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Papa apresenta a Cruz como “bússola segura” e “GPS espiritual” para o Myanmar

29 nov, 2017 - 07:16 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

Católicos vieram das aldeias, das montanhas, alguns percorrendo centenas de quilómetros a pé. A Igreja no Myanmar tem raízes portuguesas e tem crescido a olhos vistos nos últimos anos.

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A Cruz como "GPS espiritual". Papa celebra missa em Myanmar
A Cruz como "GPS espiritual". Papa celebra missa em Myanmar

Depois de dois dias no Myanmar dedicados sobretudo a encontros com as autoridades políticas e militares o Papa Francisco teve esta quarta-feira de manhã, madrugada em Portugal, o seu primeiro contacto com a Igreja viva do país.

Centenas de milhares de católicos vieram de vários pontos do país, envergando roupas tradicionais das suas respectivas áreas e grupos étnicos, mostrando uma igreja vibrante e em franco crescimento, sobretudo desde que o regime birmanês relaxou o controlo que exercia sobre as confissões religiosas no país.

As três dioceses que até então existiam são agora 16, os padres aumentaram em número de 160 para 900 e as religiosas passaram de 200 para 2400. A maioria dos católicos no Myanmar são descendentes de portugueses que se fixaram no país há vários séculos, casando com locais e criando comunidades luso-birmanesas que mantiveram a sua fé e algumas tradições durante todo este tempo. O próprio arcebispo de Rangum, que foi feito cardeal pelo Papa em 2015, falou na altura com orgulho das suas raízes portuguesas.

A todos estes católicos, muitos dos quais vivem em locais de difícil acesso, o Papa apresentou a Cruz de Cristo como uma “bússola segura” e um “GPS espiritual”. As feridas que existem no país, fruto dos muitos conflitos que o afligem e que atrasam o desenvolvimento regional de algumas regiões, não foram esquecidas por Francisco.

“E da cruz vem também a cura. Lá, Jesus ofereceu as suas feridas ao Pai por nós: mediante as suas feridas, somos curados. Que nunca nos falte a sabedoria de encontrar, nas feridas de Cristo, a fonte de toda a cura! Sei que muitos no Myanmar carregam as feridas da violência, quer visíveis quer invisíveis. A tentação é responder a estas lesões com uma sabedoria mundana”, disse o Papa. “Pensamos que a cura possa vir do rancor e da vingança. Mas o caminho da vingança não é o caminho de Jesus.”


“A Igreja está viva”

A Igreja, diz Francisco, tem o dever de ser instrumento de reconciliação e de paz no Myanmar, um papel que aquela Igreja tem desempenhado de forma exemplar, considera. “No meio de tanta pobreza e inúmeras dificuldades, muitos de vós prestam assistência prática e solidariedade aos pobres e aos doentes. Através das canseiras diárias dos seus bispos, sacerdotes, religiosos e catequistas, a Igreja neste país está a ajudar um grande número de homens, mulheres e crianças, sem distinções de religião ou de origem étnica.”

“Posso testemunhar que aqui a Igreja está viva, que Cristo está vivo e está aqui convosco e com os vossos irmãos e irmãs das outras Comunidades cristãs. Encorajo-vos a continuar a partilhar com os outros a inestimável sabedoria que recebestes, o amor de Deus que brota do Coração de Jesus”, afirmou.

No final, o cardeal Bo disse ao Papa que o povo católico do Myanmar sentia que estava a viver um sonho e que se tivessem dito há um ano que o Papa estaria naquele país, ninguém acreditaria.

A visita do Papa prossegue esta quarta-feira com encontros com os líderes da comunidade budista, maioritária no país, e com os bispos católicos do Myanmar. Na quinta-feira Francisco celebra novamente missa pública, desta feita com os jovens, seguindo depois para o Bangladesh, onde permanecerá até sábado.

A Renascença com o Papa em Myanmar e no Bangladesh. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

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