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"O Juiz". A primeira biografia de Carlos Alexandre, um homem que "carrega uma carga de tensão"

05 jun, 2017 - 18:06 • Liliana Monteiro

As jornalistas Inês David Bastos e Raquel Lito assinam uma biografia que o "super-juiz" disse não merecer. Mas isso não impediu o juiz de se reunir com as autoras e passar-lhes informação.

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Foi o responsável pela prisão preventiva de José Sócrates e Ricardo Salgado. "Super juiz", "maçanico", "workaholic" são formas e epítetos com que alguns descrevem o juiz Carlos Alexandre no livro " O Juiz", a primeira biografia deste homem-forte da Justiça em Portugal, que há mais de uma década dirige o Tribunal Central de Instrução Criminal.

As jornalistas Inês David Bastos e Raquel Lito correram o risco de tentar responder à pergunta muitas vezes lançada pelo cidadão comum: "Quem é Carlos Alexandre?" Na obra, dizem as próprias autoras, "nunca" tomam partido ou posição: "Nós colocamos no livro o que diz quem gosta e quem não gosta", explicam.

Carlos Alexandre "é uma pessoa integra e obsessivamente integra. É um homem muito simples, não tem vida a não ser o trabalho, completamente 'workhaolic'. Não está mais que cinco dias fora do gabinete e até durante as férias e fins-de-semana leva trabalho para casa, leva as escutas para ler. Ele vê o trabalho como uma missão", contam.

O "super-juiz" está no Tribunal Central de Instrução Criminal há mais de uma década e já recusou a promoção para o Tribunal da Relação de Lisboa. "Ele sente uma adrenalina grande no TCIC que está convicto que não terá no TR. Ele gosta do trabalho, dos processos e das funções inerentes ao juiz de instrução, que é quem aplica as medidas de coacção. Não é ele que acusa. Ele é o juiz dos direitos, liberdades e garantias. Talvez se tenha viciado na adrenalina do TCIC."

"A esmagadora maioria dos advogados não gosta dele", mas "reconhecem-lhe competência. Em muitos casos, a forma de interrogar deste juiz leva o arguido a pensar que o juiz será benévolo na medida de coacção se o arguido colaborar. Muitas vezes, os advogados aconselham o cliente a não falar e os arguidos, muitas vezes ,não seguem essa recomendação porque receiam ser prejudicados. E muitos dos arguidos são de uma certa elite da sociedade. E isso choca com o trabalho dos advogados", sublinham.

Os arguidos também não gostam de ser interrogados por este juiz. "Acham que ele tem sempre algo contra os poderosos e já vai para a sala de interrogatórios com ideia de anti poder politico e económico."

As autoras arriscam mesmo fazer uma comparação: "Em pólos opostos, o impacto que Carlos Alexandre tem é semelhante à figura de José Sócrates na sociedade. São duas personalidades obstinadas, mas que a sociedade não consegue ficar no meio termo: ou se gosta ou se critica." Assim, muitos dizem que Carlos Alexandre "ou é adorado ou é odiado".

O juiz Carlos Alexandre é originário de Mação e, por isso, "é tratado como maçanico".

"É um homem poupado que não gosta de receber, nem de dar prendas. Origem humilde: filho de um carteiro e de uma operária. Tem mais dois irmãos. Começa a trabalhar cedo para pagar os estudos." Ines e Raquel revelam que "foi carteiro e vigia florestal, durante os longos turnos da noite levava um dicionário e era aí que tentava enriquecer o vocabulário. Ele é muito palavroso".

Embora mantenha em segredo a muita informação de que é detentor e não fale do trabalho e das decisões que toma, é na terra-natal que, ás vezes, tem as reacções mais directas. "Alguns socialistas, na altura em que decretou a prisão preventiva a Sócrates, reagiram. Mandavam 'bocas' no café, que era uma espécie de hemiciclo. Quando o próprio ou amigos do próprio entravam, havia comentários."

Foi em Mação que as autoras ouviram falar de um ‘católico fervoroso, amigo do padre, homem que participa nas procissões. Quando vai a Mação, "o padre é como um psicólogo, um porto de abrigo".

Super juiz?

Carlos Alexandre "não gosta mesmo que lhe chamem" super-juiz, "mas tem noção que os seus poderes são grandes e importantes e de enorme responsabilidade. Acha que ao chamarem isso aumentam os atritos com a classe".

Os amigos dizem que ele tem perdido vitalidade, alegria e tem feito menos jantaradas, embora "continue a ser apreciador de petiscos". As autoras do livro "O Juiz" contam que "‘adora tascas de petiscos baratinhos, de oito ou nove euros".

O juiz não se opôs à publicação deste livro biográfico. Disse, apenas, que não era merecedor de tal trabalho, mas acedeu a encontrar-se algumas vezes com as duas jornalistas para lhes ceder informação unicamente biográfica.

E que imagem ficou desses encontros? "Há uma carga de tensão que este juiz carrega. Há um excesso de cuidados. Ele adora falar, mas teve de reduzir isso. Olha por cima do ombro constantemente. Está sempre atento aos comportamentos de quem está à sua volta. Tem uma obsessão em seguir uma vida correta para não ser apanhado em falso."

Comentários
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  • mendes
    06 jun, 2017 braga 11:10
    enfrentar mafias e politicos e sempre um perigo para quem o faz -infelizmente neste pais ha poucos homens honestos prontos para arriscarem a vida contra mafias e politicos -lembro me de sa carneiro amaro da conta pinheiro de adevedo agora este juiz e poucos mais -que deus proteja aqueles que arriscam a vida para bem do povo e da humanidade
  • Lv
    05 jun, 2017 Lx 23:07
    A criatura sem amigos, apenas lhe restam uns jornaleiros/as e um tal procuradeiro corrupto e seu financiador!

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