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A família não está em crise. Está em mudança

11 jul, 2017 - 20:25

Dois especialistas olharam na Renascença para os desafios das famílias portuguesas no século XXI. Hoje celebra-se o Dia Mundial da População.

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Da Capa à Contracapa - Tendências demográficas nas estruturas familiares - 08/07/2017

As famílias estão em mudança num país em que os níveis de fecundidade são afectados pelas condições económicas e pelo aumento da esperança média de vida, defendem os especialistas Maria Filomena Mendes e Mário Cordeiro. Esta terça-feira assinala-se o Dia Mundial da População.

“Há uma redução da dimensão familiar: temos famílias com cada vez menos filhos”, afirmou Maria Filomena Mendes, coordenadora do estudo "Determinantes da Fecundidade em Portugal”, no último programa “Da Capa à Contracapa”, uma parceria da Renascença com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

A presidente da Associação Portuguesa de Demografia refere que a diminuição do número de filhos nas famílias portuguesas está relacionada com “a precariedade laboral, a crise” e o aumento da esperança média de vida: “De uma forma até por vezes inconsciente, temos ainda tanto tempo para viver que podemos sair mais tarde da casa dos pais, ter filhos mais tarde, casar mais tarde, ser avós até mais tarde”.

A tendência é de diminuição do número de filhos por casal. Para a especialista em demografia, são vários os factores que influenciam os portugueses na decisão de ter filhos, desde motivos pessoais até questões demográficas. “Quando os indivíduos têm mais irmãos, eles tendem a ter uma família com mais filhos”, exemplifica a socióloga.

Também os quadros de referência entram em jogo nestes momentos: “Aqueles que entendem que o ideal é ter uma família mais numerosa tendem a ter mais filhos. Aqueles para quem, pelo contrário, o ideal é ter uma família mais reduzida, tendem a ter um número mais baixo de filhos”.

A família como uma entidade dinâmica

Maria Filomena Mendes e Mário Cordeiro concordam no diagnóstico: a família não está em crise, está em mudança. Para os especialistas, o dinamismo das estruturas familiares é uma realidade, o que não significa que a família esteja a falhar no seu papel social.

Para a socióloga, “a família está lá para os seus quando é preciso. Numa situação de desemprego, de doença, a família está lá para fazer parte do núcleo de suporte”.

O pediatra, autor do livro “Crianças e Famílias num Portugal em Mudança”, defende que “a ideia de pai, mãe e filhos não constitui tradição”. “A família tradicional, que é quase do neolítico, é a família alargada”, acrescenta.

O papel do Estado na mudança

Mário Cordeiro deixou alguns exemplos de políticas públicas que podem contribuir para que haja uma boa adaptação das famílias às novas realidades sociais e demográficas.

O “arrendamento, a escola pública” e o mercado de trabalho são três sectores-chave identificados por Mário Cordeiro.

Criar oportunidades para ajustar a dimensão da habitação à família e cumprir as leis laborais que beneficiam o bom funcionamento familiar são dois exemplos de acções que o Estado e as empresas podem desenvolver, segundo Mário Cordeiro.

Estes são campos em que “o legislador tem que perceber melhor a dinâmica das coisas” e em que “empregador ainda avança a passos de elefante, muito devagarinho”, defende o pediatra.

“Em Portugal, 95% das pessoas querem ter filhos ou gostariam de ter filhos”, afirma Maria Filomena Mendes. O que explica, então, os baixos níveis de natalidade? “As circunstâncias de vida, à medida que as pessoas vão progredindo na sua vida familiar, muitas vezes fazem com que essa intenção diminua”, esclarece.

A demógrafa discorda da ideia de que “as pessoas têm menos filhos por uma questão egoísta”. Para a professora universitária, a escolha “até é altruísta. Os pais querem tanto dar aos filhos oportunidade que não tiveram, ou pelo menos não diminuir o nível de vida, que muitas vezes investem em menos filhos mas muito mais emocionalmente”.

O retrato da população portuguesa

A Fundação Francisco Manuel dos Santos lançou, por ocasião do Dia Mundial da População, uma infografia com as principais estatísticas sobre a população portuguesa.

Neste documento ficamos a conhecer dados como: o número de famílias monoparentais quase duplicou nos últimos 14 anos (6%, em 1992; 11%, em 2016); mais de metade dos filhos nascem fora do casamento (53%); e o número médio de bebés por mulher é de 1,36.


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  • 13 jul, 2017 aldeia 07:56
    É moda mudarem os nomes ás coisas......coisa de "iluminados!........

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