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Reportagem

Gouveia. Mês e meio após o grande fogo, ​aldeias continuam sem televisão, internet e telefone

29 nov, 2017 - 15:15 • Liliana Carona

Em Melo, aldeia natal do escritor Vergílio Ferreira, os perto de 500 habitantes dizem que recuaram no tempo para viver à moda antiga. Os mesmos problemas são também verificados nas aldeias de Freixo e Folgosinho, no concelho de Gouveia.

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A vida mudou em Melo, depois dos incêndios de 15 de Outubro. A população continua sem comunicações. Não há telefone fixo ou redes móveis.

Na aldeia natal do escritor Vergílio Ferreira, os perto de 500 habitantes dizem que recuaram no tempo para viver à moda antiga. Os mesmos problemas são também verificados nas aldeias de Freixo e Folgosinho, no concelho de Gouveia.

Do outro lado da linha silêncio total. Ana Cristina 58 anos, está atrás do balcão no Supermercado Central e não consegue falar com os fornecedores.

“Está silencioso desde os fogos, é muito tempo, faz muita falta, tenho fornecedores que não me conseguem contactar, não há comunicações, o presidente da junta já falou, mas dizem que não há pessoal suficiente”, revela a comerciante.

Maria tem 52 anos e regressou há pouco tempo a Melo depois de ter estado emigrada. Veio encontrar uma realidade do passado. “Nem televisão nem internet, nem telefone e uma pessoa paga, paga e nada”, contesta a moradora.

Daniela Rodrigues, 27 anos, ganhou uma nova rotina. À noite já não vê telenovelas. “Torna-se saturante, é ir para a cama cedo, entretinha-me mais com o Facebook e agora não”, admite. Mas Daniela está mais preocupada com facto de ter que se deslocar a Folgosinho para consulta médica. “As pessoas aqui agora para ter consulta têm que ir a Folgosinho, porque aqui em Melo o posto médico ficou sem sistema”, lamenta a jovem.

O casal proprietário de uma padaria em Melo, Chico, 50 anos e Maria do Céu, 41, falam em prejuízos elevados.

“Deixei de receber encomendas, não estou a conseguir divulgar o produto, não consigo que os meus clientes vejam o futebol”, denuncia o proprietário, interrompido pela esposa Maria do Céu: “isto já estava vazio e deserto, agora nem ao posto médico vêm”, conclui.

Outra questão, prende-se com a segurança. Chico questiona: “se eu tiver aqui um acidente de trabalho, como chamo os bombeiros, ou a GNR, se estou sem telefone?”.

A vida mudou, em Melo, por exemplo, ir à farmácia é o mesmo que ir à Junta de Freguesia, uma vez que a farmácia da terra foi consumida pelas chamas.

