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Crónica

O azar do Samaan

13 out, 2017 - 16:19 • Filipe d'Avillez

Como padre copta seria facilmente reconhecido por alguém que o quisesse matar. E, por azar, no Egipto não há falta de homens que querem matar cristãos.

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Esta quinta-feira, no Egipto, aconteceram uma série de azares que deixaram um homem morto.

O azar começa com o facto de Samaan Shehata ser originário de Beni Suef, uma região pobre do Egipto. Por haver muitos pobres ele tinha-se oferecido para ir ao Cairo recolher ajuda humanitária, que tinha sido disponibilizada para a comunidade.

O azar continua com o facto de um homem louco – pelo menos a polícia considerou-o inimputável, apesar de não se ter pedido nenhum diagnóstico profissional – o ter visto a andar na rua e ter decidido ir atrás dele. Azar dos azares, o louco estava armado com uma faca e golpeou-o várias vezes.

Estavam muitas pessoas na rua, mas por azar nenhuma delas o ajudou.

Mas ao que consta Samaan não morreu logo. Teve foi o azar de a ambulância ter levado mais de uma hora a chegar ao local do incidente e depois teve o azar de os socorristas não se terem dado ao trabalho de lhe prestar primeiros socorros.

A polícia chegou ainda mais tarde, mas por um misto de azar e porque já sabiam que o assassino era louco – embora não tivesse sido avaliado por um profissional – não vedaram a zona para proceder a uma investigação.

No meio de tanto azar, uma grande coincidência. É que tudo isto se passou no mesmo dia em que no auditório da Renascença a fundação Ajuda à Igreja que Sofre apresentou um relatório que indica que a perseguição aos cristãos no mundo atingiu níveis nunca antes vistos na história. Ou seja, estamos pior agora do que na altura em que os imperadores lançavam cristãos para a arena para serem devorados por animais selvagens.

E o que é que isso tem a ver com Samaan Shehata? É que Samaan é padre da Igreja Copta, do Egipto. Como padre copta estaria claramente identificado pela sua longa batina preta e chapéu tradicional. Seria facilmente reconhecido por alguém – louco ou não – que o quisesse matar. E por azar, no Egipto não há falta de homens – loucos ou não – que querem matar cristãos.

Pensando melhor, talvez nada disto tenha sido azar. É que esta história está-se a tornar demasiado comum, demasiado repetida, para ser atribuída a má sorte. Não foi por azar que bombas foram colocadas em Igrejas egípcias em Abril deste ano, matando quase meia centena de pessoas Não foi ao acaso que dois autocarros cheios de peregrinos coptas foram mandados parar no deserto e os ocupantes massacrados à beira da estrada.

Os paroquianos do padre Samaan ficam agora sem pastor. A sua mulher – tradicionalmente os padres coptas são casados – fica viúva e os seus filhos órfãos. Mas nem isso é azar. É simplesmente um dos riscos associados a ser cristão no Médio Oriente.

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