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Três anos depois do genocídio, o futuro é incerto para os yazidis

03 ago, 2017 - 16:41 • Filipe d'Avillez

Foi no dia três de Agosto de 2014 que as terras ancestrais dos yazidis foram ocupadas. Todos os homens capturados foram mortos, as mulheres tornaram-se escravas. Para muitos o pesadelo ainda não acabou.

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E depois de Mossul?


Três anos depois de o autoproclamado Estado Islâmico ter ocupado a zona de Sinjar, terra ancestral da minoria religiosa yazidi, estima-se que haja ainda mais de três mil mulheres e jovens raparigas nas mãos dos jihadistas, na maioria usadas como escravas sexuais.

Os militantes do Estado Islâmico já foram expulsos de Sinjar, a cidade que fica aos pés do monte com o mesmo nome, para onde dezenas de milhares de yazidis fugiram em desespero em Agosto de 2014. As imagens terríveis, e os relatos de pessoas a lançar os seus filhos de escarpas para não as verem morrer à fome e ao calor, motivaram os Estados Unidos a lançar ataques aéreos contra o Estado Islâmico, iniciando assim uma dinâmica que levou a que o grupo fosse expulso de Mossul há poucas semanas.

Uma comissão de inquérito das Nações Unidas concluiu esta quinta-feira que “o genocídio mantém-se e está em larga medida por abordar, apesar da obrigação que os Estados têm de prevenir e punir este crime”.

“Milhares de homens e rapazes yazidis estão ainda desaparecidos e o grupo terrorista continua a sujeitar cerca de 3.000 mulheres e raparigas na Síria a violência terrível, incluindo violações diárias e espancamentos brutais”, diz ainda a comissão.

Embora o Estado Islâmico já não esteja nem em Mossul nem em Sinjar, o grupo religioso continua a enfrentar um futuro incerto. Uma parte do seu território foi libertada por forças curdas, que pretendem anexá-la a um Curdistão que em breve deverá declarar independência, e a outra por milícias xiitas leais ao Governo central de Bagdad. Para complicar ainda mais, algumas zonas foram libertadas por militantes curdos da Síria, que obedecem ao PKK, o partido curdo da Turquia, que se opõe ao Governo do Curdistão iraquiano. Já houve conflitos, mas teme-se que a situação exploda agora que o Estado Islâmico está aparentemente fora da equação.

“Os curdos e o Governo do Iraque estão a lutar por Sinjar e nós é que pagamos o preço”, afirma um homem yazidi que participava numa comemoração dos massacres de 2014, em declarações à Reuters, “os yazidis continuam a sangrar”.

Na mesma cerimónia, que se realizou esta quinta-feira em Sinjar, o actual presidente da câmara de Sinjar não hesitou em dizer que a culpa pelo genocídio é do Governo de Bagdad. A fuga desenfreada dos militares iraquianos em Mossul deixou caminho aberto – e muitas armas e munições – para o avanço do Estado Islâmico até Sinjar e outras terras circundantes.

Mas uma pesquisa simples sobre o autarca Mahma Xelil revela que é um político com ligações ao Governo Regional Curdo, tendo sido deputado em Bagdad pela Aliança Curda, uma coligação de vários partidos do Curdistão.

Enquanto curdos e árabes disputam a posse de Sinjar e outras terras na região, incluindo várias cidades, vilas e aldeias cristãs, muitos yazidis mantêm o apelo à criação de uma região autónoma, eventualmente sobre protecção internacional, onde se possam governar a si mesmos, juntamente com membros de outras minorias étnicas e religiosas.

A situação está longe de ficar resolvida e a outrora grande cidade de Sinjar continua à espera. Sem serviços básicos, sem água corrente, sem escolas nem hospitais e, sobretudo, sem qualquer ideia do que o futuro trará, grande parte dos yazidis vai adiando o regresso a casa.

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