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Domingo ordenação, segunda-feira futebol...

26 jun, 2017 - 18:22 • Olímpia Mairos

A diocese de Vila Real vai contar com dois novos sacerdotes. André Meireles e Cristofe Gomes vão ser ordenados no próximo domingo e a "lua de mel" vai ser passada a jogar à bola.

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André Meireles, 26 anos, natural de Alijó e Cristofe Gomes, 27 anos, natural de Vreia de Jales, concelho de Vila Pouca de Aguiar, vão ser ordenados no próximo domingo, por D. Amândio Tomás, na Sé de Vila Real.

A paixão de André é, “sem dúvida, o futebol”. “Quase diria vício”, mas, explica, “não é vício”. Desde pequeno se dedicou ao desporto. Os colegas sempre o incentivaram e também um professor de Moral, acrescenta André. O ter que abandonar o futebol federado quase foi um entrave para realizar o seu desejo de ir para o seminário.

“Foi o que mais me custou. Mas, por incrível que possa parecer, jogava mais futebol no seminário do que propriamente no clube. O futebol facilita o convívio. É uma maneira de vivermos de uma maneira feliz, uma maneira salutar de vivermos também os nossos dias”.

No seu tempo livre, Cristofe vê filmes e ouve música. Também joga futebol duas vezes por semana… Mas não é “tão bom como o André Meireles”, confessa. Contudo, clarifica que é um jovem “normal, como os outros” e, como jovem, gosta de “partilhar as emoções e alegrias com outros jovens” e o futebol é uma delas.

“Lá fui, sem saber o que era o seminário, nem sabia que isso existia”

André, um jovem como tantos outros, fez o seu percurso escolar e catequético naturalmente. É no final do 9.º ano, “no mês de Maio, mais precisamente”, que coloca a hipótese de ir para o seminário. Participava frequentemente na missa e, conta André que, na homilia, o padre tocava alguns aspectos que lhe faziam “arder as orelhas”… Um dia à tarde, André resolve comunicar aos pais a vontade de ir para o seminário. Os pais não contavam e “tiveram uma reacção nada esperada”.

“A minha mãe”, confessa André, “riu-se na minha cara e o meu pai esteve duas semanas sem me falar. O meu irmão disse-me literalmente que não estaria bem da cabeça”.

André não conhecia a realidade do seminário, mas lá foi com empenho e sentido de “busca”. Quando foi recebido pelo prefeito do seminário, André, ainda “antes de entrar em campo”, levou logo o “cartão vermelho”.

“Virá alguma coisa boa de Alijó?”, perguntou o perfeito. André, habituado à dinâmica do futebol, sente que no campo do jogo que ia ali iniciar algo lhe estava a escapar.

“E fui tentando perceber o por quê disso ter acontecido e, o facto é que, da minha vila, da freguesia de onde eu sou natural, o seminário de Vila Real nunca teve nenhuma vocação ao sacerdócio”, explica. Assim estava ditada a regra do jogo: “permanecer em campo”, “empenho na busca”, “compromisso com a equipa” e “marcar para a história”.

“Olha onde é que me vim meter!”

Cristofe era obrigado pela mãe a ir à missa. E ele “lá tinha que ir”. Como criança atenta, observava com “estranheza que iam todos em fila, comer aquela ‘coisinha branca’” e ele não. Cristofe, irreverente, não perdeu oportunidade e questionou a catequista e os pais. Percebeu, então, que não era baptizado. Tinha sete anos. Depois de baptizado, Cristofe faz normalmente o seu percurso cristão, como todas as crianças da sua pequena aldeia.

Entretanto, “um amigo da terra, que hoje é juiz, e que na altura andava no seminário” falou-lhe do seminário como “uma casa de família” e “um lugar de encontro com Deus”. Nesse mesmo dia, recorda, disse ao pai que “queria ir para o seminário”, mas, “sem saber o que era o seminário, nem sabia que isso existia”, lá foi. Teve “a sorte de ir com dois grandes amigos”. Lá foi, “assim, meio perdido”. Tinha 12 anos. Ia frequentar o 7º ano. Foi o irmão que o levou.

Ambos os jovens referem a caminhada de descoberta e confirmação da vocação como um “processo normal, de altos e baixos, passo a passo”. “Isto da vocação não foi um raio, não aparece assim! É através das pessoas, dos vários acontecimentos, que nos ajudaram a refletir na possibilidade de querer ser padre”, acrescenta Cristofe.

Jovens com os pés assentes na realidade

A diocese de Vila Real caracteriza-se por um acentuado despovoamento e envelhecimento. Os jovens Cristofe e André conhecem sobejamente a realidade que os espera como sacerdotes. Mas encaram o cenário com “esperança” e pretendem “desenvolver o ministério da presença”, da “presença humana, de levar o homem a Deus e trazer Deus ao homem”.

“A juventude tem debandado das nossas terras e das nossas paróquias, mas há sempre algo a fazer. O essencial mesmo é estarmos com as pessoas, conhecê-las, acompanhá-las, escutá-las e viver ao lado delas, tendo sempre Cristo como alicerce, como a Pedra Angular. Vemos assembleias envelhecidas, sim, é verdade, mas mais do que olhar para elas, é fundamental partirmos para elas”, refere André, e Cristofe acrescenta: “sou de uma aldeia, conheço bem essa realidade”.

“Somos jovens. Temos o sangue na guelra. Não estamos à espera que as coisas aconteçam, mas temos necessidade de avançar e de caminhar primeiro, de tomar a iniciativa”, acrescenta Cristofe. “Sendo jovens, também temos inúmeras coisas que queremos pôr em prática”, completa André.

Lua-de-mel a competir à bola

André Meireles e Cristofe Gomes vão ser ordenados no próximo domingo, por D. Amândio Tomás, na Sé de Vila Real. Dia de Festa e de alegria. Mas as emoções não se ficam por aqui. Os futuros sacerdotes partem no dia seguinte para a Costa Vicentina, concretamente para Santiago do Cacém, para participarem na XII Clericus Cup, torneio de futsal para padres portugueses.

Estão entusiasmados e felizes porque, diz Cristofe, “juntar mais de 100 padres, de todas as dioceses de Portugal, num local, para jogar futebol e partilhar as emoções é bom para as pessoas de lá, é oportunidade de convívio e é também um testemunho”.

André, apaixonado pela bola, entende que o “poder usufruir da 'lua de mel' com esta prática desportiva, com este convívio, que é muito saudável entre colegas, é um privilégio”. E vai, obviamente, com vontade de vencer. “É, acima de tudo, convívio, mas há também uma grande competitividade”. E remata dizendo que “é importante vivermos nesta comunhão eclesial”.

O torneio vai decorrer no pavilhão desportivo municipal de Santiago do Cacém e no pavilhão do JAC (Juventude Atlético Clube). Em campo vão estar equipas de Viana do Castelo (campeões da última edição), Braga, Porto, Vila Real, Lamego, Viseu, Guarda e Vicentinos/Alentejo.

A entrevista foi transmitida no espaço das 12h, na Renascença, que às segundas-feiras destaca os temas sociais e relacionados com a vida da Igreja.

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