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​“Escrever sobre o islão? Nem pensar. Há pessoas perigosas por aí”, diz um dos Monty Python

01 dez, 2017 - 22:29 • Maria João Costa

Michael Palin e Ricardo Araújo Pereira juntos à conversa numa noite gelada perante uma plateia de 600 pessoas na rua. Assim começou o Festival Literário "Tinto no Branco" em Viseu, “com algo completamente diferente”.

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O termómetro marcava sete graus quando a conversa começou. Michael Palin, dos Monty Python, e Ricardo Araújo Pereira, dos Gato Fedorento, sentaram-se num palco ao ar livre perante uma plateia com 600 cadeiras. À porta do Solar do Vinho do Dão, em Viseu, a conversa aqueceu mais do que as mantas e os aquecedores colocados entre o público para o efeito. A sessão inaugural do Festival Literário "Tinto no Branco" estava pensada para uma tenda, mas foi transferida para o parque de estacionamento a céu aberto para dar resposta ao público esperado.

Ao longo de uma hora, Ricardo Araújo Pereira assumiu o papel de jornalista, fazendo as perguntas ao comediante dos Monty Python. Mas a sessão começou com um “olá” a Viseu, em português, na voz de Palin, que comentou positivamente a ideia do festival de juntar livros e vinhos.

De manta branca nos joelhos para combater o frio, Ricardo Araújo Pereira quis que Michael Palin falasse da sua escrita. O comediante britânico assumiu que “escrever é o mais importante para mim” e o humorista português quis saber mais sobre os diários que Palin mantêm desde 1969: “gosto de manter uma narrativa”, explicou o comediante dos Monty Python.

Desfiando perguntas sobre o percurso do colectivo britânico, mostrando que sabe sobre o que fala, Ricardo Araújo Pereira interrogou Michael Palin sobre como é que hoje se faria humor com temas como travestis ou religião. Palin afirmou: “pode-se escrever algo fresco sobre travestis ou transgénero ou religião....não sei bem, é uma questão interessante. Gosto de dizer que o humor ilumina tudo e não há nada demasiado sério que não possa ser defendido perante o humor”.

Referindo o filme "A Vida de Brian", Michael Palin reconheceu que hoje é dificil escrever e colocou a si mesmo a questão: “as pessoas perguntam-me se escreveria hoje sobre o islão da mesma forma? Nem pensar, nem pensar! Há pessoas perigosas por aí”.

“Gostava de escrever sobre tolerância e intolerância”, explicou à plateia enregelada o comediante e autor de programas de viagens. Michael Palin disse também que “gostaria de escrever sobre o politicamente correcto”, que considera ser “uma ameaça ao desenvolvimento da comédia”.

Para o britânico, que visita pela primeira vez Viseu, “a comédia é uma forma de lidar com as coisas”, embora reconheça que quando os Monty Python começaram tudo era mais fácil.

"Se nos ríamos, tinha que entrar"

Questionado por Ricardo Araújo Pereira sobre o processo criativo dos Monty Python, o humorista britânico explicou que se juntavam e depois decidiam o que escrever. “Se nos ríamos, percebíamos que tinha que entrar” disse Michael Palin, que classificou o colectivo Monty Python como responsável “por uma série de acidentes felizes”.

Havia uma “força centrífuga”, descreve Palin sobre o processo criativo dos seis comediantes que em parte, explicou ao admirador dos Python, Ricardo Araújo Pereira, nascia das “tensões” entre os vários elementos do grupo.

“Alguém já morreu?” pergunta Micheal Palin à plateia que continuava ao frio. O comediante que ficou conhecido como o “Python simpático” não sabe explicar porque tem sentido de humor e viajou no tempo para dizer que “já na escola imitava os professores” e “tinha habilidade para imitar vozes”.

O Festival "Tinto no Branco" segue até domingo em Viseu. Para sábado estão marcadas sessões que vão juntar o físico Carlos Fiolhais e frei Bento Domingues (sobre ciência "versus" religião) e o escritor Afonso Cruz e o poeta e editor Manuel Alberto Valente (tema: cerveja "versus" vinho).

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