Comentários
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  • Dorvalino Pedro de M
    03 dez, 2017 IMBITUBA, SC, BRASIL 02:27
    Em 1º/11/2017, mudamos o rumo de nossa viagem pelas Aldeias Históricas de Portugal. Naquele dia nosso percurso era Monsanto - Belmonte - Covilhã - Piódão. Mas, alteramos a rota e seguimos de Belmonte para Melo, passando por Manteigas, onde o cenário ainda era belíssimo serra acima. No entanto, nos deparamos, em seguida, com a tragédia provocada pelos incêndios. Até Gouveia o que vimos nos causou tamanha impressão que não podíamos acreditar. Uma tristeza profunda nos acometeu. Chegamos a Melo para rever alguns conhecidos, mas, especialmente o amigo Luis Filipe - que temos por Embaixador de Melo, por sua ação em prol da memória cultural e divulgação da Freguesia. Não podíamos crer que Melo estivesse naquela situação assustadora. Fomos muito bem recepcionados pelos moradores e ao encontrarmos nosso amigo, mentor, mantenedor e entusiasta do Museu Etnográfico de Melo - Luis Filipe Gonçalves Almeida, a emoção daquele momento não esqueceremos jamais. A narrativa do ocorrido nos deixou impressionados e comovidos. Mas, a esperança era algo contagiante, que nos fez crer que a solução para os inúmeros problemas causados pelos fogos pudessem ser resolvidos com brevidade. Agora, vemos que a situação não mudou e percebemos, que por falta dos meios de comunicação, já não temos notícias dos nossos amigos de Melo. Que neste tempo de Natal, onde aflora a compreensão, a benevolência, a fraternidade, os responsáveis por esse esquecimento de Melo, sejam iluminados e resolvam logo a grave situação
  • 30 nov, 2017 23:01
    Onde estão os responsáveis políticos locais??? Agora não aparecem, estamos noutro tempo, que não de eleições...!!!
  • Marcelo
    30 nov, 2017 Melo 15:30
    Será que a operadora não tem consiencia que esta afetada a freguesia por causa de 200 a 300 metros de cabo? Será que estão a gozar com as pessoas de Melo em passarem cabos pelas portas das pessoas para outras localidades e deixam Melo, para traz! Será que é de atitude de pessoas a colocação de Cabo ligados á geral Melo01 para as outras localidade e Melo está afetado por 200 a 300 metros? Dará para perceber ?? Grande reportagem, Obrigado pelo trabalho, realizado para tornar " o vergonhoso" o problema de Melo, e não só nas redes sociais para que a operadora acorde. Muito Obrigado pela reportagem, :-)
  • Filipe
    30 nov, 2017 évora 01:23
    Acho até que as empresas de vendas de imóveis estão a deslocar os escritórios para as zonas de fogos , para depois venderem as casas reconstruidas ... tenham é tato , querem ter tragédias e ao mesmo tempo clicarem nos smartphones logo de seguida ? Nem nas civilizações com 30 anos de avanço isso acontece , pá !
  • Marcos Martins
    29 nov, 2017 Lisboa 22:42
    Recomendo vivamente a todos os lesados que apresentem Queixa no Livro de Reclamações na loja oficial com a contabilização dos dias sem serviço e remetam via correio Registado com Aviso de Recepção o Duplicado após fotocopiado para terem uma cópia. Também seria oportuno contactar a DECO ou qualquer associação local para que divulgue o mais possível esta situação. Podem também apresentar Queixa na justiça Portuguesa ou Europeia...
  • verdade
    29 nov, 2017 PT 17:39
    E viva o "web summit lisbon 2017" tenham penas das pessoas!
  • Fernando
    29 nov, 2017 Mafra 17:21
    É preciso os portugueses juntarem-se e fazerem mais uma "vaquinha" para pagarem estes serviços essenciais que falta a esta gente? Se for, os nossos governantes que o digam, que tal como aconteceu no passado e recentemente, apela-se a generosidade do povo e dá-se a esta gente as condições que elas precisam. Depois, até podem lá ir para aparecer nas fotos e ir para os telejornais dizer que está tudo a correr bem ( porque para os nossos políticos é só isso que interessa) mas pelo menos estas pessoas e famílias ficam com a situação resolvida.
  • Justo
    29 nov, 2017 leiria 17:16
    Isto só mostra o Governo que temos! Espero que agora coloquem tudo por baixo da terra, visto que o investimento é por conjunto. Aprendam com os erros e desenvolvam Portugal.
  • Pedro
    29 nov, 2017 Bencatel 16:43
    Desculpem ir contra a corrente, mas os que aqui comentam seriam capazes de repor tudo a funcionar em mês e meio? Não acredito. A maior parte está contra porque é porreiro estar contra. Já agora, ainda não vi uma lista dos verdadeiros culpados deste desastre. Os proprietários das florestas não limpas. Provavelmente até serão indemnizados. Este sim é o pais que temos.
  • JChato
    29 nov, 2017 16:40
    E isto surpreende alguém com UM neurónio? A mim ... não!

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