funcionar em 2019?

Nunca dissemos que era em 2019…

Então, qual é a expectativa?

A expectativa é, depois do curso ser apresentado para acreditação, dois anos.

A ideia de que a Universidade Católica é só para ricos, faz sentido?

A Universidade Católica não é para ricos. A Universidade Católica labora num mercado em que, não tendo apoio estatal, o valor que os alunos pagam para frequentar a universidade é o seu verdadeiro custo.

O primeiro reitor da universidade dizia sempre que ninguém deixaria de estudar na Católica por não ter capacidade financeira, e esse princípio mantém-se, porque contribuir para o desenvolvimento da sociedade significa também ser socialmente responsável e contribuir para que todos aqueles que têm mérito, desejo e potencial para fazer estudos de ensino superior, o possam fazer.

Por isso atribuem bolsas?

90% das bolsas sociais da Católica são de fundos próprios nossos, é a UCP que contribui com bolsas de mérito, bolsas sociais, para apoiar alunos em situação de fragilidade social. Temos também algumas bolsas apoiadas por algumas fundações, por exemplo a Francisco Manuel dos Santos, ou a Fundação Amélia de Melo, entre outros doadores individuais. Mas, queremos fazer mais, porque temos de ser ambiciosos não apenas naquilo que fazemos em termos educativos, de ciência e transferência de conhecimento, mas também na área da responsabilidade social.

Foi por isso que criaram o “Fundo Papa Francisco”, para alunos carenciados e migrantes?

A iniciativa foi uma oferta, uma prenda que entregámos ao Papa quando nos recebeu a 26 de Outubro, pelos 50 anos da UCP. Esta semana de comemorações que estamos a assinalar já incluiu uma Gala de Beneficência destinada ao Fundo, e esperamos a partir de Setembro começar a utilizá-lo no apoio a estudantes dos quatro campus da universidade, em Lisboa, Porto, Braga e Viseu. Vamos também desenvolver uma iniciativa no sentido de divulgar o Fundo junto das plataformas de apoio a estudantes que são refugiados, para que possam ser candidatos e ter acesso aos apoios que formos disponibilizando.

A UCP foi pioneira nalguns cursos, e tem estado bem posicionada nos rankings internacionais, por exemplo ao nível da economia e gestão, e também do direito. Na prática, podia ser uma universidade mais ativa na busca de soluções para o país?

Nós somos verdadeiramente uma universidade ativa na busca de soluções para o país. Basta olhar para o impacto que os licenciados, mestres e doutores pela Católica têm tido na sociedade civil portuguesa. Estão implicados em todos os sectores, desde a economia à política, à ciência, à academia, à vida artística e cultural.

Uma das coisas que a universidade está a fazer, e vai divulgar este ano, é o ‘Estudo de Impacto 50 Anos’, em que já tivemos uma taxa de resposta que é o dobro, em termos percentuais, daquela que valida normalmente estes estudos. O modelo que estamos a utilizar é o modelo do MIT, e tivemos uma adesão enorme dos nossos ex-alunos em contribuir para termos dados que permitam ter um estudo robusto. Posso dizer que é muito evidente a marca, a incisão da católica na sociedade civil portuguesa.

Esta semana o Papa divulgou a constituição apostólica “A Alegria da Verdade”, com diretrizes gerais para as universidades ligadas à Igreja. Fazia falta este documento?

Do que já li está absolutamente em linha com o discurso que o Papa Francisco fez à Universidade Católica quando nos recebeu em Outubro. Basicamente incentiva as universidades a saírem das suas torres de marfim, do pensamento abstrato, e agir no concreto. Fala da união entre a fé e a vida. O Papa João Paulo II e o Papa Bento XVI falavam muito na articulação entre fé e razão, mas o Papa Francisco tem aqui este elemento adicional, que é olharmos para a vida real das pessoas. Ele disse-nos em Outubro que temos de olhar para as perguntas concretas das pessoas, na sua realidade concreta, e tentar encontrar soluções para essas perguntas, sem muros, sem preconceitos, de uma forma inclusiva.

Neste documento o Papa pede às instituições de ensino superior da Igreja que estejam na linha da frente das mudanças que é preciso fazer, contribuindo com ideias e soluções, e fala na importância do diálogo, da interdisciplinaridade, do trabalho em rede. São desafios difíceis de responder?

São. A interdisciplinaridade não é um princípio é fácil de desenvolver e aplicar. Desde o século XIX que o desenvolvimento da ciência de tem feito por especialização e não por integração, portanto todos concordamos com a importância da interdisciplinaridade e da necessidade do diálogo das ciências, mas a dificuldade está nos pormenores. Como dizem os ingleses “o diabo está nos detalhes”.

Mas, a UCP já faz isso?

A interdisciplinaridade exige o repensar das formações de base, e isso é uma coisa que temos estado a tentar fazer na UCP, através da criação de um modelo de cooperação entre as faculdades, com oferta aos nossos estudantes do chamado ‘Currículo de Artes Liberais’ (Liberal Arts Curriculum), constituído por um conjunto de disciplinas de todas as áreas científicas oferecidas pela universidade, que permite aos alunos sair da sua área disciplinar base para frequentar disciplinas de outras áreas. Por exemplo, os de direito frequentarem disciplinas de economia, os de ciência política as disciplinas de literatura ou filosofia, os de economia as de ciências da saúde. Há que fomentar este diálogo, que não se faz apenas entre docentes e investigadores, onde já é difícil, mas tem que começar com os estudantes. Se não criarmos estes espaços de relação e diferença não vamos conseguir responder ao grande desafio da interdisciplinaridade. Mas, nós estamos absolutamente comprometidos com isso.

Este desafio revela que o Papa está atento à evolução das coisas e ao que já preocupa as universidades?

O Papa está muito atento à vida das pessoas, e está muito presente. É uma realidade que sentimos quando o ouvimos, quando estamos na sua presença, há uma atenção extrema às coisas do mundo, o que é muito importante para nos interpelar, a todos nós que somos católicos e servimos em instituições da Igreja. Nós temos a segurança dos nossos princípios, mas obviamente que como cristãos temos que agir em diálogo com aqueles que pensam como nós, com os que não pensam como nós, e com os que combatem aquilo em que nós acreditamos. É nesse combate que temos que estar.


*O Dia Nacional da Universidade Católica é no Domingo, mas vai ser assinalado já esta sexta-feira com uma sessão solene presidida pelo cardeal patriarca, com a atribuição de doutoramentos honoris causa a Mário Pinto e Manuela Ferreira Leite, em reconhecimento pelos serviços prestados à universidade e ao país.

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