11 jan, 2018 - 21:31 • Susana Madureira Martins
Veja também:
O primeiro líder do CDS, Freitas do Amaral, destacou esta quinta-feira a acção de Mário Soares para a normalidade das relações Estado/Igreja e contou que, em 1977, o PSD levantou dúvidas quando foi pedida a adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE).
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros recordou estes episódios na segunda sessão do ciclo intitulado "Celebrar Mário Soares", dedicada ao período pós-25 de Abril de 1974 e que foi moderada pela secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes.
Adversário de Mário Soares em 1986 nas eleições presidenciais mais renhidas da democracia, Diogo Freitas do Amaral fala do fundador do PS como o maior político português do século XX.
Freitas do Amaral dá o exemplo do momento histórico de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE).
“Foi um momento histórico, nem todos concordaram, o próprio PSD no dia em que o dr. Mário Soares, como primeiro-ministro, anunciou esta decisão no Parlamento manifestou dúvidas. O CDS deu o seu imediato apoio, mas o PSD manifestou dúvidas e andou ali uma semana a ver se descobria uma forma de se desmarcar. Não descobriu e depois aderiu.”
"Soares descrispou o país sem andar a fazer ‘selfies’"
Freitas do Amaral foi derrotado à segunda volta nas presidenciais de 1986 e o PCP teve um papel decisivo ao dar o apoio a Mário Soares. Carlos Brito, à época dirigente comunista de topo, diz que não engoliu nenhum sapo e revela os bastidores do acordo.
“Para mim, não foi um sapo, era mais do que necessário aquela tomada de posição. Quando nós chegámos à fala com uma delegação do MASP, a coligação de Mário Soares, que era constituída por Jorge Sampaio e pelo comandante Gomes Mota, nós já tínhamos decidido que íamos apoiar a campanha. Bastou uma troca de olhares para ficar tudo resolvido e não houve preço, não houve negócio”, conta Carlos Brito.
Manuel Alegre lembra que os comunistas nessa altura não falharam. Adversário presidencial de Mário Soares em 2006, Alegre não guarda ressentimentos ao fundador do PS e lembra um episódio de campanha.
“A primeira campanha é essencial porque ele descrispou o país sem andar a fazer ‘selfies’ e aos beijinhos… Andava aos beijinhos. Uma vez até agarrou num anão. Andava a beijar as crianças e agarrou num anão. O anão a espernear e ele deu um beijo ao anão”, recorda Manuel Alegre.
O histórico socialista concluiu que Mário Soares estaria muito contente com o rumo da maioria parlamentar de esquerda.